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Silêncio e isolamento podem ser sinais
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
25/09/2011 | 07:30
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O caso do garoto de 10 anos que se suicidou com um tiro na cabeça após alvejar a professora na Escola Municipal de Ensino Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano, na quinta-feira, trouxe à tona novamente uma discussão que preocupa os pais e acende o debate sobre a negligência na educação dos filhos.

Enquanto a população e médicos se apressam para traçar o perfil do garoto e buscar alguma motivação aparente que o levou a tomar essa atitude, especialistas aproveitam o ensejo para alertar os pais sobre como identificar possíveis sinais de anormalidade no comportamento da criança ou adolescente. Algumas posturas suspeitas, se interpretadas a tempo, podem evitar tragédias como a que comoveu o Grande ABC e todo o Brasil há três dias.

Na opinião da especialista em psicologia infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Elisabete Brandão, muitas vezes o detalhe nas atitudes dos filhos é o que mais sinaliza alguma estranheza. Para ela, é possível evitar uma catástrofe como essa. "Dar atenção não se traduz apenas na fala. Mas no olhar e no interesse do pais pela vida do filho. De repente a criança gosta de armas. Vale perguntar: será que ele tem vontade de atirar em alguém? Quando os sinais estão em estágio inicial, é possível dissolvê-los na primeira hora e, se for o caso, buscar tratamento", explicou a especialista, que afirmou desconfiar de que o garoto não tenha apresentado nenhum desvio de comportamento nos últimos dias. "Algum planejamento ele fez. E foi eficiente", completou.

O silêncio e o isolamento também podem ser indícios de que algo está errado, na avaliação do especialista em adolescentes da PUC-SP, Miguel Perosa. "O primeiro sinal é a perda do contato e da espontaneidade. Além disso, é preciso ficar atento se o filho reage impulsivamente às críticas ou com o fracasso. No geral essas ações têm relação com a vulnerabilidade", associou.

No caso de Davi Mota Nogueira, que morava com os pais e o irmão mais velho no bairro Mauá, colegas de classe e parentes próximos à família relataram que o estudante era divertido, carismático, religioso e tinha boas notas. Nenhuma pessoa indicou que suspeitava de algum possível transtorno mental ou de personalidade. 

CAUTELA
Para a pesquisadora da Universidade Federal de Goiás, especialista em psicopatologia clínica e psicologia da Saúde, Margareth Veríssimo de Faria, é preciso ter cuidado ao comparar as situações. "Quando buscamos uma explicação determinista são criados rótulos e estigmas. Existe a cultura de relacionar doença mental com crimes e violência, o que não é mais aceito. A sociedade tem esse ranço e é uma crítica dos estudiosos da área hoje em dia. Essas pessoas já são excluídas e precisam de respeito e atenção."

A especialista não arriscou destacar indícios que poderiam ser notados pelos pais no dia a dia. Para ela, os casos são singulares. "Não há receita específica. Os pais precisam estar atentos de forma geral. Acho imprudente achar alguma explicação sem avaliar a pessoa."

 

‘Ter arma em casa é como guardar um barril de pólvora' 

Portar um revólver deixou de ser sinônimo de segurança quando o objeto é escondido em casa. A proteção sai pela culatra e o risco à vida de crianças e adolescentes aumenta. A arma é a principal causa de mortes entre jovens no Brasil. Quem guarda despretensiosamente o objeto em casa pode transformar um cidadão comum em criminoso do dia para a noite.

No caso do estudante Davi Mota Nogueira, a arma foi achada dentro de casa, provavelmente em lugar de fácil acesso. O pai, um guarda-civil de São Caetano considerado exemplar, deu falta do revólver tarde demais. "Ter arma em casa é como guardar um barril de pólvora. Alguma coisa de ruim irá acontecer. Quantos acidentes acontecem apenas brincando? Se houver necessidade de ter, que tranque em local inacessível. Além disso, não é fácil manejar uma arma. Em algum momento essa criança aprendeu a atirar. Envolve precisão", alertou a especialista em psicologia infantil da PUC-SP Elisabete Brandão, referindo-se aos cuidados a serem tomados pelos pais.




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