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São Caetano registra 11º feminicídio da região em 2019

Homem matou a mulher e tentou se matar após o crime nesta segunda-feira (9), no bairro Barcelona

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
09/12/2019 | 10:08
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Pixabay


Naira Naomi Motoki Tanaka, 42 anos, morreu após ser baleada pelo ex-companheiro, Elercione Almeida Nascimento, 42, na Rua Conselheiro Lafayette, altura do número 773, no bairro Barcelona, em São Caetano. O agressor tentou se suicidar após o crime. Este é o 11º caso de feminicídio registrado no Grande ABC neste ano, ante sete vítimas em 2018, de acordo com dados do site SSP/Transparência (Secretaria de Segurança Pública).

De acordo com a ocorrência, o caso aconteceu por volta das 7h40 da manhã desta segunda-feira (9). A polícia apurou, por meio de câmeras de segurança, que o casal caminhava pela rua, sentido bairro-centro, quando iniciaram uma discussão. Naira ignorou o agressor e saiu andando em sua frente, quando ele sacou arma da cintura e disparou contra a mulher, na altura das pernas. Certificado de que ela ainda estaria viva, Nascimento alvejou mais disparos no rosto da vítima e, ao notar que não tinha sinais vitais, atirou em seu próprio peito, mas não morreu. Testemunha que confirmou a ação ligou para PM (Polícia Militar) e relatou os fatos. O homem foi socorrido pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e levado para UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do município. Nascimento sofreu perfuração do pulmão e está internado em estado grave.

A rua ficou interditada pelo departamento de trânsito por pelo menos três horas. Cinco viaturas estiveram no local. O caso foi registrado na Delegacia Sede de São Caetano.

Segundo a investigação, o casal ficou junto por um ano, entretanto, o relacionamento era conturbado. Há cerca de seis meses a vítima terminou a relação, mas Nascimento não aceitou o fim e vinha a ameaçando. Naira já tinha, inclusive, feito boletim de ocorrência contra o agressor.

Conforme levantamento feito pelo Diário junto ao TJ (Tribunal de Justiça), nos últimos dois anos o aumento nos crimes desse tipo foi de 33%, passando de 24 inquéritos em 2016, para 32 em 2018. Já o Atlas da Violência 2019, publicado em junho, apontou crescimento nos homicídios femininos no Brasil em 2017, com cerca de 13 assassinatos por dia. Segundo o índice, 4.936 mulheres foram mortas, sendo o maior número desde 2007.

Dez crimes foram registrados entre janeiro e outubro deste ano

Na madrugada do dia 2 de fevereiro, a médica veterinária Paula Patrícia de Melo anos, 38, foi morta a facadas pelo namorado, Givanilson Valdemir dos Santos, 26, em São Caetano. Um dia depois, a médica cubana Laidys Sosa Ulloa Gonçalves, 37, foi assassinada com golpes de chave de fenda pelo marido brasileiro, o vigilante Dailton Gonçalves Ferreira, 45, em Mauá.

Em março foram três casos: na madrugada de sábado (9) para domingo (10), o corpo de Nayara Justino Lima, 26, natural de Uiraúna-PA, foi encontrado em sua casa, no bairro Ferrazópolis, em São Bernardo, com ferimentos a facadas. Nayara estava perto da cama, caída sobre um berço. O autor do crime seria seu companheiro.

No dia 18, a diarista Eleide Rodrigues de Oliveira, 38, foi atropelada e, posteriormente, executada com pelo menos seis tiros pelo marido, no Jardim Rina, em Santo André. Quatro horas antes, desta vez no bairro Cidade São Jorge, Engel Sofia Pironato, 21, foi morta pelo companheiro Lucas Alves da Silva Santos, 24, em casa, com golpe mata-leão (estrangulamento). O corpo foi encontrado apenas à noite, dentro da geladeira.

Em abril, Elisângela Silva, 33, foi encontrada morta, no dia 18, no bairro Alves Dias, em São Bernardo. O responsável foi o companheiro. Já no dia 24, Viviane Miranda Maurício, 26, foi assassinada em apartamento no Parque São Vicente, em Mauá. O corpo foi escondido dentro de mala, no interior de um armário. O homem que a matou seria o seu amante.

Em 17 de junho, Marcela dos Santos Melo, 31, foi morta a tiros pelo marido, o policial militar Thiago Rodrigo de Souza, 36, que se matou em seguida. O crime foi no Condomínio Maracanã, em Santo André.

No dia 17 de setembro outro crime chocou a região. Rosana Silvestre, 38 anos, foi estrangulada pelo marido, Fabio Alves Rodrigues, 30, no bairro Batistini, em São Bernardo. Detido pela polícia, o agressor confessou o assassinato e foi preso em flagrante. Rosana foi encontrada morta pelo sogro – padastro do assassino –, Pedro Henrique Chagas, 72.

Já no dia 12 outubro, Herminia Maria de Souza, 56, foi morta pelo companheiro na Estrada dos Alvarengas, em São Bernardo.

SERIA O 12º - Embora não contabilizado como feminicídio, no dia 17 de maio, a pastora Ieda Alvin Lino, 42, foi morta pelo marido com golpes de faca no bairro Casa Grande, em Diadema. O caso foi registrado no 3º DP (Taboão) do município como homicídio simples.

TENTATIVA – No dia 7 de setembro, a equipe do 24º BPM (Batalhão da Polícia Militar) de Diadema prendeu Deivid Paulino Silva Faria, 34 anos, por tentativa de feminicídio contra sua mulher, Joice Rocha Martins, 26. O agressor disse à polícia que premeditou crime e fuga. A vítima foi esfaqueada – foram 15 golpes –, socorrida pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e levada ao Hospital Estadual Serraria, onde passou por cirurgia.


Especialista destaca que assassinatos são resultado de violência doméstica recorrente

Para advogada especialista em direito familiar, integrante do conselho municipal dos direitos da mulher de Santo André e da comissão da mulher advogada da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, Juliana Almeida, a violência contra mulher não é somente física e, por esse motivo, se agrava até terminar em assassinato.

“Existe dificuldade da própria vitima em identificar que sofre violência e, quando identifica, por diversos motivos tem dificuldade também de procurar ajuda, seja pelo julgamento da família e amigos, vergonha, ou até mesmo medo do futuro dos filhos. Dessa forma, o resultado da violência recorrente é o feminicídio”, pontua.

A advogada explica que é como um ciclo. A violência começa de forma psicológica e emocional, se torne física, passa pelo processo de perdão, volta a ser física e, na maioria das vezes, termina em morte. “As mulheres acabam aceitando, perdoando e até se conformando com a situação de violência. O aumento do número dos casos de feminicídio, que têm ocorrido de forma cada vez mais brutal, e os crimes contra a vida das mulheres, tendem a se agravar, inclusive, se combinados com outras mudanças relevantes, como a questão do armamento, por exemplo”, pontuou Juliana.

Segundo a especialista, a liberação do porte de arma coloca as mulheres em situação de risco maior, já parte dos casos ocorre dentro da própria casa e são cometidos por pessoas conhecidas e de confiança da vítima.

“Se parar para analisar os casos de feminicídio, todos tem como motivação o ciúmes, a não aceitação de regras impostas, ou a divisão patrimonial, em resumo, contendas familiares. Por mais que falamos em evolução, atualmente ainda não existe um equilíbrio nem igualdade ”, explica.




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