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ABC da Economia
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ABC da Economia
O agravemento da pobreza
Yara Ferraz
20/12/2019 | 07:07
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No Observatório da USCS tratei da pobreza no Brasil e evidenciei alguns dados específicos do Grande ABC. Mostrei a preocupação com o que mostram os indicadores mais recentes.

No mundo o quadro também é preocupante. O último relatório da ONU mostrou que a fome e a desigualdade no mundo voltaram a crescer. O estudo denominado ‘El Estado de La Seguridad Alimentaria e La Nutrición Em El Mundo’ relata que cerca de 821 milhões de pessoas no mundo passam fome e estão desnutridas (uma em cada nove).

No Brasil, a meta para a redução da pobreza e da fome foi atingida em 2014, quando o País apresentou um percentual de 3% e saiu do denominado mapa da fome (está no mapa da fome quando 5% ou mais da população de um país ingerem menos calorias que o recomendado). Infelizmente o relatório apresentado pelo grupo de trabalho para agenda 2030 demonstrou que o País corre um grande risco de voltar para este mapa, já que 2,5% da população brasileira (5,2 milhões de pessoas) passaram fome em 2017.

Uma das medidas da pobreza é o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), mensurado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). A metodologia do IBGE parte de uma amostra de municípios e distingue o desenvolvimento de cada Estado, região metropolitana e municípios. O índice varia de zero a um, sendo que: de zero a 0,499, considera-se que o desenvolvimento é muito baixo; de 0,5 a 0,599, baixo; de 0,6 a 0,699, médio; de 0,7 a 0,799, alto; e de 0,800 a um, muito alto.

No ranking de Estados, apenas o Distrito Federal está na faixa de desenvolvimento muito alto. Na sequência, 12 Estados apresentam desenvolvimento alto, incluindo São Paulo (ocupa a segunda posição no ranking, com 0,783). Todos os demais Estados apresentam índice médio. No ranking municipal, dos 5.565 municípios brasileiros, 31 estão na faixa do índice muito baixo.

No Grande ABC, a renda per capita do município de São Caetano (R$ 2.043,74) é quase quatro vezes maior do que a renda de Rio Grande da Serra (R$ 563,57). Rio Grande da Serra é o município que detém o maior índice de pessoas extremamente pobres e pobres na região (1,98% e 7,02% respectivamente), seguida por Mauá (1,41% e 5,28%) e Diadema (1,54% e 5,41%). Um total de 871 pessoas no município de Rio Grande da Serra vivem com menos de US$ 1,25 por dia; 5.560 em Diadema e 5.580 em Mauá. Em São Caetano este número cai para 134 pessoas.

Cabe observar as vulnerabilidades sociais que podem levar à pobreza extrema ou à pobreza. O PNUD observa três variáveis: percentual de mães chefes de família sem escolaridade fundamental e com filho menor, no total de mães chefes de família; percentual de vulneráveis a pobreza; percentual de pessoas de 18 anos ou mais sem escolaridade fundamental completo e em ocupação formal.

O item mães chefes de família representou, em 2010, o percentual de 17,27% em Diadema e 4,79% em São Caetano. Esta variável expressa uma vulnerabilidade importante, visto que esta mulher possivelmente se encontra desempregada ou em empregos em torno de um salário mínimo, o que aumenta a possibilidade de esta família estar abaixo da linha da pobreza. A porcentagem de vulneráveis à pobreza também é bastante desigual entre os municípios. Em 2010, enquanto São Caetano apresentava porcentagem de 3,27%, Rio Grande da Serra, tinha 22,01%.

Para alguns pesquisadores, a vivência prática em lugares vulneráveis é mais importante para o desenvolvimento de políticas assertivas do que os ‘números’. Para Dean Karlan e Jacob Appel, escritores do Livro Mais do que Boas Intenções, para falar de pobreza são necessárias vivência e experiência para tratar o assunto: “Passe algum tempo fazendo esse tipo de trabalho de campo – em enormes e caóticos centros urbanos, em favelas absurdamente densas, subindo por encostas íngremes, em cidades minúsculas, empoleiradas na beira de um penhasco (...) – e você rapidamente para de falar do ‘combate à pobreza’ com metáforas inadequadas. A pobreza não é uma algema que possa ser rompida, um tumor que possa ser extirpado (...). Pelo menos, vê-la dessa maneira não adianta nada”.

É importante ressaltar que a desigualdade social possui várias dimensões, sendo que a suas maiores consequências são a pobreza e a fome. Ciclos econômicos de crise, desemprego e desastres ambientais, entre outros, são capazes de acentuá-la. Políticas públicas direcionadas, assim como trabalhos regionais, são efetivos no combate às vulnerabilidades que causam tais desigualdades. 




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