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Domingo, 28 de Abril de 2024

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‘Região voltará a ser símbolo da nossa economia’, afirma Lula

Em entrevista exclusiva ao Diário, presidente comenta sobre economia e futuro do Grande ABC

Raphael Rocha
02/02/2024 | 07:00
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Ricardo Stuckert/PR


O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acredita que o Grande ABC tem capacidade de voltar a ser “símbolo” da economia brasileira, posto que ostentou durante o início da segunda metade do século passado, com a chegada das grandes montadoras para a região. Para isso, diz o petista, em entrevista exclusiva ao Diário, será necessário investir em mudança de matrizes econômicas e formação de mão de obra qualificada, algo que, segundo ele, está em estudo dentro do governo federal. Ele prometeu a construção de Institutos Federais em Diadema e em Mauá e comentou sobre o suporte da União para projetos de eletrificação de automóveis – inclusive para fábricas instaladas no Grande ABC. “Toda a população do Grande ABC pode estar certa de que muito mais investimento virá neste ano e nos próximos, para estimular o desenvolvimento e a qualidade de vida nos sete municípios da região”, declarou Lula. O presidente, que emergiu politicamente no Grande ABC com as grandes greves sindicais dos anos 1970 e 1980 e que fundou o PT, tergiversou ao responder sobre as eleições municipais: “O cenário ainda está se consolidando”.

O sr. participa de uma atividade na Volkswagen, símbolo da virada de chave da economia do Grande ABC. Recentemente, o sr. esteve reunido com diretores da GM e da BYD, apostando em investimento em eletrificação de carros. Esse é o caminho para o futuro da indústria automotiva do Grande ABC e brasileira?

Nos últimos anos houve pouco investimento nas indústrias, também porque o Brasil estava com pouca perspectiva de futuro, e um discurso absurdo na questão ambiental, completamente fora de compasso com o mundo. Esses investimentos em modernização das fábricas, carros elétricos e híbridos são fundamentais para o Brasil manter e ampliar sua indústria automobilística. Investimentos não só para o mercado interno mas também para o Brasil servir de plataforma de exportação para outros países.

O Grande ABC ficou muito conhecido também por formar mão de obra extremamente qualificada para trabalhar nos parques fabris, tanto que o custo dessa mão de obra era superior a outras partes do Brasil. O que se viu nas últimas décadas foi uma automatização dos processos e essa mão de obra superqualificada para trabalhar em plantas antigas ficou ultrapassada. De que forma o Governo Federal pode funcionar como indutor de formação de mão de obra qualificada para a região?

O perfil do Grande ABC também mudou. Hoje, há 763 mil trabalhadores formais na região, sendo que, em 2023, criamos 16,4 mil novos postos de trabalho. No entanto, apenas 23% do total de trabalhadores estão na indústria. Nas últimas décadas, o perfil do emprego no Grande ABC ficou mais parecido com o resto do País, majoritariamente composto por serviços e comércio. Já nos meus governos anteriores observamos essas mudanças e trouxemos uma demanda da região de muito tempo, criando a Universidade Federal do ABC. O governo federal seguirá investindo em ensino superior e Institutos Federais de ensino técnico. Vamos abrir novos Institutos Federais em Diadema e Mauá. Além de estarmos investindo agora em educação integral, e formação em setores como tecnologia da informação, em setores ligados a transição energética e na chamada “economia de cuidados”. Estamos elaborando um “PAC dentro do PAC” para qualificar as pessoas para os novos empregos que virão de todos esses investimentos produtivos, com a criação de mais 100 Institutos Federais e coordenando a oferta de formação com o Sistema S. E trabalhando para fortalecer a economia brasileira e a demanda por trabalhadores como um todo e precisamos cuidar das duas pontas: de gerarmos mais empregos de um lado e darmos formação para as pessoas serem capazes de conseguir esses empregos. Conseguimos nesse primeiro ano baixar o desemprego para o número mais baixo desde 2014.

Recentemente o Grande ABC perdeu duas das suas mais poderosas empresas: a Ford e a Toyota. A quais fatores o sr atribui a saída dessas empresas de São Bernardo? O que era preciso fazer de diferente para segurar essas empresas aqui?

O País estava sem governo e sem rumo. O que é preciso fazer é o que nós estamos fazendo com a retomada de grandes programas como o Novo PAC e o Minha, Casa, Minha Vida. No Estado de São Paulo, os investimentos do PAC chegam a mais de R$ 179 bilhões. São 125 mil casas contatadas com financiamento do FGTS e mais 22 mil contratadas da Faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida. Isso traz qualidade de vida para a população e crescimento econômico. O novo programa de industrialização tem R$ 300 bilhões em recursos que visam valorizar e modernizar nossos processos industriais, para uma região como a do Grande ABC voltar a prosperar. O que estamos fazendo é mais que retomar políticas bem sucedidas do passado. É trazer de volta para o Brasil a perspectiva de construir, com muito trabalho, o seu futuro.

Qual avaliação o sr faz deste primeiro ano de mandato? Quais as diferenças e semelhanças com os primeiros anos dos mandatos anteriores?

Encontramos o governo deixado pelo governo anterior muito pior do que encontramos em 2003. A única coisa melhor que em 2003 eram as reservas internacionais que deixamos e eles não conseguiram destruir. O primeiro ano foi de organização da casa. Trabalhamos muito para consertarmos os estragos que eles tinham deixado. Tivemos que pagar precatórios que eles tinham dado calote, e precisamos construir com o Congresso um orçamento, isso antes mesmo de assumir, porque o orçamento que eles deixaram acabava em setembro. Recuperamos políticas sociais e de desenvolvimento, a imagem do Brasil no Exterior e agora é a hora de começarmos a colher e avançarmos. Muitos dos programas que relançamos vão começar a fazer efeito na vida da população esse ano. E muitas das obras que estamos retomando vão ir gerando empregos e desenvolvimento.

Como o Grande ABC está inserido no seu governo? Alguns anúncios importantes foram feitos, como investimento para construção de um novo hospital em Diadema, UPA em Mauá, verba para custeio da Saúde. Mas o que mais está previsto para chegar?

O Grande ABC foi onde vivi a maior parte da minha vida, comecei na política e onde até hoje está o Sindicato dos Metalúrgicos, o sindicato da minha categoria. Em meu governo, o Grande ABC contará com nossa parceria e investimentos para se desenvolver e elevar a qualidade de vida da população. Jamais deixaríamos de apoiar uma região com tamanha importância para o desenvolvimento do estado de São Paulo e de todo o Brasil. No Novo PAC, já estão assegurados recursos para uma série de obras e intervenções para melhorar as condições urbanas da região, que mobilizarão mais de R$ 660 milhões. Por exemplo, para melhorar a mobilidade, estamos construindo corredores de ônibus em Diadema e São Bernardo, e um novo terminal de passageiros em Mauá. Daremos continuidade às obras de urbanização de favelas em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá, e de contenção de encostas em São Bernardo, Diadema e Mauá. Também estão incluídas uma escola de educação infantil em Santo André e três quadras escolares em Ribeirão Pires. Haverá recursos para urbanização de favelas em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá, e para obras de contenção de encostas em São Bernardo, Diadema e Mauá. Em São Caetano, investiremos em obras para melhorar o abastecimento de água e a triagem de recicláveis. Em Diadema, estão previstas obras para saneamento integrado em Eldorado. Também já estão incluídos no Novo PAC recursos para restaurar imóveis na vila de Paranapiacaba e em Santo André, fundamentais para proteger nosso patrimônio histórico. Todos os municípios da região apresentaram propostas no primeiro processo de seleção de obras do Novo PAC. Em breve, teremos os resultados deste processo e tenho grande expectativa de que a região seja contemplada com mais obras. Na cultura, liberamos R$ 21,2 milhões da Lei Paulo Gustavo para os municípios da região. Na saúde, alocamos 161 novos médicos do Mais Médicos, e agora já temos 246 médicos atuando em toda a região. Na educação, todos os municípios aderiram e farão parte do Programa Escola em Tempo Integral, e com exceção de Santo André, os demais municípios aderiram ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. E, no ano passado, inauguramos mais um bloco do campus de São Bernardo da UFABC. Tudo isto foi só no primeiro ano de governo, quando nos dedicamos a reconstruir o País. Toda a população do Grande ABC pode estar certa de que muito mais investimento virá neste ano e nos próximos, para estimular o desenvolvimento e a qualidade de vida nos sete municípios da região.

O sr começou esta gestão com dois quadros oriundos do Grande ABC, casos de Luiz Marinho (Trabalho) e Rita Serrano (Caixa). Com a saída de Rita, trouxe o Ricardo Lewandowski, que foi secretário aqui em São Bernardo. Qual papel da região no seu governo?

Você esqueceu que meu governo tem outro quadro oriundo do Grande ABC. A Miriam Belchior, da Casa Civil (secretaria-executiva), é de Santo André e eu. Minha trajetória política começou em São Bernardo e eu sou grato por tudo que lutei e aprendi no Grande ABC. Não é à toa que o ministro do Trabalho é do Grande ABC, por toda a força do movimento sindical na região. O Luiz Marinho, e agora o Ricardo Lewandowski, vão contribuir muito com o governo. A Rita Serrano fez um trabalho extraordinário na Caixa Econômica porque sua história se confunde com a do banco. Uma funcionária de carreira, que sempre lutou pelos trabalhadores da instituição e eu só tenho a agradecê-la. Eu acredito que não só esses três que são da região do Grande ABC, mas todos os ministros entendem o papel do Grande ABC como uma região muito forte, com uma economia muito forte e sofisticada, a principal região industrial do país com empresas do mundo inteiro. Queremos que o Grande ABC volte a ser símbolo do futuro da economia brasileira.

Como estará inserido o Grande ABC no planejamento eleitoral do PT para este ano? 

Eu ainda não conversei com o partido o cenário e detalhes da estratégia eleitoral esse ano. O cenário ainda está se consolidando.




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