Setecidades Titulo Abastecimento ilegal
Rede clandestina de água
abastece 24,3 mil famílias

Maior parte das ligações irregulares está em São Bernardo,
onde 11 mil residências são abastecidas por meio de 'gatos'

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
16/01/2012 | 07:24
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Cerca de 24.300 famílias que residem no Grande ABC ainda fazem uso de ligações improvisadas para ter acesso à rede de água. Geralmente localizados em áreas de proteção ambiental e com risco de deslizamento, estes moradores não pagam nada pelo recurso. A maior taxa de clandestinos está em São Bernardo, onde 11 mil residências são abastecidas por meio de ‘gatos'.

Estimativa da Sabesp aponta que 12 mil imóveis têm ligações irregulares de água, sendo 11.000 em São Bernardo, 700 em Ribeirão Pires e 300 em Rio Grande da Serra. Mauá concentra aproximadamente 10 mil ‘gatos' de água, enquanto em Diadema 2.300 famílias utilizam o recurso de forma irregular. Não há registro de consumo clandestino de água em São Caetano e Santo André não soube informar os números.

Além do prejuízo financeiro, estimado em R$ 4,6 milhões pela Sabesp e que as demais companhias não souberam estimar, as ligações irregulares trazem riscos à população no que diz respeito à saúde, já que muitas ligações são feitas próximas à rede de esgoto sem canalização. "Por se tratar de áreas geralmente de aglomeração de pessoas que vivem em péssimas condições, aumenta muito o risco de contágio de doenças, como diarréias e vômito", comenta o superintendente da Unidade de Negócios Sul da Sabesp, Roberval Tavares de Souza.

Outro risco, este silencioso, porém fatal, é o de deslizamentos, intensificados no período de chuvas. Como não há controle a respeito do material utilizado para efetuar as conexões e nem da forma como são feitas, as malhas improvisadas são mais suscetíveis a vazamentos. Outro problema observado é a baixa pressão na rede, que pode resultar em intermitência no abastecimento. Isso porque as ligações exigem do sistema mais volume de água para o qual foi projetada para fornecer.

PROGRAMAS

Apenas a Sabesp informou ter metas para minimizar o consumo irregular neste ano. A companhia tem expectativa de regularizar 1.200 ligações de água, sendo a maior parte em São Bernardo. O processo, por vezes demorado e difícil, caminha ao lado de programas de regularização de núcleos habitacionais, como é o caso do bairro Capelinha, onde recentemente foi iniciado processo de urbanização.

Em Mauá, a Sama estima que 10% das ligações - 100.472 - sejam clandestinas. No entanto, a empresa de saneamento diz não ter nenhum programa específico ou metas para reverter o quadro.

Atualmente, há, em média, 566.536 ligações regulares de água no Grande ABC.

 

Torneiras secas também são problema

Em meio aos ‘gatos', nem todas as famílias estão satisfeitas com o fato de não pagarem nada pelo consumo de água. Isso devido à falta de qualidade do abastecimento irregular, somado aos riscos de doenças.

Há cinco anos, a vendedora Iolanda dos Santos Leme, 43 anos, tenta regularizar sua situação junto à Sama, companhia de abastecimento de água de Mauá. No entanto, por morar em área de risco, não consegue o benefício. A moradora do Jardim Oratório há 16 anos diz já ter cansado de precisar recorrer ao improviso para ter água nas torneiras de sua casa, tanto que pretende se mudar com a família para o estado de Minas Gerais.

"Teve tempo que a gente precisava sair com a bacia de roupa nas costas para procurar um vizinho que tivesse água", lembra Iolanda. A comunidade já chegou a ficar por até 11 dias sem o recurso, necessitando de caminhão-pipa para abastecer as casas. Atualmente, o principal problema de grande parte dos moradores que ainda não pagam nada pelo consumo de água é a instabilidade do sistema. "Só temos água à noite, quando enche a caixa", diz a vendedora.

A alternativa encontrada pela ajudante geral Ademilda Leite Vaz Pereira, 37, foi dividir o registro com a vizinha. Apesar de utilizar água por meio de uma ligação irregular, ela paga pelo consumo de sua família. "No fim do mês a gente divide a conta em dois", revela. A regularização, solicitada por duas vezes, não é possível porque o nome da rua onde reside há seis anos está errado na conta de energia (utilizada pela distribuidora de água como comprovante de endereço). (NF)

 




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