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Dom para fazer rir
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
19/09/2010 | 07:51
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Dizem que é mais difícil arrancar risadas do que lágrimas e que poucos têm talento para transformar uma situação complicada em comédia. Quem consegue, garante que a vida fica mais leve. Em geral, percebe-se quando vão surgir grandes humoristas ainda durante a infância e adolescência.

Não que esse seja o objetivo de Leonardo Cabello, 14 anos (quer ser engenheiro da aeronáutica) mas, segundo ele, as brincadeiras fluem normalmente e fazem parte da sua rotina em casa e na escola. "Não fico pensando no que vou falar. A piada aparece, meu sobrenome já é uma (Cabello). Dou risada de mim mesmo", conta o menino, que era tímido. "O teatro ajudou a me soltar. Hoje, fazer humor é meu trabalho. Respondo uma piada com outra", brinca.

As amigas de classe concordam que Leonardo tem muito talento para fazer os outros caírem na gargalhada. "Ele é engraçado até quando fica de mau humor", diz Gabriela Albanese, 15. Amanda Silva, 14, também dá risada com as piadas, mas admite que a agitação do menino atrapalha um pouco a aula. "Os professores puxam minhas orelhas, mas esse é o meu jeito. Não sou tão mau aluno", acredita Leonardo.

Guilherme, 10, o irmão mais novo, não vê graça. "Dou risada da cara dele e não dele", diz o menino, que conta que o pai também gosta de piadinhas.

Forma de expressão - Para o psicólogo Paulo Machado, há várias explicações para uma pessoa ser engraçadinha. "É forma criativa de desenvolver-se socialmente ou ainda pode ser uma maneira de compensar a baixa auto-estima", explica. Segundo ele, ter bom humor é ótimo, desde que essa não seja a única forma da pessoa se relacionar.

É o melhor remédio
Especialistas garantem: há muitos benefícios no ato de sorrir. Os médicos gregos da antiguidade já recomendavam que pacientes dessem risada para ajudar no combate a doenças. Um psiquiatra da Universidade de Stanford, na Califórnia, notou que era necessário menor quantidade de medicamentos contra a dor se a rotina fosse de bom humor.

Isso acontece porque a risada aumenta a endorfina, que relaxa as artérias, melhora a circulação e beneficia o organismo. Além disso, estimula a produção de adrenalina, o que faz com que os tecidos recebam mais oxigênio. Também ajuda a relaxar, facilita a cura da depressão e insônia, fortalece o coração, ajuda na digestão, aumenta os níveis de criatividade e imaginação.

Por isso foi criada a Ong Doutores da Alegria. A ideia surgiu em 1986 com o palhaço americano Michael Christensen, que resolveu alegrar crianças hospitalizadas. Um brasileiro trouxe o conceito para cá em 1991.

A missão é, simplesmente, levar alegria aos pacientes, seus pais e profissionais de saúde. Para ser um Doutor da Alegria é preciso ser artista profissional - palhaço ou ator especializado na linguagem do palhaço, com registro na Delegacia Regional do Trabalho.

Cuidado para não extrapolar
Piada também tem limite? "Há grande diferença entre rir com alguém e rir de alguém. Tudo muda quando somos surpreendidos sendo o motivo da piada", explica o psicólogo Paulo Machado. Por isso, é bom ficar atento com o que diz.

"Sou rápido nas respostas, muito sincero e sarcástico. Por isso, às vezes sei que deixo mágoas", conta Lucas Gusmão, 16 anos, que é assim desde criança. "Adoro imitar as pessoas." Quando ele é o zoado, também não perde a chance de rir. "Não ligo, de verdade."

Safire Lima, 15, também tem o humor correndo nas veias. Ela jura que nem se acha tão comédia, mas gosta de viver sorrindo. "Se estou com a cara mais fechada, todo mundo pergunta o que tenho. É bem engraçado." Para Safire ter bom humor não significa necessariamente ser mau aluno. "Os professores chamam a minha atenção porque sou agitada, mas tiro boas notas."

Já Lucca Ferronato, 16, não manda tão bem nas provas, mas mesmo assim não perde a alegria. "Se posso rir e chorar, escolho a primeira opção." O garoto também aproveita as reuniões de família para treinar piadas e imitações. Quando quer falar sério, encontra dificuldades. "As pessoas não dão crédito, acham que estou brincando."

Piadinhas bombam na internet
Com a explosão da tecnologia, ficou mais fácil para os engraçadinhos gastarem energia. Vira e mexe, aparecem personagens que fazem humor na rede ou quem é pego em situações constrangedoras e torna-se conhecido sem saber. O YouTube está cheio. São os webhits.

Na premiação da MTV (VMB) há uma categoria que escolhe os melhores. Este ano, concorreram a expressão do Twitter ‘Cala a Boca Galvão' (que foi notícia do jornal The New York Times), o vídeo ‘Dunga em Um dia de Fúria', a paródia ‘Justin Biba', a garota que disse ‘Puta Falta de Sacanagem' e o bocejo ao vivo do apresentador do Fantástico Zeca Camargo.

Há também sites que sobrevivem no meio virtual fazendo os outros sorrirem. Entre os mais conhecidos estão www.humortadela.com.br, que tem charges, vídeos e animações; www.orapois.com.br, com coletânea de piadas; www.jacarebanguela.com.br, com fotos inusitadas.

Já os Twitteiros com veia mais cômica são os próprios humoristas (@DaniloGentili, @rafinhabastos, @marcoluque, @mionzera, @oceara, @barbixas) e outros que são engraçados, mas não tão conhecidos como @hugogloss, @nairbello, @Ocriador.

Danilo Gentili e seu humor ácido
Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Marco Luque (do CQC), além de Leandro Hassum e Marcius Melhem do Zorra Total, da Globo, foram apontados como os mais engraçados pelos entrevistados do D+. Danilo, que vai completar 31 anos no dia 27, é de Santo André e especialista em stand-up. Ele também escreveu o livro Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (Panda Books, 165 págs., R$ 22,60). Confira o que disse:

Você sempre foi palhaço?
Sim. Costumava me dar bem com todos. Mas, para os professores acredito que não tinha graça.

O que fazia?
Esperava a deixa na explicação da matéria para soltar piadinha, desenhava os professores e bolava planos.

Sentava no fundão?
Sim, encostado na parede e, de preferência, do lado da janela. Esse costuma ser o trono do aluno engraçadinho porque dá visão da sala toda.

Os professores e diretores não gostavam de você?
Devem não gostar mais hoje ao verem o meu salário.

Quando descobriu que podia ser comediante?
Quando percebi que qualquer um podia ser.

Você é um engraçadinho que deu certo?
Não, dei errado. Se eu tivesse dado certo não estaria vivendo de comédia hoje em dia.




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