Índice melhora por causa da saída de 15 mil pessoas do mercado de trabalho no Grande ABC
Ao mesmo tempo em que as empresas, de forma geral, vêm reduzindo postos de trabalho no Grande ABC, o cenário de crise fez com que muitas pessoas saíssem do mercado de trabalho ou adiassem a entrada no mundo profissional. Com isso, mesmo com a intensificação dos cortes de vagas, a taxa de desemprego caiu pelo segundo mês seguido, de acordo com pesquisa realizada pelo Seade e pelo Dieese e divulgada ontem.
O índice, que estava em 10,4% em janeiro, passou a 10% no mês passado. A taxa se refere ao percentual de desempregados em relação à PEA (População Economicamente Ativa, ou seja, o total de pessoas ocupadas ou em busca de emprego). Isso significa que quem para de procurar trabalho (por exemplo, jovens que postergam a decisão de se inserir profissionalmente) porque a situação econômica está ruim, deixa de integrar essa estatística. E saíram do mercado em fevereiro 15 mil pessoas.
Isso explica porque, apesar de o número de ocupados ter diminuído 0,6% em fevereiro, com a redução de 8.000 postos na região, o desemprego também se reduziu. Hoje são 138 mil pessoas sem emprego, ante os 145 mil em janeiro. E há, atualmente, 910 mil inativos (fora do mercado) com mais de 10 anos de idade, enquanto em janeiro eram 894 mil.
O coordenador de análise da pesquisa do Seade, Alexandre Loloian, assinala que, desde outubro, tanto a PEA quanto a ocupação vêm em retração. O setor que mais eliminou vagas foi a indústria, que em fevereiro reduziu 19 mil vagas, com destaque para o segmento metalmecânico (eliminação de 14 mil postos).
Loloian cita que a redução do nível de atividade nas montadoras tem efeito em cadeia, ou seja, com a redução das encomendas a pequenas e médias fornecedoras de peças e serviços, o que leva à necessidade de diminuição dos postos de trabalho nessas empresas. O coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, Sandro Maskio, concorda. “Quando se reduz o volume de produção, a necessidade de funcionários é menor”, diz.
A pesquisa aponta, por sua vez, que o comércio gerou postos de trabalho (9.000) no mês passado. O dado contrasta com o do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, que apontou fechamento de 2.100 vagas em fevereiro. No entanto, este último levantamento, que se baseia em informações passadas pelas empresas, se refere apenas ao emprego formal. A pesquisa do Seade/Dieese é domiciliar (entrevista os moradores) e leva em conta não só postos com carteira assinada, mas também informais e autônomos.
PERSPECTIVA - Em meio ao cenário de fraca atividade na área automotiva, em que 424 trabalhadores da Ford de São Bernardo estão em banco de horas; 950 trabalhadores da General Motors em São Caetano e outros 715 da Mercedes-Benz estão em lay-off (contratos de trabalho suspensos); e as fabricantes fazem uso de PDVs (Programas de Demissões Voluntárias), como os abertos neste mês por essas duas últimas montadoras e pela Volkswagen em fevereiro, as perspectivas não são animadoras. Para Loloian, a tendência da taxa de desemprego é de piora nos próximos meses. “A expectativa é muito negativa, e é difícil é prever a duração disso.”
O que pode ajudar a estimular a atividade industrial é a valorização do dólar frente ao real, que traz atrativo para a exportação, avalia Maskio. Ele acrescenta que, além de favorecer as vendas ao Exterior, a variação cambial pode estimular a substituição da importação de peças por parte das montadoras por fornecedores locais. “Deve melhorar um pouco a produção local, mas o efeito deve ser lento”, diz.
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