Liomar Tavares segura tradicional bandeira para agradecer pela vida após susto em 2013
O quarto encontro de Folia de Reis de São Bernardo, realizado ontem no Parque da Juventude Città Di Maróstica, foi especial para a comerciante Liomar Gonçalves Tavares, 58 anos. Desta vez a moradora da cidade, que acompanha todos os anos a festa religiosa, foi agradecer pela vida.
Ela passou 15 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) após sofrer AVC (Acidente Vascular Cerebral) e tromboembolismo pulmonar bilateral no dia 3 de setembro de 2013. “Se me recuperasse, eu e meu irmão seguraríamos a bandeira (da Sagrada Família) na Folia de Reis para agradecer a graça alcançada.”
Como a comerciante não podia ir à casa do irmão, Jair Gonçalves, em General Salgado, no interior de São Paulo, nem ele vir à São Bernardo, combinaram de cada um pagar a promessa nas suas cidades.
Foi a filha Regiane Gonçalves Tavares, 31, que contou a história para a organização, que fez questão de chamar a comerciante no palco durante a apresentação da Folia de Reis Unidos dos Marinheiros, de Itaú de Minas, em Minas Gerais. “Foi uma emoção muito forte segurar a bandeira. Nem os médicos acreditam como sobrevivi. O caso até virou estudo no hospital”, conta Liomar, com os olhos marejados.
Além dos agradecimentos e pedidos da população, muitas pessoas foram surpreendidas com a tradicional festa interiorana na região. “Não sabia que ainda celebravam o Dia de Reis (comemorado hoje). Acho importante, porque as novas gerações não dão valor para as tradições”, diz a empregada doméstica Lucilene Assunção de Brito, 34, de Diadema, que estava com a filha no parque.
FESTEJO
A celebração católica, que encerra os festejos natalinos, começou por volta das 11h, com missa lotada na Paróquia Santíssima Virgem. Nem mesmo o sol forte desanimou os fiéis e foliões, que seguiram animados em procissão pela Avenida Lucas Nogueira Garcez até o Parque da Juventude, onde sete grupos realizaram apresentações musicais.
Para o chefe da Seção de Difusão Artística e Cultural da Prefeitura de São Bernardo, Kedley Correa de Moraes, o importante é manter viva a tradição. “O objetivo de cada encontro é promover evento que respeite a religião e reúna várias gerações para que possam preservar costumes tão importantes, que parecem se perder ao longo dos anos.”
Foliões falam sobre a paixão e o desafio de manter a tradição
Preservar a tradição religiosa é o que mantêm os grupos de folias na luta e sempre unidos. “O desafio é a falta de participação dos filhos e netos. O costume tem se perdido e eventos como esse, com o apoio do poder público, ajudam a resgatar a folia, que simboliza o nascimento de Cristo”, afirma Pedro Baldoino, 63 anos, coordenador da Folia de Reis Alto do Baeta Neves, de São Bernardo – que surgiu em 1949.
O aposentado Sebastião Aparício, 77, de Itaú de Minas, em Minas Gerais, orgulha-se ao dizer que viaja para levar à Unidos dos Marinheiros para outras cidades. Foram sete horas de ônibus até São Bernardo, mas o cansaço passou longe. “Se a gente não incentivar não tem jeito. Temos que cultivar as nossas raízes.”
Há seis anos na Cia. Esplendor do Oriente, de São José dos Campos, interior de São Paulo, a dona de casa Maria de Lourdes da Silva, 51, se emocionou ao subir ao palco durante a apresentação. “É a primeira vez que visitamos a cidade e ficamos até arrepiados com a presença de tantas pessoas. Por isso, sempre falo que os jovens não podem deixar morrer essa cultura.”
Após a morte do pai, o coletor Aparecido de Lima, 35, presidente da Estrela Guia, de São Bernardo, tem a missão de continuar o legado de 30 anos do grupo. “Foi através dos meus pais que soube da importância. Só tenho a agradecer por conseguir muitas graças, como emprego e saúde.”
Quem também segue os passos da família desde cedo é Jean, 9. Ele é o bastião, também conhecido como palhaço, que veste roupas coloridas e anima o público. “Aprendi o significado da data e gosto de participar.”
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