Especialistas, no entanto, acreditam que a tecnologia pode fortalecer o mercado financeiro
Quem dispõe de dinheiro extra e está em busca de alternativas de investimento deve ficar alerta com as opções que parecem milagrosas ao oferecer alta rentabilidade em curto espaço de tempo. Estudar e avaliar riscos são fundamentais para que o dinheiro renda de forma saudável. Uma das novas modalidades em alta são as criptomoedas – existentes apenas no ambiente virtual –, porém, são consideradas arriscadas por conta de sua alta volatilidade, e não são indicadas como investimento principal pelos especialistas.
“As pessoas estão comprando as criptomoedas como se fossem ações da Bolsa de Valores, mas não podemos esquecer que elas são moedas cujo objetivo é fazer transações. Assim sendo, elas só dão retorno caso aumente drasticamente sua demanda”, avalia André Miceli, coordenador do MBA em Marketing Digital da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Por outro lado, Marcos Henrique, sócio advisor da Foxbit, empresa de exchange de criptomoedas, defende que “investidores agressivos, que gostam do risco, não podem deixar de tê-las em seu portfólio”. “É preciso aprender primeiro e, só depois, investir. Não faça apenas por estar na moda”, orienta Ricardo Rozgrin, diretor da exchange Braziliex.
Para se ter ideia, o bitcoin, principal moeda virtual, caiu 17,21% em um dia, chegando a US$ 11.248 – em dezembro, o pico foi de US$ 19.343 – após ameaças de Coreia do Sul, China e Índia de restringir transações da modalidade. “Ele (o bitcoin) oscila conforme o cenário dos países que possuem grande participação no mercado das criptomoedas. China, Japão e Estados Unidos, por exemplo, possuem quase 30% de todo volume mundial”, explica Rozgrin.
Para quem tem interesse em comprar ou vender criptomoedas, a recomendação é que procure uma exchange, cujo papel é realizar as transações e instruir qual das opções são mais adequadas em cada caso.
BOLHA - O Banco Central alertou, por meio de comunicado, no fim do ano passado, sobre o perigo da formação de uma bolha – quando o valor de um ativo oscila drasticamente – neste mercado, dado que sua cotação varia conforme especulações.
No entanto, Marcelo Mecchi Morales, professor da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), discorda. “Pode acontecer uma bolha como em qualquer outra moeda. Se observarmos o histórico, as criptomoedas oscilam por menores períodos de tempo do que as moedas físicas, mostrando-se estáveis”.
FUTURO - Vale destacar que, atualmente, as transações com moedas virtuais são limitadas e, normalmente, realizadas entre empresas ou em compras no ambiente on-line, como softwares e para o pagamento de canais de streaming, por exemplo. Entretanto, Rozgrin defende que, em um futuro próximo, elas serão utilizadas para compras do cotidiano, como no supermercado, tornando-se moedas mundiais.
“Atualmente, isso é inviável. Primeiro, tem a taxa de exchange (troca), que pode chegar a R$ 25 por transação, além de o procedimento gastar energia elétrica equivalente ao necessário para abastecer uma casa e demorar entre dez e 15 minutos para ser concluída”, contesta Miceli.
“Futuramente, teremos uma única moeda mundial, mas não acredito que será alguma criptomoeda, no formato como elas são hoje. Essa moeda precisará ser regulamentada por um órgão como o FMI (Fundo Monetário Internacional)”, complementa Silvio Paixão, professor de Análise de Cenários Econômicos e Macroeconomia da Fipecafi.
Paixão defende, ainda, que as criptomoedas não podem ser utilizadas para troca – um dos princípios das moedas –, portanto, não possuem livre conversibilidades, dependendo das corretoras para qualquer transação. “Não é possível dizer quais são as vantagens reais. Elas deveriam trazer mais benefício para a economia. As pessoas defendem o fato de dependerem apenas da internet e não do governo. Mas, o que elas oferecem que qualquer outra moeda, como o dólar, não pode oferecer?.”
TECNOLOGIA - Embora a utilização dos bitcoins, etherium, litecoin e demais moedas virtuais seja polêmica, especialistas convergem quanto à sua tecnologia, chamada blockchain – uma cadeia de dados que não necessita de intermediários e permite que as informações trafeguem com segurança e permaneçam inalteráveis.
“O mercado financeiro pode se beneficiar com essa capacidade de criptografia. Ela pode ser utilizada para arquivar dados, confirmar procedência de transações e assim por diante”, afirma Paixão. Rozgrin acrescenta que “há muita inovação na segurança das criptomoedas, que pode ser usada para registros monetários no universo das finanças”.
Na avaliação de Morales, o software das moedas virtuais também ajuda a agregar conhecimento. “O programa é aberto, ou seja, especialistas em programação podem acessá-lo e aperfeiçoá-lo ainda mais”, explica.
PALESTRA - O Itescs (Instituto de Tecnologia de São Caetano) irá realizar palestra sobre bitcoin no dia 21. “O objetivo é discutir, de modo mais aprofundado, sobre esta moeda que está sendo muito falada”, afirma o presidente Luiz Schimitd. Gratuita, a atividade será realizada no Colégio Sabina, em Santo André, às 19h30. Basta se inscrever em http://www.itescs.com.br/bitcoin/.
Regulação com ressalvas é defendida pelos especialistas
Após o Banco Central ter emitido comunicado contrário às criptomoedas e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) proibido que os fundos invistam em moedas virtuais, as exchanges do País se uniram pela normatização deste mercado. “Se fosse regulamentado, grandes empresas instaladas no País poderiam utilizá-las e, por conta da tecnologia, isso facilitaria suas transações”, diz Ricardo Rozgrin, diretor da Braziliex.
“Elas (as criptomoedas) têm valor, ou seja, caso sejam inseridas em uma economia, podem gerar movimento inflacionário. Mas não adianta proibir, é preciso regulamentar com ressalvas”, observa André Miceli, coordenador do MBA em Marketing Digital da FGV (Fundação Getulio Vargas). O especialista defende que as transações sejam mantidas apenas no ambiente on-line, para compra de softwares, assinatura de canais de streaming e e-books, por exemplo.
Marcos Henrique, sócio advisor da exchange Foxbit, defende que as regras impostas às corretoras devem ser sadias. “Em Nova York, elas foram obrigadas a ter seguro de cerca de US$ 5 milhões de garantia para os clientes. Várias empresas saíram do Estado e algumas fecharam, pois não possuem o porte de um banco para arcar com estes custos.”
Por outro lado, Marcelo Mecchi Morales, professor da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), acredita que um órgão regulador ou o próprio governo não precisam intervir neste mercado. “Não é ilegal, não é imoral, são procedimentos eficientes, seguros e simples”, defende.
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