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Comissárias de bordo e a rotina familiar
Júlia Faria
Ciência Hoje/RJ
08/03/2010 | 07:02
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A escala de trabalho irregular pode se tornar elemento gerador de constante ansiedade na vida de comissárias de voo. Essa foi a conclusão obtida por Diana Bandeira durante o mestrado na Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Baseada na concepção de tempo como elemento estruturador das relações sociais estabelecidas pelos indivíduos, a pesquisadora aponta que tais profissionais têm o tempo social completamente invadido pelo do trabalho.

Por quase duas décadas, Bandeira atuou como comissária de voo e presenciou as dificuldades de suas colegas de trabalho para gerenciar compromissos profissionais e pessoais. Segundo a pesquisadora, a imprevisibilidade na escala de trabalho faz com que as profissionais organizem os momentos dedicados à família apenas após receberem o esquema de horários de voos definido pela companhia aérea. Assim, não podem participar de atividades que requeiram horários fixos ou estar presentes em eventos familiares e em datas importantes que não coincidam com os dias de folga.

TEMPO DIVIDIDO - A pesquisa mostra que o tempo escasso, perceptível até na própria dificuldade em estabelecer contato com as comissárias, é constante na rotina das profissionais. Segundo Bandeira, essa escassez ganha maior dimensão devido à existência de diversos tempos dentro do período de trabalho e de não-trabalho, em processo de fragmentação. Assim, ainda que não estejam em voo, as aeromoças podem estar distantes de casa e da família em função da rotina de trabalho.

Apesar de a regulamentação profissional determinar limite de 85 horas mensais em voo, as comissárias passam tempo maior afastadas de suas casas.

A distância implica a necessidade de reestruturação do ambiente familiar, como a ajuda de grupo de pessoas - formado por pais, marido e empregada - que passa a desempenhar as tarefas, em geral, atribuídas à dona da casa.

Esses intervalos longe da família, quando somados à imprevisibilidade de horários e à ansiedade pela publicação da escala de voos, transformam-se em fator gerador de muito sofrimento, aponta a cientista.

Segundo ela, as comissárias ressentem-se da impossibilidade de estarem disponíveis para seus familiares e da criação de uma rotina doméstica, uma vez que têm apenas oito folgas e um fim de semana livre por mês. Bandeira ressalta que esses fatores geram fadiga crônica e desgaste mental quando associados às condições físicas de trabalho, que incluem pressurização, mudanças radicais de fuso horário e altitude.

Entretanto, para a pesquisadora, além da imprevisibilidade e da fragmentação, o maior desgaste emocional ainda é causado pelo distanciamento da família. "A qualquer incidente, qualquer emergência com um filho ou outro parente, a comissária não pode interferir pessoalmente na situação, pois se estiver voando, seu retorno está condicionado aos horários de voo e às condições meteorológicas que podem determinar o fechamento do aeroporto, entre outros motivos", completa.




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