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Audiência infantil é ponto de interrogação
Gabriela Germano
Da TV Press
12/10/2008 | 07:09
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Divulgação/SBT/Roberto Nemanis


A ‘era das louras' passou e as emissoras de TV já não investem mais numa programação para ‘baixinhos'. Nem mesmo o modelo da apresentadora sexy de shortinhos ou minissaia brincando não faz mais sucesso e tampouco as brincadeiras e jogos para crianças. Com isso, os desenhos imperam praticamente sozinhos nas emissoras abertas. Os profissionais de TV não sabem exatamente o que as crianças de hoje querem ver e preferem não investir para ter pouco retorno.

Quem sofre são os telespectadores, que ficam com poucas alternativas, como destaca Mauro Garcia, diretor de Projetos Especiais da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura. "A publicidade infantil migrou para a TV a cabo, que tem público de maior poder aquisitivo. Se não há faturamento, por que as emissoras abertas vão produzir?", diz.

Murilo Fraga, diretor de programação da Band, reforça essa análise. "Os programas infantis impulsionavam a venda de discos e brinquedos. Mas o tempo mostrou que os desenhos eram mais importantes do que as apresentadoras", defende. Atualmente, sua emissora não tem sequer um infantil na grade.

E não pensam em investir nas crianças tão cedo. "No período da manhã, Globo e SBT já apresentam desenhos. Ganhamos mais se oferecermos outra coisa", acredita Murilo.

São poucos os que persistem. Como Renato Aragão, com A Turma do Didi, na Globo. "É um luxo continuar fazendo programa infantil diante da concorrência americana. Faço humor para o povão, ingênuo. Mas sei que perdi uma fatia do público porque a internet deixou as crianças de hoje menos ingênuas", diz o comediante, que nas manhãs de domingo, chega aos 15 pontos de audiência.

A garota Maísa, que comanda o Sábado Animado do SBT, é prova de que as crianças de hoje estão menos ingênuas. Com boas sacadas na apresentação ao vivo - o que inclui até tirar um sarro daqueles que ligam para participar do programa - a menininha já chegou a deixar Xuxa para trás na audiência das manhãs de sábado, com 10 pontos de ibope.

Para a diretora do programa Bom Dia e Cia, Juliana Soares, criança falando com criança possibilita maior identificação e é um dos segredos que mantém a dupla infanto-juvenil Priscila e Yudi na apresentação desde 2005. "As crianças querem se sentir importantes. Elas têm de ser o foco, e não uma apresentadora."

Além do SBT, a única emissora da TV aberta que tem algo além de desenhos animados em sua grade é a Globo. Xuxa insiste em trabalhar com os baixinhos, apesar do diretor do TV Xuxa Luiz Gleiser enfatizar que o atual formato do programa é voltado para toda a família. "Para atrair qualquer público, inclusive as crianças, é preciso ser inovador. Hoje em dia elas estão acostumadas a usar computador, controle remoto e celular ao mesmo tempo", descreve ele. Mas apesar das tentativas, a audiência não passa dos 9 pontos.

Para quem se tornou ídolo de uma geração como Bia Bedran, que de 1987 a 1994 cantou e musicou histórias infantis no programa Canta Conto, da antiga TVE, há uma dificuldade dos pensadores da TV em saber quem é a criança contemporânea. "Estreei quando já havia Xuxa e desenhos na TV e fiquei no ar por sete anos. Hoje, a internet mudou os hábitos das crianças, mas não as crianças", pondera Bia.

Já a apresentadora Eliana, a primeira a levar um programa infantil educativo a uma emissora comercial - na época o SBT - também defende que é só apresentar mais qualidade às crianças que elas absorvem. "Elas assistem aos desenhos porque é só isso que oferecem. Para atraí-las não é preciso grandes produções. Falta criatividade", afirma Eliana.

Em meio a tantos compromissos com índices de audiência, TV Cultura e TV Brasil são as únicas alternativas de um conteúdo de mais qualidade. "É claro que audiência é importante. Mas na Cultura o público infantil não vê pancadaria ou incentivo ao consumismo"", decreta Âmbar Barros, diretora do núcleo infanto-juvenil da emissora. A partir de 2009, não haverá mais publicidade em meio à sua programação infantil. Já a TV Brasil pretende investir pesado nas animações brasileiras, no próximo ano. "O Brasil exporta mão-de-obra nessa área e as emissoras nunca deram bola. A TV pública faz um contraponto à mercantilização da infância, que impera nas emissoras comerciais", critica Leopoldo Nunes, diretor de programação da TV Brasil.




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