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Vamos fazer um disco
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
02/10/2011 | 08:09
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A internet, o cenário do caos para quem previu no início do século a falência das mídias físicas musicais, tem sido espaço ideal para alavancar iniciativas que mostram que há luz no fim do túnel.

O crowdfunding, prática que os brasileiros têm ouvido falar bastante, consiste na mobilização do público para viabilizar seus desejos sem necessidade de apoio ou patrocínio e vem tomando forma e se mostrando boa alternativa para os artistas independentes conseguirem dar um passo além.

Caso dos roqueiros do Velhas Virgens, que conquistaram seu primeiro DVD através dos lances dos fãs. Cada um, pela internet, ajudava com uma quantia e, em contrapartida, recebia recompensas que iam de camisetas e autógrafos até composição de música especial com o nome dos colaboradores mais generosos.

"Iríamos fazer o DVD de qualquer jeito, mas acho que ele ia ter qualidade um pouco inferior. Pudemos, também, através do processo pagar gente a quem daríamos apenas tapinha nas costas, que haveria de nos ajudar por camaradagem", conta o guitarrista Alexandre Cavalo.

Em 90 dias, foram 500 colaborações, com arrecadamento de R$ 33 mil.

Ele conta que todos ficaram desconfiados no início, inclusive achando que não teriam fãs suficientes para apoiar a iniciativa. "O lance mais caro era para o que recompensamos com música com o nome da pessoa. Achei que seria o menos vendido e foi o contrário."

INICIATIVA - Sites específicos para a prática têm surgido. Um deles, bolado pelo músico e produtor Tom Retamiro, de São Bernardo, e seu amigo, Rodrigo Bruno, pensa além. É o www.selofan.com.br, que pretende, além de plataforma de crowdfunding, ser selo fonográfico de mídias diversas.

O primeiro lançamento é o playbutton da banda Medulla. O dispositivo é um button que armazena exclusivamente as canções colocadas nele.

"Esse conceito popularizou a música independente nos Estados Unidos. O mainstream é difícil de alcançar e tem muita gente que tem material bom, mas não tem dinheiro para bancar suas criações. São pessoas, às vezes, que querem o disco para amigos e parentes, que acabam patrocinando o projeto", conta Retamiro sobre o público que o selo pretende atingir.

Para ele, novidade é algo imprescindível para o sucesso do crowdfunding. "Lançar um CD é muito mais fácil, mas acaba sendo obsoleto. Não adianta usar a internet para fazer o mesmo de sempre". Vinil, livro, playbutton, tudo entra nessa categoria de diferencial, que, claro, varia de acordo com o projeto da banda.

"O artista tem que ter como aliada a tecnologia para fazer tudo que gosta, aquilo que ele mais entende da forma que achar mais significativa. Hoje é possível fugir dos esquemas das grandes gravadoras, de abrir o saquinho, colocar no pacote e mexer até ficar pronto. Qualquer um pode agregar seu conteúdo de maneira personalizada e exclusiva", acredita o produtor.

A parceria com que isso se dá não traz benefícios somente para os fãs. "Você descobre que está fazendo show para gente que compra a sua música porque gosta muito dela, porque é afoito, gosta de participar. Às vezes o artista se esquece do que mais interessa para ele, que é o fã", conta Cavalo.

Rede de iniciativas

A web também serve para que outros projetos circulem e se ampliem, movimentando lugares onde antes não havia nada. Um exemplo de crowdfunding que ultrapassa o formato físico é o projeto do site www.queremos.com.br. Organizado por cariocas, aqueceu a cena musical na cidade formando uma rede de interessados em ver shows que dificilmente chegariam à Cidade Maravilhosa, exemplos de Belle and Sebastian e LCD Soundsystem.

Os interessados pagam um valor e compram a apresentação. Quando o dinheiro para bancar a vinda do artista está garantido, começam as vendas de ingressos, que vez ou outra obtêm tanto retorno que faz com que os compradores sejam restituídos e assistam ao show gratuitamente.

ARTE COLETIVA - Coletivos artísticos, como o Coletivo Marte, que atua no Grande ABC, são outras formas de mobilização. Criados em regiões onde nada acontece, eles se incentivam em prol de uma marca cultural de relevância e se apóiam intercambiando artes, mas com poucos recursos, oferecendo teto e comida a artistas que vêm de fora.

André Lucio, que além de músico da banda andreense El Paso!, é também do Marte, conta que o intercâmbio de artistas é difícil, porque é mais baseado na camaradagem do que no dinheiro.

"Temos um ideal comum em regiões diferentes pela carência de coisas e lugares legais para vermos, que integrem arte em geral. Nosso poder é o do diálogo", diz o músico.




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