Diarinho Titulo
África: Um continente de muitos contrastes
Nayara Fernandes
Especial para o Diário
23/05/2010 | 07:35
Compartilhar notícia


São tantos países espalhados pela Terra que, às vezes, não dá para saber onde ficam. Quando ouve-se falar de Egito e Marrocos, por exemplo, a gente nem lembra que pertencem à África. Esse é o continente com o maior número de territórios, formado por 54 países. Seu formato lembra o mapa do Brasil, e há milhões de anos a área estava unida com o Leste da América do Sul, quando os seis continentes formavam um só, a Pangeia. Foi na África que surgiu a espécie humana.

É a área menos desenvolvida do planeta e a de maior desigualdade social. Há poucas indústrias, e a maioria vive da terra. Foi explorada pelos colonizadores. Até a metade do século 15, os africanos eram livres. Isso mudou com a chegada dos europeus.Eles viraram escravos, enquanto seus ‘donos' ficaram ricos com os minérios. Tudo era uma confusão, até que em 1885 o território foi dividido entre Inglaterra, Espanha, Portugal e França. Bélgica, Alemanha e Itália também ficaram com pequena parte.

Por quase 500 anos, a África foi dominada por eles. Gana foi o primeiro a se tornar livre, em 1957. Nas décadas seguintes, os outros conseguiram o mesmo. Apesar da independência, os países enfrentam muitos problemas. Seus habitantes sofrem com a fome, a Aids, o analfabetismo, a mortalidade infantil. Em geral, a fome é provocada pela seca e a baixa produtividade da agricultura. Além disso, muitos africanos ainda brigam entre si pela posse das terras.

Saiba um pouco sobre este continente que sediará a Copa do Mundo, em junho, e confira mais nas duas próximas edições do Diarinho.


Angolanos adoram o Brasil
Não é simples mudar de país, até quando se fala o mesmo idioma. Os irmãos Daniela Gonçalves Pereira, 9 anos, e Nelo Evaldir Dias dos Santos, 13, vieram de Luanda, capital de Angola (onde se fala português), para São Bernardo. "Quando cheguei, foi difícil fazer amigos. Sentia muitas saudades da minha família", conta Dani.

Nelo teve mais facilidade. Apaixonou-se por futebol, tornou-se fã do Ronaldinho Gaúcho e, segundo ele, deixou de ser perna de pau. "Em Angola, não gostava de jogar. Agora aprendi com meus amigos e passei a gostar do esporte", diz o menino, que torce pelo Corinthians.

Aqui, curtem as mesmas brincadeiras de Luanda, como esconde-esconde e queimada. Há muitas semelhanças entre a cultura dos dois países. Os brasileiros, segundo Dani, são alegres e gostam de cantar e dançar, como os angolanos. "Mas acho que nossa dança é mais bonita."

Angola é rica em diamantes e petróleo, mas o povo é pobre. Foi colonizada pelos portugueses e ficou independente em 1975. Até 2002, o país vivia em guerra por causa da divisão de terras.


Escolas ensinam sobre cultura africana
A África tem sido o assunto mais comentado na EE José Piaulino, em Diadema, desde o início do ano, quando começou o projeto relacionado à Copa Africana. "Mesmo sendo um povo cheio de problemas, os africanos são alegres e estão sempre cantando e dançando", conta Amanda Silva dos Santos, 11 anos. Eles aprenderam que os africanos influenciaram a culinária brasileira. Os escravos trouxeram vários ingredientes que usavam lá, como leite de coco e azeite de dendê. "Não sabia que a feijoada foi inventada por eles, que aproveitavam os restos do porco servido ao patrão", diz Mauro Henrique Abrantes, 11.

A turma ficou surpresa ao descobrir que, mesmo sendo um continente tão pobre, muitos países têm reservas de ouro e diamantes; porém, foi mais surpreendente saber que cinco países africanos falam português. "Só que o sotaque é bem diferente", completa Bianca Aquino da Silva, 12. Mas não é só na Piaulino que há aulas sobre a África. Desde 2003, uma lei obriga as escolas a ensinarem história e cultura afro-brasileira.

Fome, doenças e falta d'água atingem a África
A África é um continente grande e cheio de problemas. Mesmo sendo rico em minerais e petróleo, a maioria dos africanos é bem pobre e vive com menos de R$ 1 por dia. A fome, a pobreza e as doenças já mataram milhões de pessoas nas últimas décadas. Quem não morre, sofre com o problema. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 200 milhões de africanos são atingidos pela fome. Esse número representa quase um quarto da população do continente, cerca de 900 milhões.

Para 40% dos africanos também falta água potável e condições sanitárias adequadas (como esgoto que evita a proliferação de doenças). Essa condição básica é uma das causas de morte na infância. Todos os dias morrem 4.500 crianças no mundo por falta de saneamento e acesso à água potável, que causam diarréia e doenças infecciosas.

Lá a Aids já matou mais de 17 milhões de africanos nos últimos anos. O primeiro caso registrado no planeta ocorreu na República Democrática do Congo, em 1958. Desde então, o vírus tem se espalhado e infectado dois africanos a cada três doentes. Há falta de remédios e de testes para detectar os casos, e poucos governantes se interessam pelo problema.

A ausência de informação é a principal causa da doença. A maioria, analfabeta, acredita que a Aids é causada pela pobreza, por bruxaria, inveja ou maldição dos antepassados (na verdade, é transmitida pela relação sexual, contato com o sangue e na hora do parto); por isso, não há cuidados com a prevenção. A doença fez com que os africanos também passassem a viver menos. A expectativa de vida passou de 59 para 47 anos, em média. O país com o maior número de infectados é a África do Sul, com mais de 5,7 milhões de casos, mais de 10% da sua população.

E tem mais: os africanos ainda sofrem com epidemias de malária e meningite. Segundo a ONU, o continente é o que menos investe em saúde. NaTanzânia e Maláui, por exemplo, só há dois médicos para cada grupo de 100 mil habitantes (o recomendado é um médico para cada mil). Mesmo sendo 10% da população do planeta, os africanos respondem por 50% dos casos de meningite.


Quatro séculos de escravidão
Durante 430 anos, os africanos foram escravos dos colonizadores. Portugal foi o primeiro a capturar os negros na segunda metade do século 15. Duzentos anos depois, Inglaterra, Espanha e França passaram a fazer o mesmo, levando-os para suas colônias. A partir de 1550, os portugueses trouxeram muitos do Sudão para plantar cana-de-açúcar no Brasil.

Homens, mulheres e crianças eram obrigados a deixar as tribos e entrar nos navios negreiros, onde eram transportados como carga. Ficavam acorrentados no porão, sem condições de higiene e pouca comida. Muitos ficavam doentes e morriam na viagem. Quando chegavam, eram vendidos de acordo com suas condições físicas. As famílias eram separadas. Quem desobedecia era castigado e podia até morrer.

No século 19, com a industrialização na Europa, que começou a precisar de mais consumidores para os produtos, a Inglaterra passou a ser contra a escravidão. A ideia de abolir a escravidão chegou no Brasil e foram criadas leis para isso. Mas só em 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assinou a Lei Áurea para libertá-los.

Português em cinco deles
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe foram colônias de Portugal, por isso a língua oficial desses cinco países é o português. Juntos com Brasil e Portugal, os países africanos assinaram, em 2008, o Acordo Ortográfico que altera a grafia de algumas palavras para unificar a maneira de escrever das sete nações que utilizam o idioma. Antes, existiam duas grafias oficiais, a usada no Brasil e a de Portugal e dos países africanos. Aqui, as mudanças já entraram em vigor, mas seu uso é opcional. Só em 1º de janeiro de 2013 é que as mudanças tornam-se obrigatórias. Todos os demais ainda estão em período de adaptação.

Cultura e religião
A diversidade cultural é tão grande quanto os dialetos existente neste continente, com centenas de línguas nos 54 países. A religião é importante para o africano, que segue o islamismo, o cristianismo, além de outras menos conhecidas. Para o Brasil, os negros da África trouxeram o candomblé e a umbanda como religião. Os rituais são sempre realizados com danças e cantos. Entre as principais crenças está a de que o homem precisa respeitar a natureza, a vida e os outros homens para que não sejam punidos com secas, enchentes, doenças, morte, entre outros castigos. Esses ensinamentos são passadas de geração em geração.


África do Sul é rica
A África do Sul (sede da Copa deste ano) é o país mais rico e onde vivem mais brancos no continente. Por muito tempo, discriminou o negro. Em 1948, a minoria branca de origem holandesa, que comandava tudo, criou o apartheid. Os brancos dividiram as etnias dos negros, obrigando-os a viver em locais específicos (os guetos), tirando-lhes o direito de participação política (não podiam nem votar) e de ter sua própria terra. Também proibiam o casamento entre brancos e negros.

Liderado por Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano conseguiu derrubar esse regime em 1994. Mas, até conquistar os mesmos direitos, ocorreram muitas mortes e confrontos entre os dois lados. Ainda hoje os brancos têm domínio econômico.

Brigam entre si
Mesmo independentes, muitos povos africanos não concordam com a forma com que os territórios foram divididos. Isso criou conflitos entre etnias diferentes que vivem nos mesmos países. Além de os europeus terem dividido o espaço geográfico, também separaram famílias. Com isso, muitos povos de diferentes formações disputam o poder em diversos países. Desde 2003, dois grupos brigam com o governo de Darfur, no Sudão.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;