Economia Titulo 220 mil no ABC
No Grande ABC, 220 mil aposentados seguem na ativa

Cerca de 70% dos que ‘penduraram chuteira’
voltam a trabalhar; baixo valor do benefício estimula

Por Gabriel Russini
Especial para o Diário
24/01/2017 | 07:07
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Denis Maciel/DGABC


Foi-se o tempo em que a aposentadoria era sinônimo de lazer, assistir televisão e, claro, descanso. Atualmente, muitas pessoas que pararam de trabalhar alguns anos atrás tiveram que ‘despendurar as chuteiras’ e retornar ao mercado de trabalho, tanto formal quanto informalmente. Mais especificamente, 220 mil pessoas nas sete cidades. Hoje, em que se celebra o Dia Nacional do Aposentado, quase não se tem motivo a comemorar.

Segundo dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), a região encerrou 2016 com 315.467 aposentados que, juntos, recebem o total de R$ 563,5 milhões, o que dá média de R$ 1.786,35 por benefício. De acordo com estimativas da Associação dos Aposentados e Pensionistas do ABC, cerca de 70% dessa população (220.826 pessoas), no entanto, tiveram que voltar à ativa. O percentual é o mesmo de 2015, no entanto, o volume de aposentados que deixaram de lado a pantufa e o roupão era de 215 mil. Em outras palavras, o mercado de trabalho passou a absorver mais 5.826 aposentados em um ano.

E esse movimento é crescente. De acordo com a entidade, em 2014, 60% dos segurados do INSS voltavam a trabalhar. Em 2013, a metade deles precisava seguir exercendo atividade remunerada.

Para o diretor de políticas públicas da Associação dos Aposentados e Pensionistas do ABC, Luis Antonio Ferreira Rodrigues, o baixo valor pago pelo INSS é determinante para o retorno de aposentados ao mercado de trabalho. “Não tem como viver apenas com o salário mínimo, ainda mais nesse período atual de incerteza, muitos aposentados tiveram que voltar a trabalhar”.

Esse é um dos motivos para que Maria Cecília Paleta, 69 anos, dona de um bazar em Santo André, desde 1996, continue na ativa de segunda a sábado, das 7h às 18h. “Se eu parar de trabalhar não vou ter o que comer, porque o salário mínimo que recebemos é muito baixo. E não é só isso. Preciso pagar o convênio e alguns medicamentos que tomo diariamente. Mas, fazer o quê? É preciso colocar sorriso no rosto, atender meus clientes e agradecer por tê-los”, desabafa.

Maria Cecília afirma que o valor do convênio médico, de R$ 565, somado ao dos remédios, de R$ 500, é superior à sua aposentadoria. Ela ganha agora R$ 937, e gasta apenas com esses dois itens R$ 1.065. Para bancá-los, ainda precisa inteirar R$ 128.

Também é o caso da recepcionista Edna Brancaglion, 61, que não sabe quando vai conseguir parar de trabalhar. “É complicado, a gente nunca sabe o que vai acontecer, ainda mais com essa reforma (da Previdência Social) que querem fazer aí. O jeito é continuar trabalhando para pagar as contas”, diz ela, que teme que as mudanças nas regras do INSS interfiram em sua renda – que não vai acontecer, haja vista que as mudanças, se aprovadas no Congresso, passarão a valer para quem ainda pretende ‘pendurar as chuteiras’ (leia mais abaixo).

Em novembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitou o direito à desaposentadoria, o que prejudicou um terço dos aposentados na região, ou cerca de 105 mil pessoas, que, além de seguir trabalhando, continuam pagando o INSS. Ou seja, essas pessoas perderam a chance de trocar o benefício atual por outro mais vantajoso, que agregasse as contribuições feitas à Previdência após a aposentadoria.

CRESCIMENTO - O volume de aposentados disparou no ano passado, em comparação a 2015. O Grande ABC ganhou 13.960 deles, alta de 4,4% ante o ano anterior, totalizando 315.467 pessoas. A corrida foi provocada pelo temor à instauração de idade mínima, que já se especulava no início de 2016 e, posteriormente, à reforma da Previdência, que o presidente Michel Temer (PMDB), assim que assumiu o poder, em agosto, já colocou como bandeira de seu governo.

Em 2015, a população aposentada nas sete cidades era de 301.507 pessoas, com benefício médio de R$ 1.599,18. O volume havia crescido em 2,5% naquele ano, com 7.714 aposentados a mais em relação a 2014, que contava com 293.793 deles.


Reforma da Previdência Social precisa ser discutida

Pelas regras propostas pela Reforma da Previdência, o trabalhador vai precisar atingir a idade mínima de 65 anos e ter pelo menos 25 anos de contribuição para poder se aposentar. Neste caso, receberá apenas 76% do valor da aposentadoria – que vai corresponder a 51% da média dos salários de contribuição, acrescidos de um ponto percentual para cada ano de contribuição.

Dessa forma, para receber a aposentadoria integral, será preciso contribuir por 49 anos, que é a soma dos 25 anos obrigatórios e 24 anos adicionais.

Segundo a presidente do Iape (Instituto dos Advogados Previdenciários), Luciana Farias, a entidade vem promovendo várias atividades com o objetivo de esclarecer a população e os parlamentares sobre as propostas do governo. “Vamos aproveitar o Dia da Previdência Social e do Aposentado para fazer reflexão sobre esse projeto, que não pode ser aprovado do jeito que está. Precisamos debatê-lo. É fundamental que nos mobilizemos para que seja feita reforma justa sem perda de direitos.”

MUDANÇA NO CNIS - Para celebrar o 94º aniversário da Previdência Social, comemorado hoje, junto com o Dia do Aposentado, até sexta-feira o INSS promove ações ao público que comparecer nas unidades de atendimento.

O foco será divulgar a nova central de serviços pela internet, o Meu INSS, disponível no site www.serviços.inss.gov.br. Por meio dele, as pessoas podem obter o extrato do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais), a carta de concessão do benefício, a declaração de regularidade dos pagamentos de contribuintes, entre outros serviços.

Os segurados serão orientados a como conseguir e validar o código que permite acesso a todos os serviços do Meu INSS. Ele pode ser gerado pela própria internet e validado com uma ligação para o telefone 135. Até então, para obter a senha e saber quanto se tem em contribuições, e quanto tempo falta para aposentar, era preciso ir a uma agência. 




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