A degradação da Avenida dos Estados entra em mais uma fase e novamente o Rio Tamanduateí exibe marcas do desleixo do poder público. A erosão das margens prejudica o asfalto, provocando desnivelamento e fissuras que se unem às rachaduras e brechas deixadas pelas obras que correram todo o perímetro da avenida em Santo André. A cidade é a única que não reduziu o limite de velocidade, mas para motoristas que acessam frequentemente a via, os defeitos na pavimentação são suficientes para tornar o trânsito ainda mais lento.

No início de março, por exemplo, as pontes que formam a rotatória entre as avenida Antônio Cardoso e Estados foram seriamente danificadas por conta da erosão. O local teve de ser interditado, impedindo a passagem dos trólebus. Reclamações surgem de todos os lados: moradores, motoristas, pequenos e médios comerciantes que trabalham na via. A Secretaria de Obras de Santo André e o Semasa (Serviço de Saneamento Ambiental) empurram as reclamações para o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), responsável legal pela bacia do Tamanduateí.

Desta vez, após anos sem qualquer solução para a deterioração do rio, o órgão estadual informou que iniciou em 16 de julho o processo de licitação para recuperação de trechos críticos das margens do rio. As propostas devem ser entregues até 17 de agosto.

Ao todo, as intervenções devem reestruturar 1.200 metros das margens. Em nota, o DAEE reconheceu a extensão do problema. "O projeto prevê intervenções no trecho que vem apresentando sérios problemas de erosão de margens, com risco de comprometimento das pistas da Avenida dos Estados", destacou a nota. Contudo, as obras devem começar daqui a três meses, adentrando o período de verão, quando acontecem as chuvas mais fortes do ano.

O superintendente adjunto do Semasa, Dovilho Ferrari Filho, afirmou que a autarquia cobra com frequência reparos no leito do Tamanduateí. "O rio recebeu obras de canalização no trecho que compreende a Capital. Isso aumentou a velocidade do curso e, consequentemente, afeta as margens próximas à cabeceira", explicou.

MAIS DO MESMO

Moradores de Santo André que vivem há mais de 30 anos na Avenida dos Estados afirmam que a situação da via remete à década de 1980, quando parte do calçamento era feito de paralelepípedos. Mais que isso, o assoreamento que atinge a pavimentação causa preocupação a quem passa por ali todos os dias. "Muita gente comenta sobre esses buracos. Hoje, o rio está mais largo e cheio de falha", observou o comerciante João Clemente Bispo Porto, 57 anos. Há 30 ele mantém botequim na Viela 406, que dá acesso à Rua Ipiranga. "Uma hora tudo isso vai desabar", previu em tom de brincadeira.

Samuel Rui Barbosa, 29 anos, trabalha com o pai em uma loja de peças automotivas na altura do número 6.700. Ele relembrou que há 15 anos os carros sofriam menos com a situação das pistas. "Hoje é uma bagunça a Avenida dos Estados. O carro desgasta muito com os buracos e remendos da avenida."

Instalação de dutos contribui para desgaste da via 

No ano passado, a Prefeitura de Santo André permitiu que a iniciativa privada tomasse três faixas da Avenida dos Estados para construção de dutos que vão levar água de reúso para o Pólo Petroquímico. A permissão foi dada antes de qualquer manutenção no asfalto, sinais de trânsito e pontes sobre o Rio Tamanduateí.

A instalação dos dutos do projeto Aquapolo Ambiental começou na divisa com Mauá, no Parque Capuava. O corte rumou até a altura da Rua do Ouro, divisa com São Caetano - que, ao contrário de Santo André, negociou para que os dutos fossem instalados ao longo do terreno da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Assim, o motorista que passa pelo trecho andreense da Avenida dos Estados tem de tomar cuidado com a movimentação de maquinário pesado. O recapeamento dos trechos perfurados ficaram deficientes e contribuíram para o desnivelamento próximo às margens. Outra reclamação dos motoristas é quanto à falta de agentes de trânsito, que, quando aparecem, apenas aplicam multas.