Cultura & Lazer Titulo
Teatro do Oprimido comemora dois anos
Por Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
04/08/2001 | 17:25
Compartilhar notícia


Alguns jovens começam a ensaiar uma peça de teatro de bonecos. De repente, a mãe de um deles desmancha o ensaio. A alegação: “Teatro é lugar de vagabundo”. Esse é o início do espetáculo O que É que eu Faço com Isso, da Cia. de Teatro do Oprimido Tempestade de Sonhos, formado no Centro Comunitário Vila Linda, em Santo André. A fim de comemorar dois anos de atividades, que completa no dia 8, o grupo montou uma agenda de sete apresentações. Quatro em Santo André (dias 8, 15, 22 e 29, no saguão do Teatro Municipal, sempre às 19h e com entrada franca), duas em São Paulo e uma em Campinas, com a presença do criador do TO (Teatro do Oprimido), Augusto Boal.

Oito pessoas compõem o grupo – os atores têm entre 14 e 22 anos. O tema central da peça é a gravidez na adolescência. Por meio de exercícios, jogos e técnicas do TO, o texto foi construído a partir de relatos dos membros do grupo. A montagem, pois, tem os pés fincados na realidade. “Além de teatro, trabalhamos uma concepção de cidadania. Mas sem evangelização, eles discutem as questões entre eles”, afirma o diretor Armindo Rodrigues Pinto.

Via de regra, o texto do TO coloca em cena situações em que um personagem é oprimido por outro. Após a apresentação é realizado o fórum. “É a parte mais legal”, diz Pinto. “Há um debate e o grupo refaz um pedaço da peça para que um espectador entre no lugar do oprimido”, conta. A pessoa, então, propõe saídas para o personagem. “O Boal diz que o TO é um espelho: a pessoa se vê e tem a possibilidade da transformação, de reagir contra a opressão. O público se identifica ou solidariza-se, é levado à reflexão. Às vezes a pessoa é oprimida e não percebe. Então, o TO dá a ela cabedal para atuar no dia-a-dia”, afirma Pinto.

A Tempestade de Sonhos conta com o apoio institucional da Prefeitura de Santo André. O projeto de formação de grupos do TO na cidade é da Secretaria de Participação e Cidadania. “Boal esteve em 1997 em Santo André para capacitar funcionários da Prefeitura. Esse trabalho já trouxe gente da Alemanha, de Burkina Fasso, da Escócia, de Moçambique, dos Estados Unidos”, diz Pinto, funcionário da Secretaria de Cultura.

A cidade, por sinal, é um marco do TO. “Os primeiros embriões estão em Santo André, uma cidade simbólica para o TO”, afirma Boal. O teatrólogo esteve em Santo André no início dos anos 60 a fim de organizar um seminário de dramaturgia no Sindicato dos Metalúrgicos. O projeto resultou em peças escritas pelos operários. Em uma delas, A Greve, a discussão foi literalmente para o palco quando um espectador viu-se retratado no personagem que furou a greve e interrompeu a encenação para se defender. Boal narra a história completa no livro de memórias Hamlet e o Filho do Padeiro. “O teatro é uma característica do ser humano. Todo homem tem dentro de si o ator e o espectador”, diz.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;