Política Titulo Entrevista
‘A economia de água
pelo povo é mais eficiente’

Governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin
afirma que a prática é melhor do que racionamento

Por Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
23/10/2014 | 07:26
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Andréa Iseki/DGABC


Governador reeleito do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB) afirma que a prática de evitar o desperdício de água feita pela população nos últimos meses é mais eficiente do que a ação de racionamento direta realizada pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Em visita à sede do Diário, o chefe do Executivo paulista relata que, mesmo o Estado enfrentando a maior crise de estiagem dos últimos 84 anos, está descartado o rodízio de abastecimento.

“Optamos por estimular o racionamento da população. A economia de água pelo povo é mais eficiente. Após o processo eleitoral, precisamos debater sobre consumo, pois a lei no mundo inteiro diz que a água primeiramente tem de ser para abastecimento humano”, diz o tucano, pregando debate sobre uso do produto apenas para geração de energia elétrica, principalmente no Rio de Janeiro.

O governador ressalta obras para amenizar a seca, como a construção do Sistema São Lourenço, revelando antecipação na entrega do projeto, para julho de 2017.

Prestes a assumir seu quatro mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes, o chefe do Executivo destacou também planos para o futuro nas áreas da Educação, Saúde e Segurança, comentando que no setor educacional uma das prioridades é trabalhar para incorporar o ensino em tempo integral em 1.000 escolas públicas.

No campo da Saúde, prometeu ampliar a Rede Lucy Montoro, que atende pessoas com deficiências, anunciando unidades nas cidades de Santo André e Diadema.

Para a Segurança Pública relembra a lei contra dos desmanches, que diminuiu índices de roubo e furto de veículos e o sistema Detecta, que permite integração no sistema de vigilância.

O que o sr. pode dizer sobre a votação no Grande ABC, onde pela primeira vez houve vitória de candidato nas sete cidades?
Primeiramente uma palavra: agradecimento. Pela confiança de toda a região em nosso trabalho. Contem conosco, aumenta nossa responsabilidade. Com muito trabalho e humildade, vou realizar muitas coisas. O foco é desenvolvimento, emprego, renda e oportunidade.

Na Educação, quais serão prioridades de seu próximo governo?
Acabamos de inaugurar mais uma unidade da Etec (Escola Técnica Estadual), situada em Rio Grande da Serra, o que complementa todo o Grande ABC. Nos moldes que as cidades merecem, com um prédio de mais de cinco mil metros quadrados, com auditório, laboratórios e com quatro cursos técnicos importantes, como administração de empresas, construção civil, meio ambiente e manutenção e suporte de informática. Além de Ensino Médio. Será unidade com horário integrado. O aluno ficará o dia inteiro na escola e sairá com dois diplomas.

Durante a campanha eleitoral, o sr. discorreu sobre a vontade de aumentar o ensino em tempo integral às escolas públicas. Como está esse plano?
Nossa meta é chegar a 1.000 escolas no Estado com horário integral. O aluno entra às 7h30 e sai às 16h30, com três refeições diárias. O aluno pode estudar o Ensino Médio de manhã e o técnico, numa Etec, em um ano e meio (a partir do segundo ano do Ensino Médio). A outra hipótese é o programa Vence, no qual ele faz o Ensino Médio no governo estadual e o técnico em qualquer escola técnica privada, que seja a nossa contratada. E a terceira, é o integrado, com o currículo já incorporado ao Ensino Médio. O aluno estuda os três anos de curso e o faz o técnico junto, ao mesmo tempo.

O principal desafio do Grande ABC para este mandato será a Mobilidade Urbana?
Não há menor dúvida. São Paulo é a terceira maior região metropolitana do mundo, habitada por aproximadamente 22 milhões de pessoas, sendo 11,5 milhões que moram na cidade de São Paulo e 10,5 milhões nos municípios da Região Metropolitana do Estado. A primeira obra foi o anel viário, o Rodoanel, onde fizemos o Trecho Oeste, ligando as rodovias Bandeirantes e Régis Bittencourt; o Sul, que liga a Régis Bittencourt ao Sistema Anchieta-Imigrantes, até Mauá; e o Leste, que vai de Mauá até a Rodovia Ayrton Senna, que está inteiramente pronta. O Trecho Norte está em toda sua extensão em obras, com seis frentes de trabalho contínuos.

Quais projeções para este governo na Saúde da região?
Modernizamos o Hospital Estadual Mário Covas, que fica em Santo André, e o Hospital Serraria, localizado em Diadema, com a introdução da ressonância magnética. Liberamos e pagamos R$ 40 milhões para o Hospital de Clínicas de São Bernardo. Estamos cobrindo deficit do Hospital Nardini (em Mauá), com R$ 12 milhões por ano. Teremos duas unidades da Rede Lucy Montoro na região, uma em Santo André e a outra em Diadema.

Segurança Pública é outra demanda que a população do Grande ABC ressalta. Quais planos para o setor?
É desafio diário. Fizemos o Dejem (atividade delegada), que é a jornada extra e coloca mais policiais nas ruas. Temos metas de redução de homicídios, latrocínios e outros crimes. A Assembleia Legislativa aprovou nossa lei que acaba com os desmanches. O País inteiro está copiando. Já fechamos 378 desmanches pelo Estado, com isso, estão diminuindo índices de roubo e furto de automóveis. Se cair mais um mês, e já caiu três (meses), vai reduzir o (valor do) seguro. Há também o Detecta, sistema que compramos e que foi brilhante em Nova York. Você coloca tudo junto num sistema de banco de dados. É software com 800 alarmes.

Sobre a crise hídrica, o sr. tem exaltado a construção do Sistema São Lourenço, por meio de PPP (Parceria Público-Privada). Há prazo de entrega da obra?
Temos sete sistemas de abastecimento de água na Região Metropolitana, que são Cantareira, Guarapiranga, Alto do Tietê, Rio Claro, Rio Grande, Alto e Baixo Cotia. Fizemos a PPP e está tudo em obra para o oitavo sistema, que é o São Lourenço. Há 22 frentes de trabalho. Vai abastecer 6,4 metros cúbicos de água por segundo. E de maneira integrada. O prazo inicial de entrega era março de 2018. O consórcio (que administra a obra) me informou que entregará tudo em dezembro de 2017. E eu pedi para julho de 2017.

Como o sr. avalia o fato de a crise hídrica ter ingressado na campanha, explorada pela presidente Dilma Rousseff (PT) contra Aécio Neves (PSDB)?
Primeiramente há mudanças climáticas. O DAE (Departamento de Água e Esgoto) mede série histórica iniciada em 1930. O ano que menos choveu foi em 1953, até então, a pior seca. Neste ano e no fim de 2013, choveu a metade do registrado em 1953. Único governo no Brasil que proporcionou estímulo (à economia de consumo de água) foi o nosso. Se conseguir economizar 20%, ganha 30% de bônus. Conseguimos aprovar no conselho da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) ampliação do benefício para quem economizar de 10% a 20%. Essa campanha teve 80% de colaboração da população do Estado. Em relação ao uso político, nós nunca devemos subestimar a capacidade de julgamento das pessoas. Isso foi explorado dia e noite na campanha, mas o povo não se deixou enganar. Tentar tirar proveito político de situação climática é o contrário do que deve ser feito, que são todos unidos.

Por que o sr. não fez o racionamento diante deste quadro?
O professor Benedito Braga, que é especialista da USP (Universidade de São Paulo) e presidente da Associação Mundial das Águas, diz que existem dois erros na ação do racionamento, um técnico e outro social. No técnico, quando se fecha o sistema, deixando na pressão zero, há cano estourado quando voltar (a vazão) pela forte pressão da retomada. Além disso, a água vai demorar muito para ser direcionada, vai demorar para chegar à periferia. Optamos por estimular o racionamento da população. A economia de água pelo povo é mais eficiente. Após o processo eleitoral, precisamos debater sobre consumo, pois a lei no mundo inteiro diz que a água primeiramente tem de ser para abastecimento humano, depois para animais, seguido por produção de alimentos e depois energia, o que não está sendo feito exato por outros Estados no País.

No ano passado, o sr. liderou discussão sobre mudanças na distribuição de água de reservatórios paulistas que vão ao Rio de Janeiro. É esse debate que o sr. pretende resgatar?
É preciso melhorar esses sistemas reservatórios. Há grande equívoco (na utilização atual). O Rio Paraíba é formado pelos rios Paraitinga e Paraibuna. Esses rios se juntam na represa de Paraibuna. Forma-se o Rio Paraíba. Tudo isso no Estado de São Paulo, próximo ao Rio de Janeiro. Quando entra no Rio de Janeiro, nós liberamos 190 metros cúbicos de água por segundo (por mês). Água limpa, tudo tratada. Quando chega à Barra do Piraí, na Usina de Santa Cecília, no Rio de Janeiro, eles fazem transposição e tiram 130 metros cúbicos por segundo. Vira um rio bem pequeno. Se nós, em São Paulo, com 22 milhões de pessoas, consumimos 66 metros cúbicos por segundo (por mês), o Rio de Janeiro, que é metade de São Paulo, então deveria consumir 30 metros cúbicos por segundo. O Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos, que administra o saneamento básico no Rio de Janeiro) fala que o carioca consume 45 metros cúbicos de água por segundo, porque dilui esgoto. Ou seja, quase tudo (volume de água) acaba indo para a (produção de) energia elétrica. A hidrovia Tietê é um exemplo: o governo federal parou porque priorizou a produção de energia elétrica, deixando a represa de Ilha Solteira seca. O ideal é planejamento, obra e uso racional.

Qual balanço o sr. faz da eleição presidencial?
A expectativa é boa. A eleição está bem equilibrada. No Estado, vamos trabalhar para ampliar a votação. Ele teve quase 44% dos votos aqui. A campanha (de Aécio) caminha bem. Mas temos de trabalhar e aguardar.




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