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Sábado, 27 de Abril de 2024

Cotidiano
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O aniversário da democracia
Rodolfo de Souza
17/01/2024 | 19:20
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Muito se falou sobre o oito de janeiro quando de sua passagem. O dia ganhou notoriedade por causa de um plano que não obteve sucesso, a despeito do engajamento nada tímido. Gente que esteve na capital por causa de uns trocados, comida farta ou ainda pela farra desmedida, com direito a muita repercussão e alguma fama. 


Pelas imagens amplamente divulgadas, não concebo, entretanto, que aquele povinho desqualificado tivesse a mínima noção da gravidade do ato. Não sabia sequer o que buscava, senão vandalizar prédios públicos ao sabor de uma alegria que logo resultaria em frustração.

De qualquer forma, lá estava, levado pelos ventos que visavam tão somente soprar para longe os direitos conquistados a duras penas e que até hoje carregam na boca o gosto do sangue derramado num passado não tão distante. Foram anos de luta, com muitas vidas atiradas na sarjeta, destroçadas pelos canos das armas ou pelos instrumentos de tortura. Quem viveu nesse tempo certamente carrega tatuada na memória a imagem do jornalista suicidado no cárcere, um símbolo que serve de alerta contra aventuras do gênero que, nos dias atuais, ainda causam considerável empolgação.

Senão pela liberdade, mas em memória de tantos que partiram num rabo de foguete, como diz a canção, é que o repúdio aos acontecimentos do início de 2023 deve conservar a voz forte a retumbar aos quatro cantos: “aqui não! Não mais!”

Aliás, o espectro de forças contrárias à democracia teima em tornar nebuloso o céu azu anil, crente da impunidade crônica, do eterno perdão à gente graúda, do poder de sua influência que, por meio do dinheiro abundante, exercita seu passatempo predileto: comprar. Comprar não só mansões, iates ou carros de luxo, mas comprar, sobretudo, pessoas, aquelas que estão à frente do setor de comunicações, por exemplo. Diga-se de passagem, é este o filé que faz salivar a boca do poder. Afinal, é por meio das comunicações que se guiam as massas pela forte correnteza das conveniências. Considerando, claro, que massas aqui diz respeito àquela parecela da população que tem se conservado longe dos livros por toda uma vida, não propriamente à que não tem dinheiro.

E o aborrecimento, companheiro das noites mal dormidas, ganha ainda mais fôlego com o fato de que quem primeiro idealizou o sinistro, vendeu sua ideia como sinônimo de liberdade e abusou de sua liderança para que outros colocassem em prática o seu projeto, deste não se cobrou a fatura, há muito vencida. Por certo que não agiu sozinho, o pretenso ditador. Seus passos foram acompanhados pela mente sórdida afinada com seus ideais de submissão de um povo para atender a seus próprios interesses. Tem sido assim mundo afora, afinal de contas. Um território povoado por pessoas propensas a defender a justiça, enquanto outras se apegam ao pensamento vil para nele fazer navegar o povo de mente miúda que sonha com universos de cor rosa, recendendo a uma liberdade criada unicamente na sua imaginação. Trocando em miúdos, nesse lugar cada um cria a liberdade que melhor se ajusta ao seu caráter, sem aceitar ideias contrárias às suas, logicamente.

Que essa data se torne, enfim, um marco para ser lembrando e para constar nos livros de história como um momento na vida deste país em que se atentou contra a liberdade. Não a liberdade exautada pela mente defeituosa, mas a liberdade assegurada mais uma vez pelo bom senso.



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