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Os três presidentes são quatro
Carlos Brickmann
01/07/2015 | 07:10
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A presidente da República viajou para os Estados Unidos. Em seu lugar, na Presidência, ficou o vice Michel Temer (PMDB). O ex-presidente Lula viajou a Brasília e, como se presidente fosse, convocou as bancadas do PT para definir estratégias políticas, e admoestou ministros da outra presidente, a que está ‘ausenta’. Três presidentes; e nenhum presidente. Onde há três mandando, quem manda?

Lula disse a Dilma para negociar ‘politicamenta’ (ou seja, trocando cargos e verbas por apoio). Dilma delegou a Temer as negociações. Temer fez os acordos necessários para conseguir apoio. E Dilma não honrou as promessas. Parlamentar que foi enganado é muito mais bravo que o que não fez acordo. Dilma vai perdendo votações sucessivas – e algumas derrotas são desastrosas para o País.

E daí? Daí a arrecadação do ICMS caiu 5,9% de janeiro a maio, com relação à do mesmo período de 2014, que já havia sido fraca. A queda do ICMS significa que compras e vendas estão em crise; que produção e empregos se reduzem. A queda se acelera: se, em vez de janeiro a maio, a comparação for feita em 12 meses, a queda será de 3,5%. É catastrófica; já piorou; pode piorar mais.

Um ótimo romance de Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros, tem uma característica interessante: os três mosqueteiros, Athos, Porthos e Aramis, são quatro, já que D’Artagnan se junta a eles. No Brasil, os três presidentes também são quatro: além de Dilma, Temer e Lula, há o juiz Sérgio Moro, que, de sua Vara de 1ª Instância, em Curitiba, governa e manda muito mais do que os três outros.

O caminho das pedradas
César Maia, ex-governador, ex-deputado, ex-secretário de Estado, é mais conhecido com bom analista político. E sua análise prevê tempos difíceis: afasta a possibilidade de impeachment de Dilma, mas admite que ela se licencie, ou que sejam reduzidos seus poderes, ou seu mandato, “com a demonstração de que perdeu a capacidade ou a condição de governar”.

Este pode ser o motivo pelo qual o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, insiste em recolocar o parlamentarismo em pauta: para ter saída política imediata caso se torne necessária. “Ninguém pensa em qualquer ação de força”, diz Maia. “Mas os vetores econômico, moral e social criam ambiente insustentável. Dilma já não tem maioria dentro do PT. Lula também quer mudanças”. A maioria governista se esfacela. E isso deve consumar-se, acredita, num prazo curto: até dezembro, talvez.

Fato histórico
Em 1919, o vice-presidente Delfim Moreira assumiu provisoriamente no lugar de Rodrigues Alves, que morreu de gripe espanhola, e convocou eleição (que levou o paraibano Epitácio Pessoa à Presidência). A arteriosclerose deixou Delfim Moreira mentalmente incapacitado em seu curto mandato. Quem governou em seu lugar foi o ministro da Viação, Afrânio de Mello Franco.

Relendo os jornais
Título de reportagem de Jamil Chade, de O Estado de S.Paulo, em 5 de fevereiro de 2015: “Em 2012, primeiro-ministro da Grécia pediu conselho a Lula e Dilma sobre economia”. Alex Tsipras, da coligação Syriza, que acabou chegando ao poder, veio ao Brasil especialmente para aprender com ambos. Pois é.

O pastor e suas ovelhas
O deputado Pastor Eurico, do PSB de Pernambuco, um dos líderes da bancada evangélica, foi escolhido relator da proposta de emenda constitucional do também evangélico Cabo Daciolo, eleito pelo Psol do Rio, que muda o primeiro parágrafo da Constituição: em vez de “todo o poder emana do povo”, ficaria “todo o poder emana de Deus”. Proposta absurda: para quem não acredita que o poder emana de Deus, são palavras vazias; para quem acredita, inúteis. Mas veja quem assina a proposta que fere o caráter laico do País: Bruno Covas (PSDB-SP), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Paulo Pimenta (PT-RS), Paulo Maluf (PP-SP).




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