Economia Titulo Marco
Morre, aos 91 anos, fundador da Casas Bahia, Samuel Klein

Empresário, pioneiro na oferta de compra parcelada
para a população de baixa renda, construiu império

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
21/11/2014 | 07:11
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Celso Luiz/DGABC


Morreu ontem pela manhã o fundador da rede Casas Bahia, o empresário Samuel Klein, 91 anos. Ele já estava havia 15 dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A causa da morte foi insuficiência respiratória. De família judaica, ele foi velado e enterrado no Cemitério Israelita do Butantã, na Capital.

Nascido na Polônia, em 15 de novembro de 1923, Klein chegou ao Brasil em 1952 e, cinco anos depois, abriu sua primeira loja, a Casa Bahia, em São Caetano. O nome foi escolhido em homenagem aos clientes nordestinos que haviam se deslocado para o Grande ABC em busca de emprego na indústria automobilística. A segunda loja, em 1960, também no município, já adotava o nome Casas Bahia. Foram os passos iniciais do que, anos depois, se tornaria um império do varejo, hoje com mais de 500 pontos de venda em 15 Estados e mais de 56 mil colaboradores – cerca de 5.000 na cidade da região.

“Amigos, esta quinta-feira começou de maneira muito triste. Perdemos Samuel Klein, empresário e fundador da Casas Bahia. Sua história e de suas empresas se confundem com o desenvolvimento econômico de nossa São Caetano, cidade onde se estabeleceu há muitas décadas”, lamentou o prefeito Paulo Pinheiro (PMDB), que decretou três dias de luto oficial.

A presidente Dilma Rousseff (PT) também divulgou nota de pesar. “O sucesso empresarial de Samuel Klein comprova como o Brasil é um País das mais diversas oportunidades. Meus sentimentos a sua família, amigos e funcionários.”

Para construir esse megaempreendimento – que em 2010 se uniu ao Grupo Pão de Açúcar –, o empresário foi pioneiro e referência na oferta de compra parcelada para a população de baixa renda. “Dávamos crédito para quem nem sabia que podia ter, fomos os precursores; a gente não vendia mercadoria, vendia facilidades”, afirma o ex-diretor de crédito da Casas Bahia Celso Amâncio, que trabalhou durante 29 anos na empresa, de 1976 a 2005.

Para o presidente do Conselho do Provar-FIA (Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração), Claudio Felisoni, ele foi um marco. “Sem dúvida ele foi uma pessoa de visão que soube aproveitar a oportunidade de vender parcelado para a população de renda mais baixa.”

Klein também foi importante para a informatização dos sistemas de consulta de crédito das associações comerciais, ressalta o ex-presidente da Aciscs (Associação Comercial e Industrial de São Caetano) Ivan Cavassani. “No passado, o SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) era muito moroso, e houve ação direta dele para que houvesse cadastro único, que agilizou as consultas e as vendas do comércio.”


Klein começou o negócio vendendo de porta em porta

Comerciante nato, o polonês Samuel Klein, assim que chegou ao Brasil, em 1952, com 29 anos, adquiriu, com US$ 6.000 trazidos ao País, casa, charrete, cavalo e freguesia de um vendedor, José Neuman. Passou a vender, como mascate, roupas de cama, mesa e banho pelas ruas de São Caetano e bairros paulistanos próximos como vilas Alpina, Bela, Califórnia e Parque São Lucas.

Mesmo depois, quando montou a primeira loja, na Avenida Conde Francisco Matarazzo, em São Caetano, em 1957, ele se manteve na venda direta. Na loja só vendia móveis, mas pedia para os clientes irem ao estabelecimento para pagar as prestações. Da venda com charrete evoluiu, nos anos seguintes, para peruas. Chegou a ter 80 veículos para atender sua clientela.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, Francisco Antonio Soeltl, avalia que Klein ajudou a projetar o nome da cidade País afora. “É motivo de orgulho a sede da Casas Bahia permanecer em São Caetano ao longo desses anos. Mesmo com a fusão a matriz continuou no município.”

Por seu pioneirismo no atendimento à classe C, a rede foi apontada como exemplo de concessão de crédito para esse segmento no livro A Riqueza na Base da Pirâmide, do indiano C.K. Prahalad.


Varejista é uma das três maiores empresas do município

A Casas Bahia é uma das três maiores empresas de São Caetano quando o assunto é arrecadação de impostos. Perde apenas para a Transpetro e a General Motors. Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Francisco Antonio Soeltl, a arrecadação com ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e ISS (Imposto Sobre Serviços) somou R$ 350 milhões em 2012, e 47% desse valor provêm dessas três companhias.

O ex-prefeito de São Caetano e atual secretário estadual de Esportes, Lazer e Juventude, José Auricchio Junior (PTB), afirma que, em sua gestão, a varejista representava entre 5% e 10% da arrecadação municipal. Samuel Klein nunca se esqueceu da cidade que escolheu como sede da companhia (agora sob a holding Via Varejo, que engloba também o Ponto Frio), destaca Auricchio. “O sr. Samuel era um ícone não só do varejo, mas do empreendedorismo; e dentro de sua simplicidade, sempre teve São Caetano no seu coração”, afirma. Klein manteve presença efetiva na cidade e se emocionou, em 2006, durante inauguração da escola municipal com o nome do neto Leandro Klein (que morreu em 2001 de câncer). Uma das últimas participações em evento público do empresário foi em 2010, na abertura do Contact Center, moderna central de relacionamento com os clientes, situada na cidade.

(Colaborou Soraia Abreu Pedrozo)
 




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