Economia Titulo Na ponta do lápis
Vendas de agências de viagens caem até 40%

Mesmo com o dólar turismo promocional a R$ 2,67, consumidor cancela passeio ou muda destino

Marina Teodoro
Especial para o Diário
06/03/2015 | 07:28
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Ari Paleta/DGABC


Se há um mês o preço do dólar enfrentava cenário incerto, e dava indícios de que encostaria nos R$ 3, ontem, ficou acima do valor pela primeira vez desde agosto de 2004. O dólar turismo, utilizado para quem vai viajar ao Exterior, para pagar passagem aérea e hospedagem, encerrou o dia a R$ 3,15 – sendo vendido em torno de R$ 3,20 nas casas de câmbio. O resultado é que quem pretendia aproveitar férias e feriados prolongados ao longo do ano conhecendo outros países, agora está procurando alternativas mais econômicas ou simplesmente cancelando o passeio. Agências de turismo consultadas pelo Diário afirmam que as vendas de pacotes tiveram queda de até 40%.

“Uma família de dois adultos e uma criança, que no início do ano fechava uma viagem para os Estados Unidos por R$ 13 mil, hoje encontra por R$ 16 mil e desiste”, comenta o agente de viagens da RC Viagens, de Santo André, Guilherme de Lira Lopes.

Lopes afirma que o setor de turismo enfrenta muita dificuldade. “Estamos em alta temporada, época em que as pessoas planejam as viagens para julho. Mas, em fevereiro, nossas vendas caíram 40% em comparação a novembro e dezembro do ano passado.”

O gerente comercial da Qualituri Viagens, da mesma cidade, Márcio Fernandes, também comenta a baixa de 20% nas comercializações. Ele admite que, mesmo com promoções, já que algumas operadoras têm praticado o dólar a R$ 2,67, a moeda chegou num patamar muito elevado. “A pessoa sabe que, além do pacote, terá que gastar para manter as despesas no local. Isso faz ela pensar duas vezes antes de fechar a viagem.”

Fernandes aponta que, para o turista, pior do que o dólar alto é o dólar instável, pois isso dificulta a programação. Esse foi o mesmo pensamento do corretor de seguros Rodrigo Almeida, 26 anos, de São Bernardo, que desistiu da viagem planejada desde 2013 a Orlando, nos Estados Unidos, que faria com a namorada em julho deste ano. “Escolhemos ir na alta temporada, então juntamos dinheiro por dois anos, para poder viajar sem aperto. Mas, com o dólar nessa situação, a gente fica com medo, porque não sabe onde o preço vai parar em julho.”

O consultor financeiro e professor do Instituto Educacional BM&FBovespa, André Massaro, indica que quem quer viajar agora não deve esperar. “É imprudente aguardar o dólar baixar”, comenta o professor, que não enxerga evidências de uma crise passageira. “O dólar está neste caminho devido às nossas circunstâncias econômicas e políticas. Não vejo expectativas de melhora financeira.”

DOMÉSTICO - Muitos brasileiros que pretendem viajar para o Exterior, ao cotar o pacote, acabam optando por destino nacional, devido à situação insustentável do dólar. “Uma família que iria para Miami, acaba escolhendo Natal, onde pacotes para três pessoas variam entre R$ 6.000 a R$ 7.000”, comenta o agente da RC Viagens.

Aliás, o prejuízo das agências de turismo só não é maior porque, com as tantas emendas de feriado neste primeiro semestre, como a Páscoa, o 1º de maio e o Corpus Christi, a procura por cruzeiros e praias no Nordeste se intensificou.

A estratégia das agências é apostar no fretamento dos voos, que diminui o preço, e valorizar as tarifas baixas que algumas companhias oferecem fora de temporada. “Os preços das viagens continuam estáveis, mas com a espera de fluxo maior de turistas (que desistiram de sair do País), o desembolso com passeios e alimentação deve ficar mais caro (com maior procura, o custo sobe)”, assinala Lopes.

Destinos como o Litoral Norte da Bahia, Maragogi e Maceió (Alagoas) estão tomando o espaço de lugares como o Caribe. “Até pouco tempo o brasileiro havia percebido que valia mais a pena visitar o Exterior do que o Nordeste. Hoje, a situação voltou para o que era antes. Os preços são parecidos (cerca de R$ 5.000 para um casal), mas, ao calcular os gastos extras com o local, o turista acaba vendo que compensa mais ficar em território nacional”, avalia o gerente da Qualituri.

PLANO B - Com poucas ofertas, as agências investem em destinos mais próximos para quem insiste em visitar o estrangeiro. A América do Sul tem sido bastante procurada, já que a moeda dos países latinos está desvalorizada em relação à nossa.

Na RC Viagens, os carros- chefes sempre foram os Estados Unidos e a América do Sul, mas, hoje, destinos como Buenos Aires (Argentina) e Montevidéu (Uruguai) estão vendendo mais que Nova York (Estados Unidos) e Orlando. “Uma viagem para Buenos Aires custa em média R$ 3.500. Sai mais barato do que o Nordeste.” 




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