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Sábado, 27 de Abril de 2024

Turismo
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Cidade da Aventura
Help City voa na frente

Sempre inovadora, Socorro não para de se preocupar com acessibilidade, inclusão e sustentabilidade

Sérgio Lemos
Do Diário do Grande ABC
13/12/2018 | 07:15
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Divulgação


Quem a chama de “cidadezinha” desconhece o potencial criativo de Socorro para o ano inteiro. Como se o verão já não fosse uma estação que motiva naturalmente para as mais diversas atividades, a cidade é cheia de atrações ao ar livre para indivíduos, grupos e toda a família. A estância turística, localizada a 165 quilômetros de Santo André e 132 quilômetros de São Paulo, na Serra da Mantiqueira, é conhecida como a Cidade da Aventura e atrai cada vez mais turistas de todas as idades e estilos.

A economia de Socorro, também carinhosamente chamada de Help City, está baseada sobre três pilares. Dois deles são a agropecuária – 90% da área do município é rural – e a indústria de malharia, que emprega boa parte dos trabalhadores da cidade de mais de 40 mil habitantes. Porém, é o turismo que define Socorro como local inserido no que há de mais atual em termos de aventura, sustentabilidade e acessibilidade.

Segundo Cuca Jorge, porta-voz do Parque dos Sonhos, Socorro inova até na expressão esportes radicais. “Aqui nós temos o cuidado de dizer esportes de aventura, pois a palavra radical soa como algo irresponsável”, diz. Isso se percebe no cuidado com que monitores e guias tratam os visitantes no momento em que os orientam para qualquer atividade de risco, como rapel e rafting, por exemplo.

A mesma segurança é perceptível em escaladas, arvorismo, mountain bike, down hill, boia cross, stand up paddle ou descer em tirolesas – é em Socorro, aliás, que fica localizada uma das mais longas do Brasil, com um quilômetro de extensão, pela qual é possível ‘voar’ de Socorro até Bueno Brandão em aproximadamente 50 segundos. A estudante de jornalismo Samirah Fakhouri conta que começou a gritar em São Paulo e só parou em Minas Gerais.

Mas há também roteiros para atividades mais tranquilas, como canoagem, trekking em trilhas, grutas e cachoeiras, cavalgadas em paisagens espetaculares, passeios ecológicos de bote, caving na Caverna do Quebra Corpo ou visitar a Gruta do Anjo.

Se o viajante quiser ainda mais sossego, é possível explorar a natureza de Socorro em pedalinhos, triciclos, charretes e bicicletas. Após todo esse esquenta, uma dica é levar a família para passar um dia no Centro de Lazer Pitauá, que, além de possuir restaurante e playground infantil, oferece passeios a cavalo e pescaria esportiva, em um espaço rodeado por mais de 19 hectares de natureza.

ACESSIBILIDADE - Embora a tranquilidade de uma cidade do Interior possa deixar passar ao largo questões como acessibilidade, Socorro se preocupa com o público portador de limitações físicas. É fácil encontrar pousadas e demais equipamentos desenhados para atender cadeirantes ou deficientes visuais.

Nas tirolesas adaptadas é constante a busca pelo desenvolvimento de design dos acessórios que visem a segurança e o conforto. O gerente de marketing dos hotéis fazenda Rede dos Sonhos, Raphael Schiavoni, afirma que acessibilidade não é um produto caro. Ele conta que as marcações para deficientes visuais são produzidas pelos próprios funcionários com material reciclado para que o cliente possa caminhar de forma independente por quase toda a área das pousadas. “Isso é inclusão”, diz.

PETS TAMBÉM TÊM VEZ - Socorro tem atividades para todos os tipos de aventureiros, inclusive àqueles acompanhados de seus animais de estimação. Os pets podem fazer atividades como rafting e stand up paddle, e têm acesso a muitos dos estabelecimentos hoteleiros locais.

O rafting dog, oferecido pelas agências PróximAventura (www.proximaventura.com.br) e Rios de Aventura (www.riosdeaventura.com.br) no famoso Rio do Peixe, é feito em botes infláveis que comportam até cinco pessoas, um pet e o condutor.

Já no SUP dog, com a agência D’Pé Na Prancha (www.dpenaprancha.blogspot.com), o pet vai ao lado do dono por um trajeto de 900 metros em águas calmas até a cachoeira central do Rio do Peixe. A duração é de aproximadamente uma hora e 20 minutos. Já com a agência Mundaka (www.mundakaaventura.com.br), você pode conduzir a prancha pelas águas calmas de um lago com o seu cão, que pode participar da aventura com total segurança.

Cachorros também podem fazer companhia aos donos em tours de caiaque, passeios de quadriciclo e caminhadas pela mata, como a Trilha de São Francisco, no Parque de Aventura Monjolinho (www.parquemonjolinho.com.br), e a Trilha das Cachoeiras, oferecida pela Mundaka. Ainda, 19 hotéis e pousadas os aceitam. Destaque para A Mata que Canta, que tem uma de suas piscinas em forma de osso; o Campo dos Sonhos, onde os pets podem dormir com os donos ou em canis anexos aos apartamentos; e Portal do Sol, em cujo lago podem entrar.

No link https://www.socorro.tur.br/onde-dormir-em-socorro há a lista completa de estabelecimentos pet friendly da cidade.


Pontos imperdíveis da viagem

A preocupação mais urgente de qualquer viajante é a acomodação. Em Socorro esse receio não existe, pois é grande e diversa a oferta em pousadas, resorts e hotéis fazenda para todos os gostos e bolsos. O mais simples e o mais sofisticado turista encontram opções.

Os Hotéis Fazenda Rede dos Sonhos (www.parquedossonhos.com.br) é o que se pode encontrar de mais completo no setor, com áreas verdes com cerca de 600 mil m² e inúmeras atividades (diárias variam de R$ 450 a R$ 600 para o casal, com refeições e atividades à parte), como passeio de trator por estradinhas de terra ladeadas por viveiros com diversos animais, que podem ser alimentados pelos visitantes ou, ainda, conhecer pequeno alambique e pequeno armazém de torrefação de café.

Localizado na divisa de São Paulo e Minas Gerais, o hotel fazenda Parque dos Sonhos demonstra preocupação cada vez maior com o meio ambiente e conta com área exclusiva para compostagem de restos de alimentos consumidos nas pousadas, visando o cultivo de hortas e pomares.

Intuito semelhante tem o Hotel Fazenda 7 Belo (www.hotelfazenda7belo.com.br), que, com tarifas mais acessíveis (R$ 510 para casal com pensão completa), consegue passar aos hóspedes não apenas conceito familiar, de conforto, como boa gastronomia com sua pensão completa. Ali, o visitante conta com boa infraestrutura de serviços e lazer e ainda leva consigo o aprendizado sobre sustentabilidade, como conta o gerente Maurício Mateus. “Nós temos o plantio de árvores ao longo do Rio do Peixe, que corta o hotel fazenda, e o objetivo é evitar a erosão. Também contamos com aquecimento solar para as piscinas.”

Mais que essas ações estruturais, o estabelecimento tenta conscientizar o cliente a utilizar de forma responsável roupas de cama e banho para evitar o desperdício de água e materiais de limpeza. “Hoje, por exemplo, com esse agravante dos canudos de plástico, orientamos nossos garçons a perguntar se o hóspede pretende mesmo utilizar o acessório. Não impomos nada, é o cliente que passa se questionar sobre seus hábitos”, completa.

COMPRAS - Com as acomodações garantidas, é o momento de o viajante desfrutar das várias opções que a cadeia de consumo socorrense oferece. Na Rodovia Deputado Antônio Silvio Cunha Bueno, 3320, fica a Feira Permanente de Malhas, recentemente repaginada e mais sofisticada, sem perder o conceito de produção local. No fim de seu principal corredor se encontra o London Café, casa aconchegante e que promete sempre inovar, como conta Gê Barros, uma das quatro sócias. “Procuramos sempre criar atrativos tanto para o visitante como o morador de Socorro.”

A poucos passos de lá está o Horto Municipal, ótima opção de passeio que inclui, além da oferta de mudas de plantas nativas, uma esticada gastronômica e de compras. Como se caminhasse por um bosque, o turista encontra quiosques em que artesãos podem ser observados finalizando suas peças, e também uma varanda com algumas mesas convidativas. É a Sabores do Currupira, assim mesmo com exagero nos “Rs” e na variedade de pequenas delícias e aromas em forma de compotas que fazem qualquer um perder a noção de tempo, não fosse o fluxo contínuo de pessoas que se dirigem ao Shopping Moda de Fábrica, espaço dedicado exclusivamente ao lojista/produtor da cidade.

Além de mais lojas de malharias de Socorro – setor que representa um dos três pilares da economia do município–, nessa sofisticada galeria vale almoçar no Sal e Pimenta, restaurante premiado e reconhecido como um dos melhores de Socorro. A vista de todas as mesas para a natureza exuberante é coerente com os temperos de seus pratos principais: totalmente naturais.

Após o almoço, a dica é seguir até o fim do Shopping Moda e fazer a digestão contemplando um dos baristas do Doce Arte Café contar um pouco da história e demonstrar alguns verdadeiros rituais em se fazer a bebida mais consumida do mundo depois da água.

A seis quilômetros dali, na Avenida Vicente Lomônico, 759, o turista pode degustar as cervejas ecologicamente corretas da Ecobier. Rotuladas com papel reciclado ou de origem de reflorestamento, esta marca é classificada como pilsen tradicional e utiliza malte e lúpulo da região alemã de Hallertau. Destaque para a vermelha.

Mesmo bebendo moderada e conscientemente, é recomendável deixar o carro e dar uma boa caminhada, mas em Socorro há serviços de turismo receptivo como o da Reis, que oferece city tour pela manhã e, à tarde, em caminhão tipo safari com guias e monitores que contam muito da história, cultura, vida rural e ecologia de Socorro.

No fim da tarde, boa pedida com a garotada é experimentar os sorvetes do Ademar. O estabelecimento situado à Rua Treze de Maio,88, é um dos mais antigos do Estado de São Paulo, com mais de 100 anos. Mas nem por isso deixa de inovar em seus sabores. O visitante também pode apreciar a enorme galeria de fotos com celebridades na parede principal do comércio.

Para terminar o dia, os restaurantes D’Napoli ou o Lubeck são recomendados – o primeiro possui cardápio criativo e internacional sem ser caro, portanto, o cliente prevenido deve pedir uma porção para dois, devido ao tamanho farto dos pratos. O segundo, pertinho da praça da matriz, tem excelente música ao vivo, chope bem tirado e pratos deliciosos. Por falar nisso, a escolha que a equipe de reportagem do Diário provou e aprovou lembra comida caiçara, pois é recheada com banana, queijo, filé de pescada bem macio, mais queijo parmesão e se chama...Delícia (R$ 32,90).


Os causos do Candinho

Candinho é uma daquelas figuras folclóricas que têm em toda cidade do Interior. Seja na praça da matriz ou no boteco mais famoso, todo mundo em Socorro já ouviu um causo que foi Candinho quem contou. Pode até ser que parte da população nunca tenha ouvido falar em Candinho, ou não saiba nada sobre ele, mas é bom ter cuidado com o que andam fazendo, pois o Candinho sabe bastante sobre muita gente, até confissão ao padre ele sabe antes!

Para comprovar o dom onipresente – pelo menos nos limites territoriais socorrenses – da figura, presto meu testemunho. Interrompia as investigações jornalísticas às quais me foram designadas, para repor as energias e degustar das ótimas cervejas locais, quando um vulto de bochechas cor-de-rosa e cabelos longos, brancos e esvoaçantes domados por um boné retrô, como daqueles dos frentistas norte-americanos do Texas, me recomendou ao pé do nariz:

– Experimenta aquela, a vermelha, o chope de vinho... que você tá precisando...

Apesar de desconfiado em relação à última parte do conselho, fui na do senhorzinho de um metro e 50 de altura. O garçom puxou a alavanca da torneira do enorme tonel de aço escovado que ostentava um lindo logotipo de traços dourados sobre um fundo grená. Paixão ao primeiro gole e ao segundo e ao terceiro e... lembrei do homenzinho. Atabalhoado, fui até a porta da loja de cervejas situada no bairro da Pompeia. Não o encontrei. Teria sido uma visão ou um chamado, sei lá. Por via das dúvidas, não bebi mais. Voltei ao interior do estabelecimento, pedi quatro garrafas do misterioso vinho-cerveja ou cerveja-vinho e decidi que beberia apenas no aconchego da pousada.

Prestes a entrar no carro alugado, alguém bateu no meu ombro:

– Você é jornalista, não é?, pergunta ele sem me dar chance de responder – Olha meu nome é Candinho, vou te passar uma informação, mas não fala que fui eu que contei, senão pega mal e eles não querem que ninguém mais saiba, hein!

Eu não tinha chance nenhuma de retrucar, replicar, só respirar e ouvir:

– Sabe aquele jogador famoso, jogou no Santos, da década de 1960, rico pra caramba... pois é, ele tem casa aqui em Socorro, ali mesmo, na rua de baixo, te levo lá...
Minha curiosidade superou meu medo urbano e comecei a andar com o Candinho até a rua de baixo, mas ele parou no meio do caminho, me olhou sério e mandou outra charada:

– E aquele ator da Globo, aquele bonitão, olhos verdes... então, também tem casa aqui e chegou hoje de manhã, mas mora mais pra cima.

Mudamos abruptamente de direção e minhas garrafas tilintaram na sacola. Antes que eu pudesse questionar a veracidade das informações tipo “o senhor tá me tirando?”, o ancião de passinhos rápidos explicou:

­– Eles vêm pra Socorro em busca de paz, sossego, sabe como é que é. Se todo mundo souber que moram aqui, babau sossego! Eles só confiam em mim!

Não aguentei a falta de modéstia e me virei de volta para o carro. Dei uns cinco passos antes do Candinho soltar:

– Sabe o Roberto?
Sem voltar o rosto para ele, ironizei:

– O Roberto Carlos, o lateral, tá. Ele também mora aqui e superconfia no senhor!

E ele dispara sem dó:
– Não, o cantor. Adivinha quem é que levava os bolachões dele pra tentar tocar nas rádios de Socorro bem no comecinho da carreira? O Candinho aqui! Ontem mesmo trombei ele pescando disfarçado de japonês no Rio do Peixe. Aí ele me cobrou: “Pô, Candinho, não te vejo mais”. Eu respondi a ele que não dava mesmo pra me ver lá de cima no jatinho.

Sentamos na calçada para dar risadas. Eu não tive alternativa a não ser beber todas as cervejas junto com o Candinho e ouvir um monte de suas histórias, durante o lindo pôr do sol de Socorro.


O jornalista viajou a convite da Socorro Turismo
 




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