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Mercedes-Benz cancela 500 demissões e greve é suspensa

Como contrapartida, montadora abre novo PDV que segue até o dia 15; lay-off será prorrogado em duas etapas

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
28/04/2015 | 07:13
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André Henriques/DGABC


Após greve de cinco dias na fábrica de São Bernardo, a Mercedes-Benz desistiu de demitir 500 funcionários em lay-off (suspensão temporária do contrato) ligados à produção. Os cortes foram anunciados na semana passada e estavam previstos para serem efetivados no dia 4 de maio. Com isso, a paralisação dos trabalhadores da unidade da região foi suspensa e o acampamento em frente à portaria principal foi desmontado. Os cerca de 715 operários em lay-off permanecerão afastados por pelo menos mais dois meses.

O recuo foi anunciado pela montadora durante o fim de semana a diretores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. No encontro, representantes da companhia apresentaram contraproposta para tentar equacionar o problema do excedente de pessoal na planta. Os itens apresentados foram aprovados por unanimidade em assembleia na madrugada de ontem. Segundo a Mercedes, o volume de trabalhadores a mais supera 1.900 pessoas (além dos 715 que estão suspensos há dez meses, há outros 1.200 na fábrica). No início do mês, a empresa falava em 1.200. A planta conta, ao todo, com efetivo de aproximadamente 10,5 mil pessoas.

Como contrapartida pelo cancelamento dos cortes, a montadora irá abrir hoje novo PDV (Programa de Demissões Voluntárias), cujo prazo para inscrições vai até o dia 15. Programa semelhante foi iniciado no mês passado e terminou ontem, mas o número de adesões ainda não foi informado.

As condições para quem optar pelo desligamento foram melhoradas. Para os trabalhadores que seguem na ativa, o secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Sérgio Nobre, funcionário da Mercedes, afirma que será oferecido a cada profissional meio salário nominal para cada ano trabalhado, limitado ao teto de R$ 65 mil. Quanto ao pessoal que está em lay-off, serão ofertados R$ 55 mil.

No programa encerrado ontem, o colaborador que decidisse sair voluntariamente da empresa recebia R$ 28,5 mil, independentemente do tempo de casa. Quem estava afastado e aderisse ao PDV tinha direito a adicional no valor de R$ 11,5 mil, totalizando R$ 40 mil. Apesar de o número de inscritos não ter sido informado, os sindicalistas consideraram a oferta pouco atrativa.

SOBREVIDA - Os 715 funcionários que foram afetados pelo lay-off em novembro (à época eram 750, mas 35 foram chamados de volta no início de março), e que deveriam retornar ao trabalho na quinta-feira, permanecerão afastados por mais dois meses, até 30 de junho. Os empregados que possuem doenças laborais ficarão suspensos por mais tempo, até 30 de setembro.

Segundo o presidente do sindicato, Rafael Marques, nova rodada de negociações deverá ocorrer no dia 18, logo após o encerramento do prazo para adesões ao PDV. O objetivo será avaliar os resultados do programa e verificar se haverá necessidade de outras medidas para adequação da mão de obra em razão da queda na produção. No primeiro trimestre, os licenciamentos de caminhões da Mercedes tiveram redução de 39,9% em todo o País, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os dados são da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Marques considera satisfatório o resultado da negociação. “Foi um acordo construído na base da pressão. Sem a pressão, a Mercedes não faria o que fez. É evidente que não está tudo resolvido, mas foi uma solução boa empurrar a decisão final mais para frente”, comenta.

O sindicalista avalia que a situação dos trabalhadores ficará mais tranquila depois que o governo aprovar o PPE (Programa de Proteção ao Emprego), apresentado por centrais sindicais a diversos ministérios e endossado pela Anfavea. O documento prevê a autorização para que empresas, durante momentos de crise financeira, reduzam a jornada de trabalho por tempo determinado. Como consequência, os salários também serão rebaixados no período. “Em momentos como este, talvez acaba sendo a única alternativa. O que estamos conquistando é que o governo cubra uma parte da redução de salário, e isso facilita para o sindicato.”

BANCO DE HORAS - Segundo Marques, a montadora decidiu que os dias parados em razão da greve não serão descontados dos salários, mas abatidos do banco de hora de cada um dos colaboradores que aderiram à paralisação.


Apesar da proposta, clima de insegurança persiste

Mesmo com o anúncio de que a Mercedes-Benz desistiu de demitir 500 funcionários que estão em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho), o clima de insegurança persiste na montadora. Empregados atingidos pelo afastamento cobram a formalização de um documento no qual a empresa se comprometa a não cortar vagas.

“Foi uma boa saída. O sindicato e a Mercedes ganharam tempo para negociar. Mesmo assim, a insegurança só vai acabar depois de junho, isso se o PDV (Programa de Demissões Voluntária) tiver atendido às metas propostas pela direção”, comenta um trabalhador da montadora. Todos os funcionários ouvidos pelo Diário tiveram os nomes preservados a pedido dos mesmos, pois temem represálias.

Outro operário também elogia o acordo, mas ainda se sente inseguro. “Enquanto não tiver uma posição concreta da empresa, nada muda. A apreensão foi apenas suspensa”, lamenta. Para um funcionário com dez anos de casa, a expectativa é de que a Mercedes melhore as condições do PDV. “No último que teve, vários colegas pensaram em aderir, mas desistiram porque não consideraram favorável. Se o número de inscritos for alto, diminuem as chances de novos cortes.” Naquele momento, os operários ainda não sabiam da nova oferta da montadora.
 




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