No último debate entre os presidenciáveis antes da eleição de amanhã, a presidente Dilma Rousseff (PT) adotou postura de prestação de contas de seu governo e o senador Aécio Neves (PSDB) buscou explorar denúncias, casos de corrupção e problemas na economia. A petista destacou números de programas habitacionais e educacionais, enquanto o tucano tocou em temas como o Mensalão e o caso de pagamento de propinas a parlamentares pela Petrobras em uma hora e meia de embate na Rede Globo.

A estratégia dos candidatos no debate foi costurada com base no cenário nacional revelado pelas pesquisas de intenções de voto, que mostraram a petista à frente, com seis pontos percentuais de vantagem no Datafolha e oito no Ibope. Dilma, como quem tenta administrar a situação, apenas reagiu aos questionamentos incômodos do senador tucano.

Tanto é que Aécio aproveitou a primeira oportunidade para indagar a presidente sobre denúncia publicada ontem pela revista Veja, na qual o doleiro Alberto Youssef teria afirmado, em depoimento à PF (Polícia Federal), que a atual chefe da Nação e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teriam conhecimento do esquema de corrupção existente na estatal. “Dou a oportunidade à senhora de falar. Sabia disso?”, perguntou o tucano.

Dilma reproduziu o discurso de resposta que adotou no último programa eleitoral veiculado no horário gratuito, condenando a publicação. “A Veja faz oposição sistemática ao meu governo e ao PT. Estou indignada, pois não apresenta nenhuma prova. O senhor endossa isso com sua pergunta. Isso foi tentativa de golpe eleitoral, mas o povo não é bobo e isso não é a primeira vez. Ocorreu em 2002, 2006 e 2010”, rebateu.

Em sua réplica, Aécio enfatizou que o PT tentou censurar a revista ao diminuir a credibilidade da publicação. “Vocês tentaram tirar a revista de circulação. Não acredito que acusação à revista seja a melhor resposta. A delação premiada só traz ao réu benefício se tiver prova”, afirmou. A presidente concluiu a questão na defensiva. “Estou estarrecida com suas afirmações, candidato. Eu jamais, em toda minha trajetória, persegui o direito da imprensa.”

Aécio foi incisivo ao questionar Dilma sobre sua opinião no caso do Mensalão, em especial, sobre o ex-ministro José Dirceu, que cumpre prisão em regime semiaberto. “Integrantes do seu partido o têm como um herói. E a senhora, o que pensa?” Visivelmente incomodada, a presidente não entrou em detalhes e colocou em pauta o Mensalão mineiro, ocorrido na candidatura de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo do Estado de Minas Gerais em 1998. “O senhor não respondeu o porquê do chamado Mensalão tucano mineiro ter sido engavetado. Eduardo Azeredo pediu renuncia do seu cargo (de deputado federal, em fevereiro) para que o processo retornasse à primeira instância”, pontuou Dilma, que ainda colocou à mesa outros casos de suspeitas de corrupção em gestões do PSDB. “Nenhum deles foi julgado, ninguém foi punido, todos foram arquivados, engavetados.”

O tucano insinuou sobre ausência da própria presidente no Palácio do Planalto e de seus ministros e reafirmou ser a favor do fim da reeleição. “Dos seus 39 ministérios, apenas 15 ministros estavam presentes. Quem é que está governando o País?” Dilma rebateu, destacando governar “sistematicamente” e lembrou que a reeleição foi proposta pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. “O senhor não tem interesse na reforma política, só fala sobre acabar com a reeleição. Vocês são interessantes. Foram vocês que criaram a reeleição e agora vêm com essa de que são contra a reeleição. Não entendo”, contestou.

Entrevista da presidente na qual ela chamou Aécio de “um dos melhores governadores do Brasil” e de ser “exemplar” também entrou em pauta. “Fico com os seus elogios que foram fortes. Nem correligionários me faziam. Por que mudou? Por que sou seu adversário?” Dilma considerou ter sido enganada pela propaganda da gestão do tucano. “Acreditei no seu choque de gestão, mas ficou provado que o senhor não investiu o mínimo em Educação e deixou o Estado endividado.”

Dilma rebateu os ataques, considerando que faltou planejamento do governo tucano em São Paulo, Estado que atravessa crise de abastecimento de água. Aécio tentou ligar a situação à falta de parceria da Ana (Agência Nacional de Águas) com o governo paulista. “A seca não atinge apenas São Paulo. A região Sudeste também passa por isso. É falta de chuva. São Paulo está fazendo o que está ao seu alcance. Não tivemos parceria da ANA, por que será? Onde estava que não estava aqui planejando?”

A presidente reforçou que a gestão de abastecimento hídrico é de responsabilidade dos Estados. “Nós somos parceiros do projeto (do reservatório) São Lourenço, que é o único que o governo de São Paulo apresentou. Não planejar o Estado mais rico do País é uma vergonha. Estados do Nordeste enfrentam a mesma seca e nenhum deles tem essa gravidade. Estão levando o Estado para ter o programa ‘meu banho, minha vida’.”

Aécio contra-atacou, lembrando que a transposição do Rio São Francisco deveria ter sido entregue em 2010 e ainda está emperrada, além de destacar a Transnordestina, que, segundo ele, “ninguém sabe quando ficará pronta”. “Falta de planejamento é a marca do seu governo.”

A presidenciável do PT afirmou que a gestão de Fernando Henrique Cardoso não “deu muita importância” aos agricultores familiares. “Deixaram a agricultura abandonada, não tinha assistência técnica, financiamentos com juros elevados”. Aécio reclamou da comparação. “Vamos olhar para frente, cada governo, em seu tempo, fez aquilo que julgava essencial.”

Eleitores indecisos pautam debate com questões temáticas

Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) foram questionados por dois blocos do debate por eleitores indecisos.

De diferentes localidades do País, cidadãos levaram questões temáticas em Habitação, Educação, saneamento básico e Segurança.

A prática não minimizou embate entre os postulantes. Aécio abordou os temas com ofensivas ao atual governo, enquanto Dilma focou prestação de contas.

A primeira questão foi direcionada a Dilma, sobre moradia, pois o eleitor do Rio de Janeiro alegou ter dificuldades para realizar a compra de imóvel. “O Programa Minha Casa, Minha Vida facilita você a pagar a prestação. Se eu for eleita, vamos fazer mais 3 milhões de casas”, prometeu. Aécio tratou por desqualificar a resposta da presidente. “Um drama de todos. Ao contrário do que assistimos na propaganda oficial do PT.”

Sobre Educação, o senador tucano foi indagado sobre como pretende valorizar o professor da rede pública. “Sem promessas. Hoje é muito baixa a qualidade do ensino. Quando fui governador de Minas Gerais, conseguimos proporcionar grande salto de qualidade perante o cenário nacional.”

A chefe da Nação enfatizou investimentos de sua gestão para o setor, lembrando do plano do royalties do pré-sal para Educação. “Tenho grande compromisso com creche e pré-escola. Vou construir mais creches que forem necessárias para universalizar a Educação. São 75% dos royalties do pré-sal destinados para o setor. Pagar melhor professor é a condição deste País para ter melhor qualidade”, comentou.

Na Segurança, Aécio foi indagado sobre altos índices de criminalidade registrados no País e sugeriu que, se eleito, vai propor mudanças no Código Penal. “Essa sensação de impunidade precisa acabar e isso só será possível se revermos a nossa legislação”, projetou. Em sua resposta, Dilma garantiu ter política eficaz e recorreu a números. “Apreendemos mais 640 toneladas de drogas. Estamos atentos neste trabalho.”

Por fim, a presidente precisou responder sobre saneamento básico, quando moradora do Pará falou realidades de esgoto a céu aberto. “Vamos investir cada vez mais em parcerias com os Estados para sanar o problema, que já equacionamos bem”, afirmou. O presidenciável tucano enfatizou que priorizará por “PPPs (Parcerias Público-Privadas) para dar mais agilidade ao problema.”