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Forró é o estilo musical oficial do Jardim Represa

Bairro periférico de São Bernardo tem rádio comunitária e programa dedicado ao tradicional ritmo nordestino

Natalia Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
19/05/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O forró é o ritmo oficial do Jardim Represa, em São Bernardo. Isso porque canções do estilo musical típico da região Nordeste do País embalam moradores da área periférica de São Bernardo. A paixão é tanta que a rádio comunitária local, Represa FM, disponível na frequência 87,5 do aparelho, oferece diariamente programa dedicado ao tema em sua versão romântica.

O radialista Val Ferreira, 35 anos, é criador do programa Forró Romântico, que completa um ano de existência hoje. Entre 18h e 19h, moradores não só do Jardim Represa, como também do Parque Los Angeles, Royal Park, Canaã e Riacho Grande, têm oportunidade de acompanhar programação emocionante. “Começo com a oração da Ave Maria, tenho dois quadros (Momento Saudade e Minutos de Sabedoria) e, é claro, a participação dos ouvintes por telefone, e-mail, WhatsApp ou Facebook”, afirma Val.

Apesar de ser formado radialista desde 1998, Val ainda não consegue ter na profissão sua única fonte de renda. “Atuo com comunicação de uma forma geral. Faço trabalhos para redes de lojas”, diz o profissional, natural de Jardim, no Ceará. “O rádio é minha paixão, sempre sonhei em ter um programa, falar para o povo. Tenho grandes mestres na profissão, como o Eli Correa, o Robson Ramos e a Claudia Martins”, lembra.

Em apenas um ano de projeto, o programa Forró Romântico já rendeu frutos. Um deles conquistado no início do mês, quando Val foi convidado a representar a Rádio Represa FM na gravação do DVD do cantor Batista Lima, em Salgueiro, Pernambuco, e teve a oportunidade de apresentar seu programa de lá, ao vivo. “Foi um momento muito especial e um grande desafio pelo fato de não ter muito recurso e quase nenhum apoio”, afirma.

Entre as metas do radialista está conhecer seu público e saber qual é a sua audiência. “Temos esse desafio de entrar nos bairros e obter mais informações sobre nossos ouvintes”, comenta. Para fidelizar os moradores, Val preza pela escolha de músicas de qualidade. “Só toco música romântica. A letra tem de ser boa. Não coloco músicas que tenham duplo sentido, porque temos famílias ouvindo”, destaca.

Para comemorar um ano de seu programa, Val fará lançamento de CD com as dez mais pedidas da programação, entre elas canções de bandas tradicionais do forró, como Limão com Mel e Bonde do Brasil, até composições de artistas locais, como é o caso do cantor Robinho, morador do bairro. “Nossa ideia é que o projeto cresça. Que a gente possa inovar e eu não tenha mais que me dividir entre as funções de apresentar, atender o telefone, cuidar da produção, da técnica”, brinca.

Cantor local é um dos mais pedidos
Há 11 anos, a música romântica é o ganha-pão de Robson Messias, 27 anos, mais conhecido como Robinho. O morador do Jardim Represa é um dos orgulhos do bairro. Prova disso é o fato de uma das canções de seu novo CD, chamado Desde o Começo, estar entre as mais pedidas na programação da rádio comunitária Represa FM. O forró apaixonado 365 Dias fala de um amor dedicado e compulsivo durante todo o tempo. “Já equacionei/Já subtrai/Já multipliquei e somei você a mim/Agora o amor já nos encontrou/Pra sermos felizes pra sempre”, diz o refrão.

A paixão pela música e o romantismo são características herdadas da década de 1990, revela Robinho. “Gosto de cantar desde os 5 anos e minhas influências musicais são Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, sem esquecer de Luiz Gonzaga, que é o Rei do Forró”, destaca.

Segundo ele, a carreira como cantor e compositor aconteceu por teimosia. “Também poderia ter sido jogador de futebol, porque tinha futuro, mas tive um grave acidente, passei por várias cirurgias no joelho. Foi um sinal”, considera.

Robinho começou a tocar na noite aos 13 anos e, desde então, não parou mais. “Já cheguei a fazer três shows no mesmo dia. É cansativo, mas faz parte. Em média, uma apresentação com banda custa R$ 800”, explica. Para o cantor, sua missão é cativar as pessoas com suas histórias. “Sempre digo que sucesso é diferente de reconhecimento. Porque reconhecimento é para a vida toda. Amanhã ou depois vou embora e a música fica.”

Para o profissional, que dá aulas em escolas de música para poder complementar a renda, falta reconhecimento à classe artística. “Não recebemos direitos autorais pelas músicas visualizadas no YouTube, por exemplo, só pelo tempo tocado em rádio”, destaca.

As dificuldades do dia a dia e também a cobrança por parte da família por um emprego estável chegam a desanimar, mas não o fazem desistir de seguir seus sonhos. “É minha vocação. Tive de bater o pé. Não me vejo trabalhando em fábrica”, comenta o cantor, que está no quinto CD da carreira, sendo o primeiro solo. Antes ele tinha uma dupla com a irmã, mas “não deu certo.”

Morador mantém tradição do cordel
A Peleja de um Feio Pra Casar, Lampião no Facebook e Frank Aguiar, a Estrela de Itainópolis são apenas alguns dos 21 títulos escritos pelo poeta, compositor e cordelista Antônio Leite, 46 anos, morador do Jardim Represa há 28. A literatura de cordel é o passatempo favorito do artista, natural de Bonito de Santa Fé, na Paraíba, e que, assim como muitos nordestinos, migrou para São Paulo em busca de melhores oportunidades.

A arte de colocar no papel, em forma de poesia, histórias do cotidiano, é algo feito por Leite desde criança. Segundo ele, os cordéis eram seus gibis na infância. “No Nordeste isso é um vício. Tem que ser poético, rimado e com texto fácil e gostoso de ler”, considera.

A produção de um livreto de 15 páginas demora cerca de um mês, revela o artista. A primeira tarefa é encontrar o tema a ser abordado e, depois, deixar fluir a imaginação para criar a história, de caráter cômico. “Procurei ser diferente e a comédia é o que mais me atrai”, diz.

Depois de escrita, a obra ganha ilustrações feitas por um amigo e é impressa para ser distribuída à comunidade. Dois dos trabalhos ganharam destaque e foram lançados por editora: Velório no Cabaré, pela editora Luzeiro em 2011, e o mais recente projeto, Lampião no Facebook, pela editora Magazine Gibi.

Casado e pai de duas filhas, Leite diz que seu principal objetivo é conseguir viver de sua arte. Há 23 anos, ele trabalha em uma empresa do ramo metalúrgico para sustentar a família. “Tenho fé que um dia viverei só da poesia e das minhas músicas”, acredita ele, que também é compositor de canções românticas. Inspirado pelo amor, aos 14 anos teve sua primeira música gravada por um grupo de forró.

Leite se orgulha ao dizer ainda que uma de suas composições, em parceria com o parceiro e vizinho Robinho, O Livro, é um dos maiores sucessos da banda Limão com Mel. “É muito emocionante ver as pessoas cantando aquilo que você escreveu. Foi uma letra feita em mais ou menos 15 minutos, mas que tem muita verdade depositada”, define. O clipe oficial da canção, que fala de um romance nascido na infância e mantido ao longo dos anos, já teve 196,4 mil visualizações no YouTube.




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