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Em Paranapiacaba, passarela secular passa por reforma

Serviço é bancado pela MRS; Prefeitura de Santo André espera conclusão até o festival

Por Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
14/06/2012 | 07:00
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Construída em 1899 sobre o corredor ferroviário de Paranapiacaba, a tradicional passarela de madeira e estrutura metálica que liga os dois lados da vila de Santo André está sendo reformada pela MRS Logística, concessionária responsável pelo uso da via férrea. Além de driblar o nevoeiro predominante no local, o desafio dos operários é concluir o trabalho até a abertura do 12º Festival de Inverno, previsto para julho - a Prefeitura informou ontem que ainda não tem data e programação concluída.

A meta, porém, não deve ser cumprida. A equipe do Diário esteve na terça-feira à tarde na vila. No local, cerca de dez homens da paranaense Construtora Roca, terceirizada da MRS, faziam a substituição parcial da estrutura metálica, além da troca do piso em madeira. Trabalho minucioso e delicado, realizado entre 8 e 13 metros acima da ferrovia, com a visão completamente encoberta pelo nevoeiro.

Um dos encarregados da construtora, que não quis se identificar, apontou que a conclusão dos trabalhos no local está prevista para agosto. "Isso se o tempo ajudar, porque temos de agir com segurança", reforçou. Procurada por dois dias seguidos, a MRS, com matriz em Juiz de Fora, Minas Gerais, e filiais no Rio de Janeiro e São Paulo, não respondeu aos questionamentos, inclusive sobre o custo da obra.

Mesmo que não seja concluído o serviço, os visitantes do festival não serão prejudicados. "Se o trabalho não for finalizado na passarela até julho, a locomoção do público e dos moradores será garantida com segurança e, se necessário, sobre tablados dispostos em alguns pontos", afirmou o arquiteto Sidnei de Oliveira Ramos, da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, vinculada à Prefeitura.

A passarela tem cerca de 170 metros de extensão, entre a parte plana e os dois trechos em rampa que dão acesso ao Largo dos Padeiros e ao Museu Funicular - antigo sistema que puxava os trens na subida da serra do mar.

Uma das preocupações na restauração, segundo o arquiteto, foi substituir parte dos gradis de proteção com a utilização de material mais transparente. "Uma forma para valorizar o elemento original, o guarda-corpo (em cabo de aço) da passarela construída no início do século passado", reforçou.

Convênio foi celebrado em 2011 entre Prefeitura e MRS para reforma da passarela - que teve início em março. No entanto, qualquer intervenção na vila, tombada como patrimônio histórico, tem de ser aprovada pelos órgãos competentes.

Vila acolhe baianos, russos e chinesa

Há cerca de quatro meses, 20 operários da Construtora Roca, do Paraná, que viviam em Acajutiba, cidade do interior baiano, trocaram a água de coco e o sol escaldante típicos do Nordeste pelo nevoeiro e clima úmido da vila ferroviária de Paranapiacaba, criada na metade do século passado - em 1860.

Na terça-feira, por volta das 15h, trabalhavam uniformizados e com equipamentos de segurança, inclusive óculos, sobre a passarela que liga as partes alta e baixa de Paranapiacaba. Ou melhor, se esforçavam para enxergar o prego e o martelo, tão forte era o nevoeiro.

"O clima é diferente aqui" foi o que constatou um dos trabalhadores de Acajutiba, que também preferiu não se identificar, 41 anos, casado e pai de dois filhos. A família, distante cerca de 2.000 quilômetros, ele só reencontra a cada 60 dias - a empresa, segundo um dos encarregados, banca os custos da viagem do grupo baiano.

Se para eles o nevoeiro em Paranapiacaba é paisagem distante, não foi o caso de Natalya Eremina e Gosha Krasnikov, 27 anos, casal russo que aportava pela primeira vez na vila. Originalmente, o local abrigava famílias de operários e engenheiros responsáveis pela Estrada de Ferro São Paulo Railway, que interligava o Porto de Santos a Jundiaí e foi construída para facilitar o transporte do café para exportação.

Os russos, ela jornalista, estavam acompanhados da simpática chinesa Liao Si, 24, professora de mandarim em São Paulo, além do também jornalista brasileiro e namorado de Liao, Lucas Frasão, 25, que fazia as vezes de cicerone dos turistas incomuns em Paranapiacaba. "Com esse nevoeiro, só com mapa mesmo para não se perder", afirmou Frasão, que ressaltou a hospitalidade dos moradores da vila.




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