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Sábado, 27 de Abril de 2024

Em 22 anos, 100 moradores renasceram com novo coração

Primeiro transplante cardíaco no Brasil completa cinco décadas; data marca importância da doação

Vanessa de Oliveira
26/05/2018 | 07:00
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Nario Barbosa


O renascimento, por meio de transplante de coração, foi possível para 100 moradores do Grande ABC entre 1995 (primeiro ano disponível para consulta) até março, segundo o DataSus. A operadora de máquinas Maria Euza dos Reis de Almeida, 43 anos, de Diadema, está entre os ‘privilegiados’ e hoje, dia em que o primeiro transplante cardíaco realizado no Brasil completa 50 anos, ela ressalta a importância do procedimento. 

Maria foi diagnosticada com doença de Chagas aos 21 anos. Em 2014, ela ficou cinco meses na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na fila de espera pela doação do órgão. “Já estava no último procedimento, que era um cateter colocado pela virilha até o coração e eu ligada a uma máquina. Era o que ajudava o coração ‘velho’ a aguentar chegar o novo”, recorda. “Não podia nem sentar, só ficava deitada com a perna amarrada, para não furar a artéria”, continua. 

O recebimento da notícia sobre a chegada do órgão foi “o dia mais feliz”. “Eu sabia que ia ter a minha vida de volta”, fala. O doador foi um homem de 48 anos que teve morte encefálica. A cirurgia, ocorrida no Incor (Instituto do Coração), em 3 de dezembro de 2014, levou cerca de seis horas. Foram necessários um mês e seis dias após o transplante para que ela deixasse o hospital. 

A rotina, aos poucos, foi voltando ao normal, com exceção do uso permanente de imunossupressores – que fazem parte do tratamento do transplantado. “Preciso tomar remédios a vida toda. São 18 comprimidos por dia. Alimentos crus só posso comer se forem esterilizados com hipoclorito de sódio”, conta. “Mas a vida agora está muito boa. Consigo andar, limpar a casa, levar minha filha à escola, passear e até faco academia para melhorar a função do coração”, ressalta.

A doação de órgãos que pode salvar tantas vidas ainda é limitada, principalmente pela recusa das famílias de pessoas com morte encefálica confirmada: chega a 41%, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). Maria enfatiza a importância da sensibilização, ainda necessária, acerca do tema. 

“Se estou aqui hoje para contar a minha história é gracas à doação de órgão e à família do doador que, mesmo em um momento difícil, lembrou da vida do próximo”, salienta. “Se todos fizessem isso, não morreria tanta gente na fila esperando por um transplante”, conclui.

O coração é o terceiro órgão mais transplantado no Brasil, perdendo para rim e fígado. O Ministério da Saúde não informou quantas pessoas na região aguardam na fila do transplante de órgãos.

País realiza 23,2% dos procedimentos necessários

Da demanda estimada de 1.638 transplantes cardíacos, em 2017, foram realizadas no País somente 380 cirurgias (23,2%), segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). A resistência, muitas vezes, está na falta de conhecimento acerca da morte encefálica. “O familiar vê a pessoa com pulso e pensa: como pode estar morto? Mas a morte encefálica é morte, um diagnóstico preciso e que não gera dúvidas”, fala o coordenador da equipe cirúrgica de transplante cardíaco do adulto do Núcleo de Transplantes do Incor (Instituto to Coração), Fábio Gaiotto, defendendo que o tema fosse abordado na formação escolar.

Além de enfatizar a importância da informação, o presidente da ABTO, Paulo Pêgo, também ressalta a necessidade do reajuste do financiamento de transplantes. “Hoje, 95% dos procedimentos são pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o que é muito bom pela equidade. Mas sem reajuste na tabela, fica sem o financiamento adequado”, falou. Os valores não foram informados. 




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