A pergunta que dá título a estas linhas surge da perplexidade causada pela notícia de que família de paciente de 20 anos precisou recorrer à Justiça para interná-lo em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), assim como determinava a recomendação médica. O episódio, noticiado com exclusividade por este Diário, ocorreu em São Bernardo, terra bastante conhecida pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, que por muitos anos dirigiu a área no município. Fica praticamente impossível não questionar: que País é este?

E daí que a Constituição da República, aprovada em 1988, garante que a Saúde é direito inalienável do cidadão e obrigação do Estado? O brasileiro está tão acostumado a ser desrespeitado que acaba se esquecendo de que deveria receber em contrapartida cada centavo dos escorchantes impostos que paga aos governos, sejam eles municipais, estaduais ou federal.

É exemplar a atitude da família de Lucas de Sousa Santos, 20 anos, que recorreu aos tribunais para garantir que o paciente, com paralisia cerebral, deixasse a maca que ocupava no corredor do Hospital Central de São Bernardo para receber a atenção intensiva de que precisava. No entanto, a Prefeitura, a quem caberia executar a decisão judicial, levou 48 horas para cumpri-la – e, apesar da demora, fê-la sem comunicar os parentes do jovem, em atitude que só torna a história mais desumana e lamentável.

Enquanto isso, como se uma coisa não tivesse nenhuma relação com a outra, o MEC (Ministério da Educação) atrasa ainda mais o processo de formação de novos médicos, ao adiar a divulgação da lista de faculdades escolhidas para ministrar cursos de Medicina em São Bernardo e Mauá. A demora, que também está sendo noticiada nesta edição, não deveria surpreender ninguém. Afinal, não muito tempo atrás, a principal liderança política do País disse que a estrutura de atendimento mantida pelo governo por meio do SUS (Sistema Único de Saúde) era tão boa que dava “até vontade de ficar doente para ser atendido”. A personagem em questão, ironia das ironias, mora em São Bernardo.