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O amor em nova ordem

'A Guerra de Stephen', adaptada do livro 'O Poço da Solidão',
traz um romance lésbico em meio à Primeira Guerra Mundial

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
16/05/2012 | 07:22
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Em plena Primeira Guerra Mundial, num mundo esfacelado, Stephen, uma garota ‘invertida' criada como menino, trava sua própria batalha para descobrir o amor. Entre bombas e granadas, em espaço onde aparentemente reina a desumanidade e está próximo o fim da existência humana, o caos traz espaço à redenção e um mundo novo se ergue na história da personagem, que ganha força para assumir sua condição.

Inspirado no livro 'O Poço da Solidão', de Radclyffe Hall (1880-1943), a montagem 'A Guerra de Stephen', com adaptação e direção de Ronaldo Ventura, tem estreia gratuita no domingo, em São Bernardo, e discute o aceitar-se diferente em todas as esferas. Mariane Ribeiro e Marta Moreno compõem o elenco.

Considerado o primeiro romance lésbico, o livro da inglesa Marguerite Radclyffe-Hall - ela própria uma ‘invertida' destoante do padrão vitoriano - narra a história de uma garota que já nasce à parte de qualquer convenção.

Batizada com nome masculino por conta do desejo de seu pai em ter um menino, a protagonista desde cedo sabe que não pertence ao mundo para o qual nasceu: o da passividade e da procriação. O conflito é sentir-se plena onde não cabe espaço para amar e ser amada do jeito que deseja.

"A Stephen é uma guerreira. Um herói grego que sai do Olimpo para lutar contra si mesma e lutar contra o mundo em busca do amor", conta Ronaldo Ventura, que preferiu adaptar o trecho do livro no qual a personagem parte para a guerra por ver no episódio a força para discorrer não só sobre a quebra da personagem com seus conceitos e os das pessoas ao seu lado, mas também o processo de transformação que as disputas territoriais do início do século passado imputaram.

"O texto é o reflexo de toda a humanidade. A Primeira Guerra Mundial destruiu e formou impérios, acabou o dinheiro, acabou a comida. O mundo estava acabando naquele período e não existia espaço para o amor, até porque, se houvesse, não existiria a guerra", completa Ventura.

No front, o contato com uma jovem irlandesa, já nos três últimos meses da batalha, modifica Stephen. "Até o momento a única coisa firme em que ela poderia se apoiar era um amor impossível, porque para ela não era correto o seu estado e não era possível a realização de um amor entre duas mulheres. É quando, então, ela descobre que pode ser amada", conta Ventura.

DISCUSSÃO
'O Poço da Solidão', que tem mais de 80 anos de existência, e que surgiu em contexto muito diferente do de hoje, quando não havia brecha para a discussão da diversidade dos gêneros humanos, ainda hoje, para Ventura, é uma obra que deve vir à tona.

"Parece que nessa questão damos dois passos à frente e voltamos um. Vejo necessidade de martelar esse assunto, insistir na discussão. No Brasil, vejo que temos coisas bacanas relativas à questão, mas nem tudo está resolvido. A Parada Gay, de repente, vira uma festa, todo mundo vai: pai, mãe, família. Mesmo assim a gente vê casos de agressão contra homossexuais", diz o diretor.

A Guerra de Stephen - Teatro. Domingo, às 19h. No Teatro Lauro Gomes - Rua Helena Jacquey, 171, São Bernardo. Tel.: 4368-3483. Grátis.




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