Setecidades Titulo Lá no meu bairro...
Pastel da Vila alimenta pessoas e histórias em São Bernardo

Lanchonete na Rua Vinte e Três de Maio é local para relembrar memórias da Vila Tereza

Renato Cunha
Especial para o Diário
18/11/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Orlando Filho/DGABC


O bairro Vila Tereza, que fica na região do Fórum de São Bernardo, abriga moradores com histórias apaixonadas e curiosas. Um deles é a cozinheira Laíz de Oliveira, 52 anos, que é proprietária da lanchonete Pastel da Vila, que prepara guloseimas e almoços repletos de paixão e memórias.

Laíz conta que se mudou quando era muito pequena para o lugar e a estrutura não era como nos dias atuais. “Eu tinha 2 anos quando vim de São Paulo para cá. Ao chegar, aqui não havia quase nada, somente a natureza ao redor”, relembra.

Segundo ela, os moradores foram chegando aos poucos, então, a falta de infraestrutura do bairro começou a aparecer. “Os problemas urbanos vieram com o aumento da população. Mas era todo mundo unido. Reivindicamos várias coisas como asfalto, esgoto, entre outras.”

A cozinheira relata como a paisagem mudou ao longo do tempo. Diz ter presenciado essa mudança, que aconteceu aos poucos, mas foi definitiva. “Antes de construírem o Fórum, o espaço era a Praça do Circo. Lá tinha muitos eventos, as crianças brincavam soltas. Era um tempo muito tranquilo, ficávamos na rua até tarde, todo mundo era da mesma escola. Não tinha tantos problemas de falta de segurança”, lembra. As brincadeiras preferidas também foram citadas. “A gente brincava na rua de bola, queimada, bicicleta, corria no morro, pegava girino no rio, coisa de criança.”

Entre um pedido e outro na lanchonete, Laíz reclama que as crianças de hoje não têm a vitalidade que as de sua época. “Hoje em dia a meninada é muito parada”, comenta. Para ela, as mudanças no bairro foram positivas, mas tem saudade de outros tempos. “A Vila Tereza agora ficou boa. Mas eu gostava antigamente, quando tinha aquelas festas na rua, a gente podia brincar tranquilamente”, confessa.

A cozinheira diz que decidiu contatar o Diário para contar a história do bairro porque é uma leitora do jornal e gostaria de ver as lembranças do lugar onde mora sendo escritas nas páginas da publicação. “Sempre leio a coluna (Lá no meu bairro...), então, decidi mandar e-mail. Na verdade, o início da cidade foi aqui.”

Mas nem tudo são flores para Laíz. O problema das enchentes assombrou a ela e aos outros moradores da Rua Vinte e Três de Maio por muitos anos. “Tivemos alagamentos grandes aqui. O pessoal perdeu muita coisa. Teve uma vez que minha mãe pulou o muro com a gente no colo para fugir das águas”, relata.

Hoje em dia, Laíz tem apenas a lanchonete no bairro, mas ainda se sente moradora do local. “Morei mais de 40 anos aqui e gosto muito do lugar. Agora tenho o Pastel da Vila e quero que o bairro fique cada vez melhor”, externa. O comércio do bairro foi beneficiado pela construção do Fórum e também a chegada de grandes supermercados.

Campeã de jiu-jítsu vive há 42 anos no bairro

Outra história de vida que chama a atenção na Vila Tereza é a da aposentada Mafalda Garcia, 76 anos, que mora no bairro há 42 anos, quando se mudou do Baeta Neves, também em São Bernardo. A simpática senhora vai logo dizendo o que sente pelo município. “Eu amo São Bernardo”, declara.

Ela também conta a história da Praça do Circo e dos espetáculos que eram montados no local. “Ficava sentada, às vezes até de casa mesmo, assistindo às touradas que tinham lá. Também vinha bastante circo. Eles eram iguais os que têm hoje, só que menores.”

Mafalda diz que fez várias coisas emocionantes ao longo da vida. “Fiz de tudo. Quando era nova, tinha um cavalo e me jogava na cachoeira com ele”, recorda. Mas do que tem maior orgulho é dos esportes que praticava. “Eu era bastante esportista. Jogava vôlei. Mas o que fui campeã foi de jiu-jítsu. Pegava a pessoa e segurava pela perna e ela não conseguia mexer nem mesmo um dedo”, garante.

A aposentada fazia parte da Sociedade Amigos do Bairro, que brigava junto à Prefeitura por melhorias na Vila Tereza. Segundo ela, antigamente as crianças eram mais educadas que hoje em dia. “A meninada não era tão arteira. O mundo parece que deu uma reviravolta.”

Ela narra um episódio que ocorreu com seu filho na rua. “Ele ficava andando de bicicleta sem as mãos. Um dia eu descobri, tomei o brinquedo dele e o deixei por seis meses de castigo.”

Mafalda também reclama das enchentes na rua. “Queria mostrar umas fotos antigas para vocês, mas infelizmente perdi todas em uma enchente. Aqui a gente sofre bastante com isso. Logo que me mudei, teve um alagamento que levou muita coisa, só não foram os móveis porque eram pesados demais.”

Segundo ela, uma parada cardíaca quase a matou recentemente, mas conseguiu resistir. “Quando estava quase morta, os médicos já não davam mais esperanças, mas eu voltei. Disse para eles que alguma coisa maior foi o responsável, ninguém sabe o que é, mas é algo superior. Acredito nisso.”

Bom humor é marca de antiga moradora

A aposentada Neide Domingues, 81 anos, é uma das moradoras mais bem-humoradas da Vila Tereza e diz que quando se mudou, há 42 anos, o bairro estava começando a ficar com cara de ambiente urbano. “Já tinha calçada na rua, mas ali onde hoje é o Fórum ainda tinha só mato”, conta.

Ela diz que trabalhou na empresa Linhas Correntes, no Ipiranga. “Fazia de tudo lá. Saí em 1978 e era muito conhecida pelos colegas.”

Neide também se queixa da falta de liberdade para os pequenos nos dias de hoje e explica que tempos atrás a coisa era bem diferente. “Tinha muita criança aqui. Era gostoso demais. O problema é que não tinha nada por perto, era tudo distante do bairro. A feira mais próxima era a da Piratininga. Para ir no pronto-socorro, tinha que se deslocar até o Centro.”

A aposentada também recordou das festas que organizava em casa. “Antigamente fazia várias comemorações no meu quintal. Podia convidar todo mundo da rua, era uma bagunça gostosa”, garante. Segundo ela, o que a marcou foi a perda de alguns amigos que moravam no bairro. “Dói bastante pensar que alguns amigos nossos daqui se foram. Gente que a gente gostava muito.”

Ela diz que aprecia o lugar e não pretende se mudar. Só cobra um pouquinho mais de segurança. “Aqui está melhor que antes. Hoje nossas demandas são ouvidas pelo poder público”, explica. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;