Não satisfeito em atrair os olhares das autoridades fiscalizadoras às contas do Paço de São Bernardo, que administra já há seis anos consecutivos, o prefeito Luiz Marinho (PT) deixou suas pegadas claras também no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que presidiu no ano passado e em 2013. Reportagem publicada hoje por este Diário revela que o Ministério Público investiga contrato de R$ 9 milhões anuais firmado em 2014 entre a entidade e a agência de publicidade Sotaque Brasil.

Ao estender seu modus operandi ao Consórcio, o petista macula um grupo de trabalho que, se não era exemplo de eficiência na execução de seus projetos, ao menos passou os últimos anos sem nenhum arranhão ético em sua imagem. A Promotoria desconfia da proximidade que o prefeito são-bernardense tem com a agência de propaganda, cujo dono, Oliveiros Domingos Marques Neto, andou se reunindo com Marinho, a portas fechadas, durante o andamento do processo licitatório.

A Sotaque é uma das empresas mais defendidas pelo prefeito de São Bernardo. Ele utiliza os serviços da companhia desde que se candidatou a chefe do Executivo, em 2008. Depois que assumiu o cargo, contratou-a para fazer a comunicação do Paço, tarefa que a agência executa até hoje – e pela qual já embolsou, ao menos, R$ 71,4 milhões em verbas públicas.

A relação de Marinho com a Sotaque poderia ter sido conquistada pelo bom trabalho prestado. Ocorre, porém, que o prefeito age como lobista da Sotaque. Basta lembrar que ele promoveu ingerência para que a empresa vencesse licitação em São Caetano, indicando servidora de sua confiança para influenciar no processo da cidade vizinha. Enfim, há motivos de sobra para que o Ministério Público abra investigação e apure eventuais irregularidades nos negócios envolvendo os dois personagens. Como existe muito dinheiro público envolvido na história, a população agradece a vigilância da Promotoria.