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Arte é alvo de vândalos na região

Monumentos erguidos para relembrar fatos e personalidades importantes da história do Grande ABC estão sujos e têm diversas pichações

Nelson Donato
Especial para o Diário
27/04/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O que era para ser uma manifestação cultural passou a ser alvo de vândalos na região. Esquecida pelo poder público, grande parte das obras de arte espalhadas pelo Grande ABC está em mau estado de conservação. A escultura Concreção 0005, do artista andreense Luiz Sacilotto (1924-2003), é um exemplo. Menos de uma semana depois de retornar ao cenário da Rua Oliveira Lima, em Santo André, já foi pichada.

Mesma situação ocorre com os monumentos feitos com objetivo de homenagear pessoas e fatos históricos para o desenvolvimento da região. Além do desrespeito à memória de cada cidade, o vandalismo gera poluição visual, o que causa revolta na população.

Moradora de São Caetano há 18 anos, a vendedora Rosana Ciappa, 50 anos, afirma que a situação chegou a nível caótico. “Está por toda a cidade e o problema se agrava a cada ano. As autoridades deixam muito a desejar pois, além de não fiscalizarem, não fazem nenhum tipo de restauração.”

No município, estátuas ao longo da Avenida Goiás estão em condições alarmantes. Na Praça Luiz Olinto Tortorello, a depredação é intensa. A área, que possui diversas colunas e um obelisco, está tomada por pichações e há forte cheiro de urina. Ali, a equipe do Diário avistou dois agentes da GCM (Guarda Civil Municipal), cuja presença parece não amedrontar os vândalos.

A Praça da Bíblia, no Centro, não escapou das depredações. Lá, também foram escritas palavras preconceituosas que questionam religiões. A jornaleira Isabel Aparecida Lopes de Carvalho, 47, trabalha nas imediações e afirma que os vândalos estão cada vez mais ousados. “Faz pouco mais de um ano que a praça foi pintada, mas já está tudo pichado.”

Em Santo André, o Monumento ao Trabalhador, instalada no Paço, está pichado. A obra, assinada pela artista Tomie Ohtake (1913-2015), possui diversos sinais de vandalismo. Inaugurada em 2013, tem 12 metros de altura e pesa 15 toneladas. Representa um laço com o formato do infinito e foi doada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, com custo de cerca de R$ 300 mil. Na ocasião, comemorava-se os 80 anos da entidade e a instalação foi uma forma de homenagear a classe trabalhadora.

Segundo a advogada Camila Machado, 33, além das pichações, várias pessoas andam de skate sobre o monumento. “É um descaso com uma obra dessas. Creio que falta segurança patrimonial. Uma contenção também inibiria esse tipo de depredação”, opina.

Para ela, postura mais enérgica das autoridades evitaria situações como essa. “Nos países da Europa, as pessoas têm mais consciência, porque há punições severas para quem pratica vandalismo. Se apertarem o cerco, as pessoas pensariam duas vezes.”

Segundo a Prefeitura de Santo André, não houve dano estrutural no monumento e as marcações são visíveis a apenas dois metros de distância. A administração informou que será feita uma limpeza na peça.

No calçadão da Rua Coronel Oliveira Lima, no Centro do município, situava-se o busto do Senador José Luiz Flaquer, que em 2014 foi transferido para o Museu Municipal Dr. Octaviano Gaiarsa após sofrer tentativa de furto. Porém, o suporte da estátua, que continua no local, não escapou das pichações. Funcionários da Prefeitura que faziam a limpeza do monumento na sexta-feira garantiram limpar as inscrições constantemente nessa e em outras áreas públicas.

Em São Bernardo, a estátua que alude ao Kassato Maru, primeiro navio japonês a chegar à costa brasileira com imigrantes, em 1908, está em condições deploráveis. Há muita sujeira, além de palavras de cunho preconceituoso. Descendente de japoneses, o comerciante Paulo Ogata, 65, lamenta que não haja mais respeito com a história. “Hoje ninguém mais se importa. Mas se o problema fosse apenas nos monumentos, não seria tão ruim. Infelizmente em quase todas as ruas vemos esse tipo de vandalismo. É insustentável.”

Em Diadema, o alvo dos pichadores foi o Monumento em Homenagem ao Migrante, em um dos pontos de entrada da cidade. As prefeituras de São Bernardo e Diadema foram procuradas, mas não se manifestaram. De acordo com a Lei 9.605, a pichação é considerada vandalismo e crime ambiental, e sua pena varia de três meses a um ano, além de multa. 




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