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Vila Conde guarda todo o Grande ABC

Em Rio Grande da Serra, bairro tem nomes de ruas dos outros seis municípios da região

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
23/08/2014 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


A Vila Conde Siciliano está localizada em Rio Grande da Serra. Apesar de ser pequena em extensão, dentro da cidade cabe todo o Grande ABC, já que há seis ruas locais homenageando as cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires.

Os habitantes da vila são as mesmas pessoas que ajudaram a construir as casas que formam o bairro. Exemplo é o casal Maria Aparecida Cassimiro Aleixo, 78 anos, e José Francisco Aleixo, 82. Os dois vivem no mesmo imóvel da Rua São Caetano do Sul que construíram em 1960.

“Quando cheguei aqui, só tinha mato e algumas casinhas ao longe. Começamos a construir a nossa, que foi a primeira da vila, e nossos 11 filhos nasceram aqui. Depois, começou a chegar mais gente para erguer imóveis e a vila foi se formando”, contou Aleixo.

O casal é natural de Visconde de Rio Branco, em Minas Gerais. Os dois moravam em casas vizinhas, e se conheciam desde crianças. O casamento foi em fevereiro de 1957.

Foi a busca por oportunidade de trabalho que fez com que a família viesse para São Paulo. Seu José conseguiu um emprego na Estação da Luz, no Centro da Capital, onde trabalhou até a aposentadoria.

“Tinha experiência como mecânico e consegui atuar como técnico de manutenção na estação. O único lugar que encontramos para morar foi aqui, e então comecei a construir. Eu levava, em média, duas horas de trem até chegar na Luz”, relembrou.

Já Maria Aparecida sempre foi dona de casa, dedicando-se ao cuidado dos 11 filhos do casal. Porém, como o orçamento era apertado, também tentava ajudar nas contas da família. “Como no bairro sempre teve muito mato, colhia flores e samambaias para vender no Centro de Rio Grande da Serra. Até que vendia bem, não era aquelas coisas, mas ajudava”, disse.

Antes de se aposentar, seu José também construiu uma oficina de automóveis na frente de casa para ajudar no orçamento. “Fazia jornada dupla, ficava o dia inteiro na estação e, no fim da tarde, abria a oficina. E olha que se fosse trabalhar 24 horas por dia, tinha coisas para fazer do mesmo jeito.”

Hoje um dos filhos do casal está à frente da oficina, que fica aberta em horário comercial. Porém, nenhum dos 11 filhos, sendo que um já morreu, vive no bairro. “Estão todos criados, casados, cada um com suas famílias. Ninguém quer ficar aqui, acham muito calmo, muito parado”, disse o pai.

O que ambos têm certeza é que seguir o exemplo dos filhos não é uma opção. “Construímos neste lugar e só saímos daqui para o cemitério mesmo. A vida foi sofrida, andava com uma bota nos pés porque, quando chovia, a rua era pura lama. Agora temos paralelepípedos, pelo menos”, disse seu José.

Além disso, conforme completa a mulher, “tenho horror de cidade grande e apartamentos. Não posso nem visitar minhas filhas que quero logo ir embora.”

Metalúrgico conserta máquinas nas quais atuou por toda vida

Além da oficina construída pelo casal Aleixo, na mesma rua há uma porta que pode ser confundida com uma concorrente. Porém, ela abriga pequena metalúrgica que pertence ao morador João Paulo Fernandes, 67 anos.

Ele se mudou para a Vila Conde no ano de 1983 por ter parentes no local. Atualmente, trabalha com manutenção de peças de máquinas, ofício que adquiriu após se cansar da vida de operário em metalúrgicas, onde trabalhou por muitos anos. Decidiu montar empresa própria há oito anos.

“Comprei uma furadeira industrial vertical, um torno mecânico, uma frisadora, uma ferramenteira e uma plaina. Comecei a consertar as máquinas que operei durante toda a minha vida. Não queria ficar parado depois de me aposentar”, afirmou.

Hoje ele conserta peças de máquinas de empresas em Itapira e Atibaia. Fernandes vai até as cidades para buscar o serviço e realizá-lo em sua própria metalúrgica.

Porém, depois de praticamente 30 anos no ofício, ele está cansado e pronto para deixar o espaço para o filho, Roberto Fernandes Lima, 31. “Estou fazendo cursos técnicos na área, mas quem me incentivou mesmo a seguir a metalurgia foi o meu pai. Só não sei se consigo tocar isto aqui sem a ajuda dele”, disse Lima.

Prestes a deixar a profissão, Fernandes se emociona. “A minha maior motivação é ver a máquina funcionando depois de todo o trabalho que tenho. O orgulho de ser metalúrgico é algo que não sai da gente nunca. Mas um dia tudo cansa, né? Hoje sinto que preciso fazer outras coisas.”

Moradores elogiam a tranquilidade típica de cidades do interior

Nas ruas da Vila Conde, a opinião de todos os moradores é a mesma em relação à segurança. Quem mora na Vila Conde não tem problemas com criminosos.

De acordo com a dona de casa Amara Fernandes da Silva, 62 anos, que vive no local há 41, a maior conquista do bairro é a vizinhança. “Só pessoas muito boas moram aqui. Todos se conhecem e se ajudam em caso de necessidade. Eu mesma não lembro qual foi a última vez que aconteceu um crime aqui, é muito tranquilo mesmo.”

Porém, dona Amara não faz só elogios ao local onde mora. “Por exemplo, do lado de casa tem um terreno em que o mato é muito alto. Tudo bem que é bom ter área verde, o que tem de monte na região, mas se ninguém vier cortar, os ratos que vivem aí vão começar a entrar na minha casa”, reclamou.

Já o operário mecânico Nilton Moreira, 43, não está satisfeito em relação à frequência do transporte público na região. No bairro só passa uma linha de ônibus com destino ao Centro de Rio Grande, que tem a frequência de hora em hora, segundo os moradores.

“Para se ter uma ideia, o primeiro ônibus passa às 4h20, sendo que o primeiro trem sai da estação às 4h. Trabalho em Santo André e prefiro ir até o Centro a pé e pegar o trem na hora que ter que ficar esperando o coletivo. Chego bem mais cedo”, explicou.

Já para o comerciante Wilson Ramos, 37, o principal problema são as áreas de lazer. “Tenho duas filhas, uma de 9 anos e outro de 3, e faz muita falta não ter um parque aqui perto ou um cinema, por exemplo. Quando queremos fazer um programa em família, temos que nos deslocar da cidade de carro, já que não tem nenhuma opção”, disse.

Dono de uma mercearia no bairro, ele também reconhece que a segurança é um ponto forte do local, mas disse que se as ruas fossem iluminadas à noite, ajudaria ainda mais a prevenir crimes. “Sabemos que o bairro é seguro e que todos se conhecem, mas até para andarmos por aqui à noite, a iluminação deveria ser melhor. Outra coisa é que os moradores param muitos carros na rua e dificultam a passagem dos pedestres, mas esse é um problema de conscientização.”

Procurada, a Prefeitura não respondeu até o fechamento desta edição. 




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