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O adeus de um repórter criativo

Edison Motta nasceu para ser jornalista. Repórter que não se vê mais...

Ademir Medici
28/07/2015 | 07:00
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EDISON MOTTA

(São Paulo, 17-2-1953 – Santo André, 27-7-2015)

A segunda-feira mal começa e o telefone toca, com um jeito que me intriga. Pressentimento besta aquele. Mas aconteceu, acreditem. Foi ontem. Era a jornalista Sonia Nabarrete.

- É sobre o Edison Motta, né?

Edison Motta nasceu para ser jornalista. Repórter que não se vê mais, nesses tempos malucos onde tudo é informatizado. Ele gostava de estar no local dos acontecimentos. Não era só apurar a notícia. Era participar dela. Seu lema: ir além, praticando os ensinamentos americanizados do lead, sim, mas, sobretudo, insistindo no item dos porquês. Exemplos são inúmeros.

- A queda de um Cessna na Serra do Mar na véspera chuvosa de um dia 31 de janeiro de... 1972 ou 1973. Toda a imprensa deixando as viaturas dos seus jornais no asfalto do Caminho do Mar e seguindo a pé pelo terreno pantanoso. Edison, com um gravador, registrando a geografia do lugar.

- O potrinho perdido em rua próxima à da Redação, na Catequese. Edison segurando o animal por um arreio improvisado, atravessando a Praça Cívica e levando o pobre bicho até o Paço, exigindo providências do prefeito – tudo fotografado pelo saudoso repórter-fotográfico João Colovatti.

- As crises da Fundação ABC – a nossa Fuabc. Bloco de anotações a tiracolo, Edison invadindo o campus e fazendo um rebuliço para mostrar que o Diário estava presente.

- Houve um momento em que nasceu o Correio Metropolitano, com todas as bossas da modernidade para concorrer – e tentar fazer frente – ao Diário já consolidado. Equipamento moderno, uma equipe de profissionais de primeira – a maioria recrutada no próprio Diário. De repente, uma notícia que o Correio daria no dia seguinte e que o Diário não havia apurado. Edison não titubeou. Telefonou para o Onofre Leite, secretário de Redação do concorrente, obtendo os dados que precisava para que o Diário não fosse furado no dia seguinte.

- A notícia de uma intoxicação em escola de São Bernardo. Vários alunos internados no PS Municipal. Lá vai o Edison, noite avançada, apurar o que de fato aconteceu. Encontra o secretário de Governo, advogado André Avelino Coelho, tão perspicaz quanto o jornalista. A notícia vai manchar o governo municipal. Edison houve atentamente os argumentos do interlocutor. E produz um texto sensacional, manchete do dia seguinte.

MEMÓRIA

Edison Motta pensou a História do Grande ABC a partir da urbanização regional – e não apenas a partir da Vila de Santo André da Borda do Campo, de João Ramalho, o que era praxe. Em uma reunião de pauta inesquecível, pensou na série A história dos bairros, iniciada em 1976, na qual ele acrescentou: (a história dos bairros) ‘é fascinante’. Foi a origem do Prêmio Esso que viria no mesmo ano – e a própria origem desta página Memória, que fazemos desde 1987.

Em 1978, quando o Diário completou 20 anos, foi lançado um suplemento especial sobre a data. Entrevistamos diretores, editores, repórteres. Edison, jovem de tudo, contou a sua história, que jamais imaginamos incluir no seu obituário. E o texto foi reproduzido, já ontem, no Diário On-Line.

- Em São José dos Campos, onde morava aos 15 anos, Edison Motta criou o Avanço Juvenil, um jornal impresso em mimeógrafo e distribuído pelo Correio para várias partes do Brasil.

- Depois veio para o Grande ABC e, em São Bernardo, começou a auxiliar na edição do Expositor Cristão, jornal oficial da Igreja Metodista.

- Ainda muito jovem teve uma primeira passagem pelo Diário. Fixou-se no jornal no primeiro semestre de 1972.

- Galgou posições, de repórter a editor da Geral (hoje Setecidades). Atuou também na área da reportagem política, revezando-se com o jornalista Aleksandar Jovanovic em uma coluna diária sobre o tema na página dos editoriais.

PRÊMIOS

No Diário, Edison Motta conquistou mais dois prêmios, além do Esso, pela cobertura dos 70 anos da imigração japonesa ao Brasil, em 1978, que o levou a uma viagem ao Japão, e o São Bernardo de Jornalismo, instituído pela Prefeitura de São Bernardo na Administração do prefeito Tito Costa (1977-1982).

Edison Motta foi também correspondente no Grande ABC do Jornal do Brasil e atuou em jornais como a Folha de S.Paulo. Ultimamente trabalhava no governo do Estado, prestando assessoria de imprensa à Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado) na área do Poupatempo.

Arguto, investigativo, preocupado com o Grande ABC, Edison Motta tinha livre trânsito em várias áreas, o que o levou a produzir reportagens importantes e artigos analíticos sobre política e economia.

A última homenagem recebida foi em junho de 2008: uma placa de honra ao mérito pela conquista do Prêmio Esso, entregue sob as vistas do companheiro Daniel Lima durante a festa do 15º Prêmio Desempenho da Editora Livre Mercado.

O ADEUS

A partida de Edison Motta: foi esta a notícia dada por Sonia Nabarrete, nossa companheira de Diário nos tempos da casinha do “outro lado” da Catequese. Edison parte aos 62 anos, depois de lutar bravamente, no Hospital Brasil, contra um câncer descoberto no decorrer da internação, ocorrida em 1º de maio.

Seu corpo está sendo velado no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, na Vila Curuçá, em Santo André. Ali será sepultado hoje, às 9h15.

Edison Motta deixa os pais, Walter Motta e Gerusa do Nascimento Motta, ambos com 85 anos. Deixa os filhos Pedro, 31 anos; Igor, 30; e Camila, 22. Deixa também vários casamentos. Estava casado com Eva Mendes Rigueira.

Diário há 30 anos

Domingo, 28 de julho de 1985 – ano 28, nº 5888

Manchete –ICM da Petroquímica União vai ser definido esta semana: 67% da área da empresa fica em Mauá

São Caetano – A cidade busca mais receita aos 108 anos.

- Estrangulado, o município vê o comércio crescendo e a indústria diminuindo.

Esportes – Santo André ratifica o título dos Jogos Regionais: hexa com 189 pontos; São Bernardo, em segundo lugar, com 129.

Educação – No Primeiro Congresso de Educação, realizado em São Bernardo, educadores lançam manifesto à Constituinte.

Em 28 de julho de...

1915 – Raphael Pellegrini, morador de Santo André, é ferido pela italiana Josephina Mica. Recupera-se na Santa Casa local, onde foi atendido pelo médico Christovam da Gama.

Nota – Trata-se do primeiro ou de um dos primeiros atendimentos do gênero no recém-criado primeiro hospital local.

- A guerra. Do noticiário do Estadão ‘Sucesso italiano na margem esquerda do Isonzo’.

1930 – Recrudesce a situação política brasileira com o assassinato de João Pessoa, presidente (hoje seria governador) da Paraíba e candidato derrotado à vice-presidência da República, na chapa de Getúlio Vargas (presidente-governador do Rio Grande do Sul).

João Pessoa foi assassinado a tiros em Recife, quando tomava chá com amigos na Confeitaria Glória. O crime aconteceu em 26/7/1930 e o autor foi João Duarte, da Paraíba, que disparou seis vezes.

NOTA – O episódio terá influência decisiva no fim da chamada República Velha, ainda em 1930.

1970 – Prefeito Oswaldo Massei, de São Caetano, lança a pedra fundamental de um novo viaduto sobre a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí.

- Dom Jorge Marcos de Oliveira, bispo diocesano de Santo André, celebra missa campal comemorativa ao aniversário da cidade.

- Vereador Fábio Ventura profere conferência na Câmara como orador oficial dos festejos de São Caetano.

1975 – Fiscais municipais reúnem-se com os 32 chacareiros do Parque Novo Oratório, em Santo André, e os obrigam a seguir normas sanitárias no uso da água das suas hortas. Através de intérprete, os lavradores alegam desconhecer as exigências higiênicas, pois chegaram há pouco do Japão.

Hoje

- Dia do Agricultor

- Dia Nacional do Diretor de Escola

Santos do Dia

- Décio

- Eustádio

- Mártires da Tebaida, Nazario e Celso

- Sansão

Municípios Paulistas

- Aniversariam: São Caetano e Cristais Paulistas. 




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