Cotidiano Titulo A cultura da impunidade
A cultura da impunidade

Tenho o hábito de ler. Busco na TV aberta somente os telejornais...

Por Rodolfo de Souza
Do Diário do Grande ABC
26/08/2013 | 07:00
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Tenho o hábito de ler. Busco na TV aberta somente os telejornais e as raras entrevistas sobre assuntos que de fato merecem atenção, minha e de qualquer pessoa de juízo. Há pouco vi uma que falava sobre uma questão discutida incansavelmente nos meios de comunicação de massa, desta minha pátria. Era o policial, a representante da ONG não sei o quê, o psiquiatra, o apresentador do programa, algumas pessoas, todos dando o seu palpite a respeito de algo que põe em xeque a sociedade deste imenso e rico pedaço de chão, solo de gente feliz. Que, aliás, poderia ser ainda mais feliz caso a violência que impera soberana em seu cotidiano, não impedisse a consolidação dessa felicidade. Logicamente que outras pedras rolam no sapato desse povo, embora tudo indique que esta seja a maior, a mais pontiaguda e perversa.

Arregalam os olhos as pessoas, todas as vezes que um crime bárbaro é motivo de faturamento nas televisões. Falam muito a respeito como se fosse fato inédito, passível de estupefação. A família da vítima, aos prantos, pede justiça. Mas que justiça? Talvez clame pelo apoio daquela senhora de olhos vendados que enfeita o jardim de um suntuoso prédio lá da capital. Infelizmente tudo o que ela faz é enfeitar, até porque a venda lhe foi colocada para isso, para que não enxergue o que acontece, e não fique corada de vergonha, coitada. A bem da verdade custa-me entender o porquê dessa gente pedir auxílio à justiça. Só se for para sepultar o ente querido.

E quando este assunto é pauta nas rodas, o bode expiatório é sempre a sociedade, imagine! “Todos somos responsáveis”, velho clichê sempre presente quando é abordado o lado sociológico ou até filosófico do problema. É... Muita discussão acaba descambando até mesmo para a filosofia. A psicologia, esta já ficou de lado, haja vista o número de profissionais da área que tentam explicar, sem sucesso, a violência. Que há um fundo de verdade quando se culpa a sociedade, lá isso há, afinal quem deposita nas ruas as baratas que assustam as meninas?

É sina do cão que corre atrás do próprio rabo, nunca alcançá-lo. Da mesma forma, me parece vã toda essa conversa sobre criminalidade e sociedade, até porque não cabe à população fazer a tarefa de casa.

Mas não há vontade política – dirá alguém. Desconfio até de aliança escusa nos dedos dos nubentes. Afinal, o caldo desandou há décadas e não houve quem metesse a mão na cumbuca para torná-lo mais fácil de engolir.

Mas Ubaldo disse que não se deve achincalhar aquele povo nobre que habita os palácios e que trabalha duramente para fazer as leis. Segundo ele, a matéria-prima de qualquer nação é a sua gente, logo, quem está no seu comando, por certo que veio do seio dela, da sociedade. Ainda segundo sua tese, é cultura daqui esta compulsão pelo dinheiro fácil, pelo poder a qualquer custo. Descer a lenha em político também já faz parte dos costumes desta terra, mesmo que se saiba que qualquer brasileiro da gema que assumir uma cadeira no jardim do Éden certamente sucumbirá à tentação de comer do fruto proibido. O que não deixa de ser uma violência.

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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