Política Titulo Em queda
Região muda de cor pela 1ª vez

Com mais fraco desempenho da história, presidente obteve 642 mil votos no 2º turno no berço do PT, enquanto Lula recebeu 654 mil em 1989

Fábio Martins
Gustavo Pinchiaro
28/10/2014 | 07:38
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JB Ferreira


O Grande ABC mudou de cor política pela primeira vez. Isso é o que mostra o resultado das urnas na região, berço do PT, contabilizando inédito revés na preferência do eleitorado desde a criação do partido, em 1980. O traço vermelho nas eleições presidenciais anteriores sofreu queda significativa neste segundo turno, quando a presidente Dilma Rousseff se reelegeu com a pior votação do PT na história no cenário das sete cidades. A petista angariou 642,3 mil votos na etapa final, enquanto, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 654,7 mil sufrágios em 1989.

Há 25 anos, primeira disputa ao Planalto do PT, existia 1,27 milhão de eleitores na esfera regional, panorama bem diferente do atual, com 2,01 milhões aptos a voto – são 740.036 a mais. Proporcionalmente, Lula conquistou 51,42% no total de votos do Grande ABC no segundo turno de 1989 contra 36,83% de Fernando Collor (PRN), hoje senador reeleito pelo PTB. No domingo, Dilma teve 31,90% – índice menor até do que Collor – ante 44,18% de Aécio Neves (PSDB).

A presidente venceu em apenas duas cidades da região (Diadema e Rio Grande da Serra). Aécio se sobressaiu, com 246,7 mil votos a mais que Dilma. De quebra, a cúpula do PT se surpreendeu com derrotas simbólicas em Santo André, São Bernardo e Mauá, as três governadas por petistas e com trajetória de eleitorado simpatizante à legenda. Para ilustrar o tamanho da ruína, é a primeira vez que o partido perde em território mauaense. Lula, por sua vez, sagrou-se vitorioso em todas as sete cidades em 1989 e 2002 (confira arte ao lado). Na eleição seguinte, em 2006, teve saldo desfavorável só em São Caetano.

Em 2002, primeira vitória nacional do PT, o ex-presidente conseguiu 911,2 mil votos dentro do Grande ABC, batendo com sobra o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que alcançou 446 mil votos. Apesar do encolhimento para o projeto de reeleição, Lula acolheu 852,9 mil sufrágios em 2006 contra 632,7 mil de Geraldo Alckmin (PSDB), hoje comandante reeleito ao Palácio dos Bandeirantes. Como afilhada política do petista, Dilma debutou em 2010 e foi eleita com 796,9 mil votos regionais, diferença de 119,4 mil sobre Serra.

Mesmo em 1994 e 1998, quando perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula saiu vitorioso nas urnas da região.

Ao ser consultado sobre os números do PT, Ruy Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, avaliou que o resultado demonstra “perda de espaço e enfraquecimento” do partido em seu território. “Sobretudo por desgaste causado pelos chamados desmandos políticos, como escândalos do Mensalão, o mais recente na Petrobras, no Estado mais importante da federação (São Paulo), onde nasceu, e no Grande ABC, seu berço”, contextualizou.

Segundo Maluf, Dilma necessita responder ao momento negativo com “bom governo para tentar recuperar o espaço”. O professor considerou que a presidente precisa “mostrar disposição e intolerância” neste segundo mandato com denúncias de corrupção e se esforçar pelo aval à reforma política.

A reabilitação do prestígio petista, entretanto, é vista como “incógnita”. “Ela já se propôs a fazer tudo isso no primeiro mandato”. Maluf trouxe ótica negativa da vitória de Dilma, destacando que a presidente perdeu nas regiões mais progressistas do Brasil, como Sudeste e Sul, e se fortaleceu nos locais onde o desenvolvimento não tem a mesma velocidade, a exemplo do Norte e Nordeste. “O PT vem perdendo relevância em São Paulo e o PSDB se fortalecendo. Os partidos têm períodos de declínio, que podem ser momentâneos ou permanentes. Vamos aguardar as respostas do governo.”

OXIGENAÇÃO
Os números atestam o sinal amarelo no petismo e reforçam a necessidade de reciclagem na legenda, hoje carente de nomes de peso. Somente duas pessoas concorreram ao cargo em sete eleições presidenciais no período. Parte das lideranças do PT reconhece que, atualmente, o único capaz de dar continuidade ao projeto da legenda, em 2018, seria Lula, em possível retorno às urnas – na ocasião, ele estará prestes a completar 73 anos.




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