Economia Titulo Emprego
Grande ABC elimina 3.838 postos de trabalho em abril

Em 12 meses, saldo negativo é 21,2 mil vagas; desemprego é puxado pela retração na indústria

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
23/05/2015 | 07:19
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


O Grande ABC cortou 3.838 postos de trabalho em abril, o equivalente a quase 128 por dia, apontam dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Desde janeiro, o saldo negativo nas sete cidades é de 9.065 vagas, enquanto 21.297 pessoas ficaram desempregadas no acumulado de 12 meses.

Para se ter ideia do agravamento da crise na economia e o impacto na região, em abril de 2014 o saldo ficou negativo em 163 vagas. Em 2013, estava positivo, com 3.247 contratações. Considerando o primeiro quadrimestre do ano passado, 620 postos formais foram fechados.

A indústria foi a principal responsável pela retração na geração de empregos do Grande ABC, com 2.139 cortes em abril (55,7% do total). Em seguida configuram os setores de serviços, com 1.270 demissões (33,1%), e comércio, que dispensou 424 trabalhadores (11,5%). Apesar de o ramo industrial ser o campeão de demissões na região, a participação do setor no total de eliminação dos postos com carteira assinada diminuiu. Isso porque, entre janeiro e abril, o peso do segmento no saldo negativo foi de 61,5% e, no acumulado de 12 meses, chegou a 78,4%. De maio de 2014 até o mês passado, 16.709 industriários tiveram os contratos de trabalho rescindidos.

O coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, enxerga tendência de elevação no nível de desemprego nos próximos meses. Ele avalia que as dispensas são consequência da política de corte de gastos adotada pelo governo federal. “Houve queda de demanda por parte do poder público à indústria. Como o Grande ABC é muito forte nessa área, acaba sendo bastante afetado.”

O professor de Economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Volney Gouveia acrescenta que a restrição ao crédito também influencia nas demissões na indústria, já que o consumidor final enfrenta mais dificuldade para adquirir produtos e, assim, o setor produtivo sofre com a queda de vendas.

Gouveia alerta que as medidas tomadas por algumas montadoras para ajustar a produção sem dispensar trabalhadores – como o afastamento de funcionários – indiretamente impulsionam o desemprego no setor. “A indústria de autopeças, por exemplo, que fornece para essas empresas, é obrigada a demitir em razão da redução na demanda.”

Outra consideração feita por ele é o fato de o aumento no desemprego ter potencial para estagnar o crescimento da inflação, pois, com a diminuição da renda da população, o mercado tende a reduzir os preços praticados.

O diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Hitoshi Hyodo, faz críticas ao governo federal em razão do aumento de impostos federais. “O ajuste fiscal está baseado muito mais na arrecadação, aumentando a carga tributária, do que em redução de despesas.”

O empresário estima que o nível de emprego no setor deve se manter baixo pelo menos até o ano que vem. “Não estamos vendo nenhuma ação em curso que possa refletir em consequências positivas para 2016.” O último relatório trimestral informe conjuntural da CNI (Confederação Nacional da Indústria), divulgado em abril, mostra que a previsão é de que o PIB (Produto Interno Bruto) do setor fique negativo em 3,4% em 2015.


São Bernardo registra maior quantidade de demissões na região

A maior parte dos cortes de postos de trabalho com carteira assinada no Grande ABC foi registrada em São Bernardo, cujo saldo negativo foi de 1.987 vagas em abril. O município também lidera o ranking nos levantamentos do acumulado do ano em (-5.409) e em 12 meses (-12.152).

O diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Hitoshi Hyodo, avalia que a cidade é a mais afetada por possuir maior quantidade de indústrias. No município, o setor eliminou 733 postos de trabalho em abril e 6.689 em 12 meses.

A segunda cidade com mais demissões foi Diadema (704 em abril), município que também apresenta forte industrialização.

SUSPENSÃO - O próximo levantamento do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) deverá apontar crescimento ainda maior no número de dispensas. Isso porque, em maio, cerca de 1.500 trabalhadores, entre metalúrgicos e borracheiros, foram colocados em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho).

Apesar de esses funcionários não terem sido oficialmente demitidos, eles entram para o cadastro de desempregados por conta da suspensão do contrato. Caso voltem às fábricas, serão novamente incluídos na lista de admissões. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;