Ao assumir a Prefeitura de São Bernardo, em janeiro, Orlando Morando (PSDB) se deparou com os cofres municipais vazios. Situação, diga-se, não muito diferente do que a experimentada pela imensa maioria de seus colegas Brasil afora, em boa parte devido à crise financeira que assola o País desde meados de 2014. Em vez de reclamar, a exemplo de alguns, o tucano optou por buscar alternativas para recompor o caixa. A primeira medida foi identificar os ralos por onde estava escoando o Orçamento. Constatou-se, então, que parcela razoável do dinheiro público era consumida para financiar atividades privadas.

Explica-se. Município cortado por uma das principais rodovias do País, a Anchieta, São Bernardo recebia vários pacientes acidentados na estrada e arcava com o tratamento. Se não pode negar os cuidados por imposição constitucional, por que, então, não enviar a conta dos atendimentos à concessionária que administra a via? Foi o que fez Morando por meio de projeto de lei aprovado pela Câmara e já em vigor.

Outra distorção de gastos descoberta pelo governo são-bernardense, também no setor da Saúde, diz respeito ao atendimento prestado pela rede pública a pacientes que possuem planos privados. Neste caso, por que não pedir ressarcimento dos valores aplicados à Agência Nacional de Saúde Suplementar, responsável por regulamentar a atuação das empresas do segmento, e ao Fundo Nacional de Saúde?

Pois Morando acaba de aprovar na Câmara projeto de lei autorizando o município a cobrar diretamente da ANS e do FNS o ressarcimento integral dos gastos com pacientes que possuem planos privados. Justo. Se o segurado paga para ter atendimento na rede particular, por que onerar o sistema público? A sociedade não é obrigada a sustentar os lucros cada vez mais exorbitantes das operadoras de planos de Saúde. O prefeito de São Bernardo demonstra audácia ao propor a divisão das contas com quem se utiliza do setor público para aumentar seus ganhos. Que sua atuação inspire outros gestores neste momento especialmente difícil da economia nacional.