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Sexta-Feira, 3 de Maio de 2024

Entrevista da Semana
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Entrevista da semana
‘Cidades têm de fazer a lição de casa até 2032’
Cleber Ferrette
22/04/2024 | 08:54
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FOTO: Claudinei Plaza/DGABC


Um dos mais renomados empresários do ramo contábil do Grande ABC e diretor do Instituto Fundação Santo André, Kleber Okumura Paiva chama a atenção para a necessidade dos municípios do Grande ABC se prepararem para a entrada em vigor definitiva da Reforma Tributária, em 2032, situação que, segundo ele, criará regras econômicas igualitárias e não permitirá mais a Guerra Fiscal, que acometeu a região nos últimos anos e pode ter contribuído para o processo de desindustrialização. O executivo fala sobre a necessidade das cidades reservarem áreas e atualizarem seus planos diretores de modo que propiciem a atração de empresas, sobretudo na área de transformação e tecnologia. Kleber Paiva também destaca a importância do Instituto para auxiliar o poder público nessas discussões.  

Nome: Kleber Paiva
Estado civil: Casado
Idade: 48 anos
Local de nascimento: Santo André, Hospital Bartira
Formação: Bacharel em Ciências Contábeis pela Fundação Santo André
Hobby: Estar com a família e amigos
Local predileto: Interior de São Paulo
Livro que recomenda: Os Miseráveis, de Victor Hugo
Artista que marcou sua vida: Renato Russo
Profissão: Empresário
Onde trabalha: KPCON

O que é o Instituto Fundação Santo André e qual a sua função?

O Instituto Fundação Santo André é um braço de fomento à Fundação Santo André para buscar recursos por meio de serviços que ajudem a alimentar os contas da instituição. A entidade viveu anos dourados, teve um crescimento muito grande e chegou na casa dos 10 mil alunos. Criou a Faculdade de Engenharia e construiu novas instalações, o laboratório. Só que de alguns anos para cá houve o boom do ensino superior, o que aumentou a concorrência e reduziu bastante o número de alunos ingressando na instituição andreense. Outra coisa é que grande parte dos professores da instituição eram concursados, com estabilidade e com alto salários comparado ao mercado. Mais uma vez vem a concorrência pagando menores salários e tendo menos custo administrativo do que a Fundação. Desta maneira, a entidade teve que buscar novos meios de subsídios, precisando captar recursos por meio de parcerias com empresas tipo Mercedes ou Ford. Em determinado momento, discutiu-se a possibilidade dela prestar serviço para as Prefeituras e também para a iniciativa privada, e uma das formas sugeridas foi a criação do Instituto. A proposta passou pelo Conselho da instituição, teve a anuência do Ministério Público e então foi autorizada sua criação.

O Instituto tem cumprido esse papel de trazer recursos financeiros para a Fundação Santo André?

Podemos dizer que o Instituto ainda engatinha. Nós temos um case, alguns trabalhos já executados de concursos, de educação, de escola de governo, o que tem servido para arrecadar alguns valores, mas nada substancial, que tenha impactado de forma significativa nos cofres da instituição. Porém, há uma expectativa de que nos próximos anos isso possa crescer.

Com relação à saúde financeira da instituição, depois de ter enfrentado uma dura crise, é possível dizer que a Fundação Santo André está com as contas equilibradas, nos eixos?

Sem dúvida. A Fundação Santo André hoje está em uma realidade financeira diferente, mas ainda não 100% confortável, porém, muito melhor do que anos atrás, como entre 2015 e 2018, por exemplo. Houve uma nova política administrativa instituída ainda pelo então reitor Francisco Milreu, que, por questões internas, acabou deixando a instituição. e continuada pelo atual reitor, Rodrigo Cutri, que tem feito um ótimo trabalho e ajudado muito a instituição. Foram obrigados a cortar na carne um quadro especial de docentes, fizeram uma renovação que permitiu sanear as finanças e a instituição vem conseguindo agregar novos alunos. Hoje, eu diria que a Fundação é muito viável e a perspectiva para os próximos anos é que ela só tenda a crescer.

Como o Instituto Fundação Santo André pode contribuir com a regionalidade?
Pode ajudar e muito diagnosticando as necessidades regionais e apontando caminhos para superar alguns gargalos existentes, sobretudo para o desenvolvimento econômico das sete cidades.

E quais são os principais desafios, na sua avaliação?
A questão logística, sem dúvida, o que considero fator preponderante para a região ser acometida pela guerra fiscal nos últimos anos. O Grande ABC não tem sido favorável para novos investimentos. Isso é fato. Agora, mais do que nunca, os municípios precisam se preparar para 2032, quando a Reforma Tributária entra definitivamente em vigor. Com isso, investir na região será tão interessante quanto investir em outro município. Deste modo, quem estiver mais bem preparado, reservado áreas dentro do Plano Diretor específicas para o investimento na indústria, sobretudo na indústria de transformação, que tem alto valor agregado, pode se dar bem.

Fale um pouco mais sobre o problema de logística citado na questão anterior.
Então, tirando a questão da guerra fiscal, o que sobra para o Grande ABC discutir são espaços para se montar as indústrias, por exemplo. Hoje, se for procurar pela região, dificilmente vamos encontrar locais que possam atrair investimentos. As Prefeituras dedicaram muitas áreas para construir habitações, mas acabaram esquecendo de deixar áreas para gerar riquezas, como a atração de indústrias das mais diversas áreas. Às vezes, tem quem queira produzir, mas não tem o local para poder montar uma indústria. E caso ainda exista um ou outro espaço, talvez já não sirva mais para aquele determinado tipo de ramo industrial porque há muitas moradias próximas e a área acabou se tornando hostil para o negócio. Então, recapitulando, entendo que a região precisa estar cada vez mais atenta à questão das áreas, locomoção, o fácil acesso às rodovias, Rodoanel e Porto de Santos. É isso que define o tipo de investimento que será atraído no futuro.

O sr. concorda que o processo de desindustrialização mudou o perfil econômico do Grande ABC?
Sem dúvida. A região se tornou polo prestador de serviços, porém, prestador de serviço de baixo valor agregado. A grande maioria das empresas que hoje se instala por aqui é de atacarejos. Não quero depreciar a atividade, de forma alguma. É um setor que gera empregos. Quando eu falo que a região precisa se preparar, estou me referindo à atração de empresas que gerem riqueza social e financeira, como o ramo de tecnologia, por exemplo. E mais uma vez entra a importância do Instituto Fundação Santo André, que pode contribuir com a expertise do corpo docente da instituição e unir esforços com o poder público para encontrar caminhos para um futuro melhor para o Grande ABC.

A Assembleia Legislativa está levantando o debate sobre a necessidade de uma terceira rodovia que ligue a Capital ao Litoral. O governador Tarcísio de Freitas, inclusive, já autorizou estudos sobre o tema. O que você acha dessa iniciativa?
Eu falei que, acabando com a guerra fiscal, investir no Grande ABC será tão interessante quanto investir em qualquer lugar. A região é o ponto mais próximo do maior porto da América Latina. Então, melhorar a malha viária só tornará a região ainda mais favorável para investimentos, sobretudo para a indústria da transformação. Uma terceira pista ligando a Capital ao Porto melhora para todo mundo, beneficia, inclusive, o escoamento de mercadorias e matérias-primas que vêm de outras localidades. O Estado de São Paulo ganha com isso.

O que mais o sr. enxerga como possibilidade de desenvolvimento econômico para a região?
Por que não pensarmos em portos secos? É outro atrativo que entra naquilo que eu falei dos planos diretores, de pensar qual é o (Grande) ABC que nós queremos no futuro.

Outro assunto que o o sr. tem abordado muito em suas entrevistas é a questão do Desenrola, do governo federal, programa para que as pessoas possam negociar suas dívidas e regularizar o nome na praça. Essa iniciativa tem funcionado?
O programa Desenrola vem ajudando muita gente. Já são mais de R$ 40 bilhões negociados no País. Além de oferecer a oportunidade de negociar dívidas de até R$ 20 mil, o programa tem chamado a atenção para a questão da educação financeira, tema, inclusive, que entendo que deveria fazer parte do currículo escolar. Eu ainda não tenho estratificado o impacto do programa no Grande ABC, mas me parece que a adesão não tem atendido as expectativas. Até li nesse próprio Diário que o programa teria impactado somente cerca de 4% dos endividados da região. Se esses dados forem reais, acredito que está faltando o envolvimento do poder público municipal nesta questão. Falta auxílio na divulgação, no esclarecimento à população, bem como no desenvolvimento de políticas públicas a esse respeito. Talvez seja necessária uma força-tarefa entre as sete cidades e o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. É preciso unir forças com o governo federal. É preciso investir mais nessa pauta porque os cidadãos endividados são dentes a menos na engrenagem econômica dos municípios. Já o contribuinte que tem seu nome regular na praça é aquele que vai fazer girar a economia. Uma população saudável economicamente é um município saudável também.
 



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