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Palavra do Bispo
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Ética das virtudes
Por Dom Pedro Cipollini
22/07/2019 | 07:00
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A pessoa madura e forte é a que se desenvolveu plenamente vencendo os obstáculos que a vida impõe. E os obstáculos ao pleno desenvolvimento da personalidade se chama vício. O vício é um erro de cálculo na busca da felicidade. E virtude? Virtude (aretè gr. / virtus lat.= força), conforme a define o filósofo, “... é o que torna bom quem a possui e boa a obra que realiza” (Aristóteles). As virtudes são expressões do domínio de si, são fruto da liberdade bem orientada, é uma disposição adquirida de fazer o bem.

Das virtudes quase não se fala mais, isto não significa que não precisemos delas. Elas nos faltam, mas não de todo, do contrário como poderíamos pensá-las?

Na crise de valores em que estamos mergulhados, falar em virtude saiu da moda. O mau uso do termo no passado (virtude seria característica de pessoas especiais, algo intimista, individual, impossível de atingir etc), mais o hedonismo reinante, fez cair em desuso falar de virtude. E também em vício, o oposto de virtude, já que é proibido proibir e, cada um é norma para si mesmo.

No entanto, aos poucos se percebe que é necessária uma “ética das virtudes” para vencer o espírito anticomunitário, laxista e consumista de nossa sociedade. Para renovar a linguagem das virtudes é necessário renovar a sociedade. O sábio oriental Confúcio, ensinava que três são os caminhos pelos quais chegamos à virtude: pela reflexão, o mais nobre; pela imitação, o mais fácil; pela experiência, o mais doloroso.

A virtude está ordenada ao agir, ao praticar o bem, ela é a saúde da alma. O fim primordial da virtude é a adesão à verdade. No caso do cristianismo, é adesão convicta à vontade de Deus, à obediência ao Espírito Santo. Quanto mais você pratica a virtude, mais você se torna apto a praticá-la.

É fundamental na virtude a tenacidade em perseverar no bem e em buscar as condições para realizá-lo. A virtude se nutre da fidelidade.

Lendo a Bíblia, aprendemos sobre as “virtudes teologais”, assim chamadas porque tem a Deus por objeto. São a fé, a esperança e a caridade. As virtudes teologais causam todas as demais virtudes: “Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor” (1 Cor 13,13).

Na Palavra de Deus aprendemos também sobre as quatro virtudes chamadas Morais, ou cardeais (cardo=gonzo), são prerrogativas que qualificam a retidão humana, tem como objeto atitudes que favorecem a perfeição moral da pessoa, e a sua união com Deus que é suprema perfeição.

São elas: Prudência, que nos leva a escolher o que é mais conforme a vontade de Deus, habilitação para discernir o verdadeiro bem e para prover e decidir as condições de sua realização (cf. Mt 10,16; Mt 25,2). Justiça, é dar ao próximo o que lhe é devido, é santificar nossas relações com os irmãos, busca sincera de tudo o que favorece a relação e comunhão interna das pessoas entre si e das pessoas com Deus. (cf.: Mt 5,6 e 5-20; Ef 4,24). Fortaleza, que arma-nos para a luta, para a paciência nos trabalhos e sofrimentos, força para elaborar e trabalhar situações negativas para que elas não nos desviem do bem (cf. Is 25,4). Temperança (ou sobriedade), modera em nós a ânsia do prazer e subordina-o à lei do dever, fortificar-se criando o hábito de praticar o que é bom a fim de estar pronto para sintonizar-se com Deus (cf.: 1Ts 5,6; 1Pr 1,13).

Há uma virtude que em si contém todas as outras e que é a Caridade: o Amor de Deus e do próximo amado por Deus (cf. Mc 12,28-34; 1Jo 4,8). A caridade é entre as virtudes, comparada ao sol entre as estrelas, por todas reparte a sua claridade e beleza. A caridade é, portanto não só a síntese, mas a alma de todas as virtudes unindo-nos a

Deus de forma mais perfeita e direta. A caridade é a essência da perfeição.

Assim podemos concluir que a virtude de uma pessoa é o que a faz humana de verdade, ou antes, é o poder específico que tem o homem de afirmar sua excelência própria, isto é, sua humanidade. Ser virtuoso é viver segundo a razão, e como esta é a parte mais nobre do homem, segue-se que a virtude é o supremo bem que no ser humano possa existir.

Por mais difícil que possa ser, torna-se hoje necessária uma “ética das virtudes” que nos faça mais humanos. São as virtudes que fazem um homem parecer e ser mais humano do que outro e sem elas, no dizer do filósofo Spinoza, seriamos a justo título qualificados de inumanos (cf. in Ética, IV, prop. 50). Será que estamos nos desumanizando aos poucos, nos tornando apáticos e indiferentes, ao não propormos mais as virtudes como valores? 




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