A ameaça da Volkswagen em entregar os serviços de transporte de veículos produzidos em São Bernardo a uma única empresa, colocando fim a meio século de parceria com cegonheiros, volta a assombrar o Grande ABC. Mais uma vez, a montadora alemã traz insegurança aos profissionais do segmento e, de quebra, preocupa empresários do comércio e de serviços cujos negócios orbitam a cadeia de logística automotiva.

Como a companhia se fecha em copas, evitando dar explicações sobre suas atitudes, fica difícil compreender as razões da Volkswagen em pôr fim à atividade dos cegonheiros, de suma importância para o equilíbrio econômico de bairros inteiros de São Bernardo. Publicada ontem, reportagem deste Diário mostrou que 50% dos negócios fechados no Demarchi, por exemplo, vêm dos fretistas ou de seus familiares. Até mesmo escolas e pet shops atribuem sua existência aos profissionais da categoria.

Embora tenha o direito de procurar alternativa mais adequada à sustentação de seu negócio, já que se trata de empresa privada, a Volks não pode se esquecer de sua responsabilidade social nem da montanha de dinheiro público que recebe – ou já recebeu – em forma de incentivos para enfrentar períodos econômicos turbulentos. É uma pena que a montadora tenha se recusado a falar do assunto com a equipe de reportagem deste jornal, que a questionou sobre o pensamento da companhia a respeito dos cegonheiros que hoje executam a tarefa e devem ficar desempregados se a mudança no serviço vier a ser efetivada.

É extremamente preocupante que, insensível ao momento delicado por que passa a economia nacional, empresa tão importante como a Volkswagen queira contribuir para aumentar o contingente nacional de desempregados, colocando em risco a ocupação de 5.000 profissionais que atuam diretamente no transporte de veículos da planta de São Bernardo e outros 20 mil indiretamente. A montadora deve ter as suas justificativas. Se são legítimas, como acreditamos que sejam, por que não revelá-las?