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Previdência privada deverá crescer junto com a expectativa de vida

Para especialistas, a tendência é que cada vez mais brasileiros não dependam apenas do INSS

Por Caio Prates
Thaís Restom
Do Portal Previdência Total
22/02/2015 | 07:30
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Enquanto o envelhecimento da população preocupa as contas da Previdência Social, o setor de previdência privada comemora a perspectiva de mais pessoas necessitando de investimentos de médio e longo prazos além da aposentadoria pública.

De acordo com o superintendente de produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim, o crescimento do setor tem sido intenso nos últimos anos. “Atualmente, nós atendemos 1,78 milhão de clientes e, em razão da longevidade em alta, acreditamos que o mercado de previdência privada ainda tem público-alvo bastante considerável para atingir tanto os novos clientes como aqueles já existentes e que pretendem aumentar seus aportes”, avalia.

Para Evely Silveira, gerente comercial da Porto Seguro Previdência, a preocupação em ter um complemento da aposentadoria do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) já é maior e tende a aumentar com o tempo, desde que as pessoas se conscientizem disso. “Será difícil manter padrão de vida razoável ou até mesmo sobreviver com os gastos mensais inerentes à idade mais avançada. Com isso, a previdência complementar privada passa a ser uma necessidade”, avalia.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que os idosos (acima de 60 anos) no Brasil deverão representar mais de 25% da população brasileira em 2060. Nesse contexto, a previdência privada, produto com foco em acumulação de longo prazo, é opção. E, quanto antes começar a poupar, melhor. “Isso porque, além de acumular os aportes realizados por muitos anos, o investidor se beneficiará dos efeitos dos juros compostos, que contribuem fortemente para alavancar o montante poupado”, defende o superintendente comercial da Brasilprev, Guilherme Rossi.

Para demostrar os ganhos de um investimento, Rossi fez simulação em que uma pessoa poupa, mensalmente, R$ 1.000, durante 30 anos. “Imaginando um cenário de juros de 6% ao ano, a reserva será superior a R$ 979 mil ao fim do período de acumulação. Porém, se o investimento se estendesse por mais cinco anos, o valor ultrapassaria R$ 1,3 milhão, diferença bruta superior a R$ 400 mil”, explica.

As altas cobranças envolvidas em investimento em previdência privada, como as taxas de administração e carregamento, são alvo de críticas constantes de economistas e educadores financeiros. Porém, segundo Evely Silveira, da Porto Seguro Previdência, atualmente várias seguradoras não cobram mais a taxa de carregamento nos planos privados de previdência. “As taxas de administração dos fundos também estão mais competitivas e menores”, justifica. “Além disso, há o incentivo da dedução do Imposto de Renda, o que no longo prazo é uma vantagem (planos PGBL, que permitem dedução de valor até 12% da renda tributável do contribuinte, o que alivia a mordia do Leão)”, avalia.

Bonfim explica que, quem possui aportes em fundo de investimento normal do mercado, a cada semestre paga IR sobre o seu ganho de capital. “Na previdência, essa cobrança semestral, chamada de come cotas, não existe, porque você só desconta o IR no momento do resgate. É como se o governo deixasse rendendo no plano de previdência privada o dinheiro economizado do IR. Isso acaba gerando ganho de rentabilidade para o plano.”


Mudanças nos benefícios estimulam complemento

As mudanças nas regras da Previdência Social publicadas no fim do ano passado pelo governo federal para a concessão de pensão por morte e auxílio-doença também devem estimular a previdência privada para complementar recursos durante a velhice. Fato é que, com o passar dos anos, o cerco se fecha mais à concessão de benefícios públicos.

Além de critérios mais rigorosos, a MP (Medida Provisória) 664/2014 determina a redução de benefícios em alguns casos. Cerca de R$ 18 bilhões por ano devem ser economizados a partir deste ano, segundo o Planalto. Porém, as mudanças ainda passarão pela apreciação do Congresso para efetivamente se tornarem lei.

O pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Marcelo Caetano, acredita que a proposta do governo não anula a necessidade de reformas futuras e ainda mais fortes na própria pensão por morte, assim como nas idades das aposentadorias e também na correção do piso do benefício com o salário mínimo. “Se o governo perder agora no Congresso, eu vejo que ele tem quadro político muito debilitado para uma reforma previdenciária mais profunda. Porque o que aconteceu foi extremamente pontual, não é radical, e no fundo nós precisamos de muito mais reformas.”

Entre algumas das mudanças nos benefícios previdenciários está a redução do atual patamar de 100% do salário de benefício da pensão por morte para 50% mais 10% por dependente. Uma viúva com um filho do segurado, por exemplo, receberá 70% do valor (50% mais 10% referentes à mãe e 10% ao filho).

Para Adriane Bramante, vice-presidente do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário), este novo cálculo do benefício da pensão é um retrocesso. “Na década de 1960 já tínhamos esse percentual e conseguimos avançar, chegando a 100%. Um segurado que paga aluguel, água e luz, nem em caso de morte terá a redução de 50% das suas despesas. Óbvio que os gastos irão diminuir, mas não pela metade. Talvez esse ponto não passe no Congresso.” 




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