Cultura & Lazer Titulo Música
Modo de patrocínio faz balanço em festival no Rio
01/12/2015 | 08:30
Compartilhar notícia


Um festival de música em Copacabana, nas chuvosas tarde e noite de domingo, fez uma espécie de balanço dos dez anos de um dos projetos de financiamento privado mais comentados da área artística. A empresa de cosméticos Natura escalou alguns dos nomes que lançaram trabalhos nos últimos meses com parcelas de dinheiro incentivado e outras do caixa da própria empresa. Para quem olhava apenas para o palco, era tudo música, com momentos comoventes mesmo debaixo de chuva e um encontro inédito em praça pública entre Milton Nascimento e Gal Costa. Para quem pudesse ver seus bastidores, era também o resumo da ópera de um modelo de negócios de dez anos.

Ali estava a cena que o selo da empresa ajudou a sedimentar. Um antimovimento, no sentido estético e geracional, em que os idiomas e as idades não precisam estar alinhados para que as mensagens cheguem ao destinatário. Há uma renovação em curso, sendo feita pelo novo e pelo velho. Existe saída para a cultura mesmo em um país com as estruturas de Estado paralisadas. Música deixou de ser investimento de teor proselitista das empresas para se tornar estratégia de comunicação. É hora de apostar na renovação e deixar que os beneficiados até aqui trilhem os próprios caminhos.

Tulipa Ruiz é uma força inquestionável. Seu disco Dancê manteve a carreira na progressão iniciada pelos dois anteriores e expôs mais de seu magnetismo. Mesmo debaixo do temporal que abateu Copacabana, ela arrebatou boa parte da plateia. Sua voz, no entanto, pode deixar de surpreender se o recurso dos agudos continuar sendo banalizado. É preciso saber a dose certa mesmo das maiores virtudes.

Emicida é um 'case'

Além de fazer o acima da curva Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, ele desafiou tabus do meio que lhe deu vida. Pois quem imaginaria, há 10 ou 15 anos, o rap recebendo patrocínio de uma empresa de cosméticos? Seu equilíbrio tem sido sábio. Sem vender convicções, amplia o universo do próprio gênero ao aliar indignação e groove fora dos padrões engessados pela linha dura. Antes do patrocínio, aprendeu a andar sozinho ao lado do irmão Fióti e profissionalizou sua independência, algo que a potência Racionais MC?s ainda não conseguiu fazer.

Agora, a liberdade artística tem preço. Ao ir mais longe, Emicida, além de rimar, quer cantar. E é no canto em que dói seu calcanhar de Aquiles. Se puder educar a voz e ganhar potência, vai fazer uma sinergia entre mundos mais vitoriosa.

Chico Cesar, o terceiro no palco, fez um disco vibrante chamado Estado de Poesia. É um absurdo de compositor e merecia a tranquilidade desse suporte. Faz canção popular cheia de contestação sem medo das velhas formas. Quer mais é se comunicar, mas há algo que parece estar sempre triste ali dentro. Chico tem uma tristeza sua, daquelas que maltratam, como se cobrassem um preço antes de se tornarem belas canções.

E aí veio Gal Costa. Ao ver Milton surgindo em sua fragilidade angustiante, fez por ele o que a plateia queria fazer. Cuidou, deu carinho e o colocou no colo. Seu Estratosférica é uma das maiores pontes, erguida pelo produtor Marcus Preto, a ligar a música do passado com a do presente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;