Política Titulo Entrevista
'Foco de Marinho ao PT
atrapalha o Paço', diz Alex

Deputado estadual Alex Manente, do PPS, avalia
que prefeito de São Bernardo deixa a desejar

Por Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
11/08/2013 | 07:00
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Tiago Silva/DGABC


O deputado estadual Alex Manente (PPS) afirma que a preocupação do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, com o PT atrapalha o andamento da administração. “Quando foca muito no partido, deixa o resto a desejar, atrapalha o Paço”, discorre o popular-socialista, um dos principais críticos da gestão petista. E compara Marinho ao ex-prefeito da Capital e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. O pessedista concentrou força na criação de seu partido e, concomitantemente, teve queda na avaliação de seu governo em território paulistano. “O prefeito (Marinho) se envolveu demais nas discussões do PT estadual e nacional. Isso traz prejuízo.” Apesar da avaliação negativa, o parlamentar diz que não faz oposição raivosa. “Farei oposição construtiva. Apontando caminhos para a cidade.” Alex Manente analisa que o governo Marinho “é fraco” e que há maquiagem da administração com propagandas em rede de televisão. O deputado defende inversão de prioridades: questões básicas como Saúde, Educação e Transportes têm de ter avanços para depois investir em publicidade. A insegurança econômica do País, cujo governo federal é conduzido pelo PT, é outra questão apontada por Alex para atacar os projetos que não saíram do papel na gestão Marinho. A seguir, os principais trechos da entrevista com o popular-socialista, que ainda não definiu se tentará renovar mandato na Assembleia ou se disputará a Câmara Federal em 2014.

DIÁRIO – Qual avaliação do governo Marinho? Dá para separar os quatro anos do primeiro mandato dos oito meses da segunda gestão?

ALEX MANENTE – O governo Marinho iniciou o segundo mandato com obrigação grande com a cidade, que é concluir os programas que propagou durante toda a campanha, criando uma cidade que tinha seus serviços públicos resolvidos. O que observamos agora é o contrário. As obras estão paradas, não têm prosseguimento, ações fundamentais não estão sendo concluídas. O exemplo principal é a falta de uniforme para as nossas crianças. Acho falta de consideração com a população.

DIÁRIO – O prefeito coloca a culpa no TCE (Tribunal de Contas do Estado), que foi rígido ao avaliar a licitação e decidiu brecá-la.

ALEX – Tenho sido comedido com as críticas à administração, porque nos primeiros seis meses qualquer crítica fica como choro de derrotado, apesar de o governo ser continuidade. Neste momento, temos condições concretas de observar alguns fatos, daquilo que está sendo delineado para os próximos três anos. Em relação ao TCE, ninguém está acima da lei. Então, quando um tribunal responsável por observar as contas do município aponta uma licitação irregular, ela precisa ser corrigida. É soberba achar que está acima da lei, diante de um tribunal. Essa justificativa pune o cidadão. Era muito mais fácil adequar a licitação e dar os uniformes.

DIÁRIO – Em relação aos demais setores da administração, quais pontos positivos e negativos?

ALEX – Existem muitos problemas. O desafio da Saúde é permanente. Temos muitas reclamações. As reclamações têm ampliado. Durante o processo eleitoral, estávamos no caminho correto das manifestações que tomaram as ruas recentemente. Falta de médico, falta de investimento em infraestrutura, temos um transporte muito precário. A cidade não se desenvolveu, as obras estão paradas. Nós falávamos há dois anos sobre o Hospital de Clínicas e continuamos com o mesmo discurso. Há prorrogação rotineira da data de inauguração. Não dá para justificar que não tem dinheiro para terminar o Hospital de Clínicas, que precisa de apoio dos governos estadual e federal, quando observamos no horário nobre da Rede Globo os anúncios veiculados diariamente. Certamente isso não é barato. Esses recursos deveriam ser direcionados para resolver os problemas, depois para propaganda. O dinheiro é usado de maneira supérflua, tentando potencializar politicamente a administração.

DIÁRIO – Então, houve queda no desempenho, no ritmo do governo, de um mandato para o outro?

ALEX – Se eu avaliar de maneira global os cinco anos de governo, acho que o governo é o mesmo. Teve muita maquiagem durante o processo eleitoral. A série de obras iniciadas não foi concluída. Grande parte da obra que a população via com perspectiva não foi concretizada. Não tem médico nem medicamento. A UBS do Silvina foi fechada. O Transporte é precário. Atendemos população muito grande e, se pegar o Alvarenga, a pessoa demora mais de uma hora para sair do bairro e chegar ao Centro. Temos falta de prioridades. As prioridades estão invertidas.

DIÁRIO – Acredita que esse cenário se arrastará pelos próximos três anos?

ALEX – O governo é fraco. Nós já esperávamos. Muitas pessoas votaram no prefeito para concluir os projetos. Outra questão é que existe uma disputa interna pela sucessão do prefeito. O terceiro ponto é partidário. Ele se volta muito à defesa e à construção do partido. Isso dá muito errado. O prefeito tem de administrar o Orçamento, que é grande (R$ 4,4 bilhões para este ano). Quem muda a vida das pessoas é o prefeito.

DIÁRIO – O sr. está dizendo que o prefeito dá mais atenção às questões do PT do que do Paço?

ALEX – Marinho tem preocupação muito grande com o PT, com as questões que não envolvem São Bernardo, e não concluiu aquilo que estava programado por ele. Dá grande atenção ao PT e cada um se envolve com o partido como quiser. Mas temos de avaliá-lo como prefeito. Quando foca muito no partido, deixa o resto a desejar, atrapalha o Paço. Pelas movimentações para o pleito do ano que vem, ele deve estar muito preocupado com a eleição de 2016. Sinal que ele não está garantindo um bom governo. Se tivesse, não precisaria se preocupar com a eleição de 2016.

DIÁRIO – A gestão Marinho sempre teve atenção especial do governo federal no envio de recursos. O momento econômico de insegurança interfere na situação que a cidade vive?

ALEX – Acaba interferindo. A cidade teve promessa de muitos recursos federais e muitos não se concretizaram. A própria administração fez projetos contando com dinheiro de Brasília e ainda não chegou. O governo federal tem outra preocupação. Navegava em céu de brigadeiro, mas hoje tem problemas gravíssimos em relação à opinião pública.

DIÁRIO – As discussões sobre a eleição de 2014 estão afloradas nos corredores do Executivo. Faz parte da política, é natural a um ano do pleito, ou está exagerada?

ALEX – O prefeito se envolveu demais nas discussões do PT estadual e nacional. Isso traz prejuízo. Veja o (Gilberto) Kassab (ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD), como se envolveu na questão de formar um partido e como isso influenciou na administração dele. Marinho se envolve rotineira mente nas questões do PT, isso tira o foco da gestão. Isso é ruim.

DIÁRIO – O que falta, então, para a oposição ser mais eficiente? O prefeito foi reeleito no primeiro turno.

ALEX – As pessoas querem que a oposição seja raivosa. Eu não farei isso. Farei oposição construtiva. Apontando caminhos para a cidade. Tenho mantido uma coerência da campanha até agora. O que eu falava há um ano está se concretizando neste momento. A oposição precisa estudar a cidade e buscar novos caminhos, soluções. Nós estamos cumprindo esse papel. Na Câmara temos minoria, isso dificulta qualquer ação.

DIÁRIO – Muitos defendem a união da oposição para vencer o pleito de 2016 e conquistar a Prefeitura. O sr. também tem essa leitura?

ALEX – Não penso em 2016. É muito precoce. Existem muitos movimentos até lá. Não tenho essa preocupação neste momento. Não torço para quanto pior, melhor. Temos de fazer as críticas para, a partir delas, a administração possa melhorar.

DIÁRIO – Definiu junto com o PPS se sai a estadual ou a federal?

ALEX – O importante, volto a dizer, é que, onde formos escalados, faremos o nosso papel bem feito. Continuo com o mesmo pensamento: a região tem carência de ter representação efetiva no Congresso Nacional. Me anima saber que o próprio Marinho quer estimular candidaturas a federal, porque é bom o debate ser em nomes locais. Quanto mais candidatos a federal, melhor. Para que as pessoas se atentem que podem votar em políticos daqui. A cada três estaduais, temos um federal. Vou aguardar a decisão partidária. Quem me dá a legenda é o partido. Minha vontade é concorrer ao Congresso.




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