Se você, leitor, reside no Grande ABC muito provavelmente não tem motivos para comemorar a data de hoje, feriado do Dia do Trabalho. A não ser que seja um dos 21 vereadores de Diadema. Como se a cidade fosse oásis de equilíbrio financeiro em meio a deserto de incertezas econômicas, a Câmara aprovou ontem, por unanimidade, acréscimo de 7% no salário dos legisladores. O próximo contracheque de suas excelências já virá exibindo o novo valor, R$ 10.192,10.

O aumento salarial autoconcedido pelos senhores edis é, em primeiro lugar, inoportuno. Afinal, a cidade ainda se recupera da greve de 13 dias realizada pelos servidores municipais para pressionar o prefeito Lauro Michels (PV) a melhorar a proposta original de corrigir em 3,5%, abaixo da inflação anual, os vencimentos da categoria. Diante do argumento de que os cofres do Executivo não tinham dinheiro, os trabalhadores cruzaram os braços.

Somente com muito esforço, e à custa de prejuízo na prestação dos serviços para a população, a paralisação deu resultado. Lauro prometeu aumentar os salários dos funcionários públicos em 7,89%, divididos em seis parcelas. Insensíveis à crise econômica que obriga os brasileiros a apertarem o cinto, os vereadores diademenses, que possuem a prerrogativa de engordar os respectivos holerites, não consumiram dez minutos para golpear o bom-senso. Escarnearam a sociedade.

A conta, evidentemente, será encaminhada ao contribuinte, que terá de suar mais para arcar com os impostos que abastecem os cofres de onde saem os salários dos vereadores. Isso significa que suas excelências farão trabalho extra? Não. Haja vista o que ocorreu na própria sessão de ontem. Como tinham de legislar em causa própria, deixaram para depois a indicação dos nomes que vão compor a CPI da Tecnisa – criada para apurar por que grande empresa simplesmente ignorou acordo com a Prefeitura para construir via pública como contrapartida à licença de instalação de condomínio residencial no bairro Piraporinha. Esqueceram-se da população. A população vai se esquecer deles?