Economia Titulo Pesquisa
Desemprego cai, mas não há o que festejar

Índice melhora por causa da saída de 15 mil pessoas do mercado de trabalho no Grande ABC

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
26/03/2015 | 07:16
Compartilhar notícia


Ao mesmo tempo em que as empresas, de forma geral, vêm reduzindo postos de trabalho no Grande ABC, o cenário de crise fez com que muitas pessoas saíssem do mercado de trabalho ou adiassem a entrada no mundo profissional. Com isso, mesmo com a intensificação dos cortes de vagas, a taxa de desemprego caiu pelo segundo mês seguido, de acordo com pesquisa realizada pelo Seade e pelo Dieese e divulgada ontem.

O índice, que estava em 10,4% em janeiro, passou a 10% no mês passado. A taxa se refere ao percentual de desempregados em relação à PEA (População Economicamente Ativa, ou seja, o total de pessoas ocupadas ou em busca de emprego). Isso significa que quem para de procurar trabalho (por exemplo, jovens que postergam a decisão de se inserir profissionalmente) porque a situação econômica está ruim, deixa de integrar essa estatística. E saíram do mercado em fevereiro 15 mil pessoas.

Isso explica porque, apesar de o número de ocupados ter diminuído 0,6% em fevereiro, com a redução de 8.000 postos na região, o desemprego também se reduziu. Hoje são 138 mil pessoas sem emprego, ante os 145 mil em janeiro. E há, atualmente, 910 mil inativos (fora do mercado) com mais de 10 anos de idade, enquanto em janeiro eram 894 mil.

O coordenador de análise da pesquisa do Seade, Alexandre Loloian, assinala que, desde outubro, tanto a PEA quanto a ocupação vêm em retração. O setor que mais eliminou vagas foi a indústria, que em fevereiro reduziu 19 mil vagas, com destaque para o segmento metalmecânico (eliminação de 14 mil postos).

Loloian cita que a redução do nível de atividade nas montadoras tem efeito em cadeia, ou seja, com a redução das encomendas a pequenas e médias fornecedoras de peças e serviços, o que leva à necessidade de diminuição dos postos de trabalho nessas empresas. O coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, Sandro Maskio, concorda. “Quando se reduz o volume de produção, a necessidade de funcionários é menor”, diz.

A pesquisa aponta, por sua vez, que o comércio gerou postos de trabalho (9.000) no mês passado. O dado contrasta com o do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, que apontou fechamento de 2.100 vagas em fevereiro. No entanto, este último levantamento, que se baseia em informações passadas pelas empresas, se refere apenas ao emprego formal. A pesquisa do Seade/Dieese é domiciliar (entrevista os moradores) e leva em conta não só postos com carteira assinada, mas também informais e autônomos.

PERSPECTIVA - Em meio ao cenário de fraca atividade na área automotiva, em que 424 trabalhadores da Ford de São Bernardo estão em banco de horas; 950 trabalhadores da General Motors em São Caetano e outros 715 da Mercedes-Benz estão em lay-off (contratos de trabalho suspensos); e as fabricantes fazem uso de PDVs (Programas de Demissões Voluntárias), como os abertos neste mês por essas duas últimas montadoras e pela Volkswagen em fevereiro, as perspectivas não são animadoras. Para Loloian, a tendência da taxa de desemprego é de piora nos próximos meses. “A expectativa é muito negativa, e é difícil é prever a duração disso.”

O que pode ajudar a estimular a atividade industrial é a valorização do dólar frente ao real, que traz atrativo para a exportação, avalia Maskio. Ele acrescenta que, além de favorecer as vendas ao Exterior, a variação cambial pode estimular a substituição da importação de peças por parte das montadoras por fornecedores locais. “Deve melhorar um pouco a produção local, mas o efeito deve ser lento”, diz.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;