Memória Titulo
Em defesa do Museu do Trabalho e do Trabalhador
Por Ademir Medici
22/05/2017 | 07:00
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 “O Ministério da Cultura, chefiado pelo ex-deputado Roberto Freire (PPS), descartou a possibilidade de alteração do convênio do Museu do Trabalhador em São Bernardo, no valor atualizado de R$ 21,7 milhões. O posicionamento é oposto ao manifestado pelo próprio popular-socialista, que, em dezembro, sinalizou que estudaria a possibilidade de mudança no objeto do contrato. Isso significa que o local terá que abrigar um museu.”

(Cf. Humberto Domiciano, Diário, 30-4-3017).

‘Tinha que ser aqui’

Texto: Nevino Antonio Rocco

Gostei da posição do ministro Roberto Freire, da Educação, a respeito do Museu do Trabalho e do Trabalhador. Tinha que ser aqui.

Na concepção popular, trabalhador não é o empresário, o agricultor nem a dona de casa, apesar de estes se dedicarem sem limites de horário a todos e múltiplos afazeres, mas aquele que identifica a mão de obra que move a indústria. Daí a lógica de aqui se localizar esse museu; aqui se deu início à nossa industrialização para valer.

Posso estar enganado mas, pela minha vivência desde menino quando, nos anos 1943 a 1946, a caminho do Grupo Escolar, presenciava o trabalho de ereção da fábrica da Brasmotor nos terrenos da antiga chácara e garagem de Etore Tosi, como ao depois, ali trabalhando desde 1953, acredito que a indústria pesada brasileira, de fato, tenha nascido aqui, na referida Brasmotor, sob a presidência do boliviano Miguel Etchenique e direção industrial do mexicano José Rafael Bejarano. Diretor industrial. Ivan Theodor Rombauer, diretor comercial. Engenharia chefiada por Willy Brusque.

Primeira em estamparia pesada, esmaltação a fogo, zincagem eletrolítica, marcenaria, embalagem etc e tal. Tudo isso antes da criação do Geimec (Grupo Executivo da Indústria Mecânica), depois transformado no Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), pelos governos de Getúlio e Juscelino, que vedaram a importação de veículos completos, condicionando-a à nacionalização de pelo menos 10% do peso a cada ano, meta de 100% em, no máximo, dez anos.

Premidas por essa obrigatoriedade, General Motors, Ford e Varam Motores, que já operavam no País apenas montando tudo importado, bem como as novatas Mercedes-Benz, Willians Overland, International Harvester e DKW Vemag, que estavam chegando, alternativa não lhes restou que adquirir da Brasmotor, única com estamparia e ferramentaria, partes que fabricava para veículos que montava para a Chrysler.

Por isso, os primeiros caminhões brasileiros, modelos 1956 e 1957, alguns ainda circulando por aí como Chevrolet Brasil, Ford, Nash e Mercedes, foram equipados com cabines idênticas, uma adaptação dos modelos Chrysler – Dodge, Fargo e De Soto, estampadas na Brasmotor.

Da mesma forma, fogões Brasil, Cosmopolita e outros, geladeiras GE, Frigidaire, Consul e de outras marcas, traziam componentes estampados e esmaltados ou zincados, além de outros, produzidos pela Brasmotor. O alumínio, o plástico e o isopor ainda não tinham ocupado o lugar do ferro, das chapas estampadas e esmaltadas, cromeadas ou zincadas. Os primeiros testes com isopor não satisfizeram para substituir o isolante em lã de vidro.

A segunda esmaltaria instalou-se, mais tarde, na Rua Lopes Trovão (Centro de São Bernardo) e acabou vendida à Brasmotor. A Ferro Enamel, fabricante da frita, base da esmaltação, transferiu-se de São Caetano para São Bernardo, fixando-se na esquina da Av. Senador Vergueiro com a Rua João Daprat, onde mantém suas instalações. Outra estamparia, a Fran, de Francesco Corti, passou a estampar parachoques, calotas e outros componentes para caminhões e automóveis.

Graças às limitações para importação de veículos completos, a meta de dez anos fora atingida em cinco. Em 1957 a Volkswagen produziu sua primeira Kombi 100% nacional! Contribuíram, para isso, também os favores instituídos no governo Juscelino, pela extinta Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito), para importação de máquinas. Favores esses que o saudoso Roberto Campos logrou incluir no projeto que se transformou no Código Tributário Nacional, como imposto único sobre minerais e isenções para ambulâncias, caminhões, ônibus, tratores, importação e transferência de fábricas completas para o nosso País que, como nunca antes, nem depois, criaram empregos e produziram desenvolvimento, favores esses, lamentavelmente, extintos a partir da redemocratização do País.

UM INSTANTE, PREFEITO MORANDO

Com certeza o prefeito Orlando Morando conhece o Dr. Nevino Antonio Rocco, reserva moral da nossa cidade de São Bernardo. Gente séria, estudiosa. Advogado e jornalista brilhante. A aula que ele nos dá hoje mereceria ser inserida nos anais da inteligência são-bernardense.

A questão do Museu do Trabalho e do Trabalhador de São Bernardo tem duas facetas: a maléfica, que é esse elefante branco que envergonha a todos, a 15 metros do marco zero de São Bernardo; e a benéfica: a riqueza que a cidade ganharia com um espaço – simples e modesto – que faça justiça ao trabalho de tantas gerações, antes e depois da imigração, antes e depois da indústria têxtil e moveleira, antes e depois da Via Anchieta, que nos legou a moderna indústria automobilística.

Pessoalmente, defendíamos que o Museu do Trabalho e do Trabalhador fosse instalado nos baixos das arquibancadas populares do Estádio 1º de Maio, a custo zero, seguindo o modelo vitorioso do Museu do Futebol, no Pacaembu; outros pesquisadores defendem igualmente a iniciativa, e um dos espaços pensados é o antigo Jockey Clube, ao lado do Parque Municipal Estoril, que está sem uso atualmente.

O que todos defendemos é um espaço digno que receba antigas bancadas de marceneiros, teares, modelos pioneiros dos veículos aqui produzidos – os primeiros modelos levavam, junto à direção, o brasão de São Bernardo.

Por isso, prefeito Morando, o artigo que acolhemos do Dr. Nevino é um alento. Veja a riqueza das informações, como São Bernardo é importante. Uma das riquezas desta cidade está nestes subsídios industriais, que não podem se perder na poeira do tempo.

Sabemos que a destinação do ‘elefante branco’ erigido ao lado do Paço passa pela questão política. O espaço se desgastou antes de ficar pronto. Que seja ocupado por outros projetos, e não se percam os milhões ali enterrados. Mas não deixe, prefeito, que a história do trabalho e do trabalhador se perca.

Há muitos pesquisadores, batateiros legítimos, que topariam colaborar, graciosamente, para que o Museu do Trabalho e do Trabalhador seja implantado com dignidade, sem custos ao erário. Ouça essa gente boa e querida, correligionária. E demonstre grandeza diante de um aspecto fundamental que pensa a identidade de São Bernardo.

Diário há 30 anos

Sexta-feira, 22 de maio

de 1987 – ano 30,

edição 6448

Manchete – Governo reduz compulsório dos carros

Economia – Aumento do custo da cesta básica supera disparos do gatilho salarial.

Editorial – Pobre Brasil... Pobre consumidor

Em 22 de maio...

1897 – Juizado de Paz de Ribeirão Pires realiza o primeiro casamento: o do santista

João Francisco de Morais

com Maria de Lima de Jesus, natural de Mogi das Cruzes, ambos já residindo em Ribeirão Pires.

1917 – A guerra. Do noticiário do Estadão: combate naval entre unidades francesas e alemãs; outro navio brasileiro foi torpeado, o vapor Tijuca,

no Mar do Norte, ao largo da costa da Bretanha.

Hoje

Dia do Apicultor

Dia Internacional da Biodiversidade

Dia do Abraço

Santos do Dia

Rita de Cássia

Quitéria

Casto

Municípios Paulistas

Hoje é o aniversário de Bom Jesus dos Perdões, Fernandópolis, Igarapava, Neves Paulista, Pederneiras, Sales Oliveira, Santa Branca, Santa Rita d’Oeste e Santa Rita do Passa Quatro.

Municípios Brasileiros

Celebram aniversários em 22 de maio:

Em Minas Gerais, Brasilândia de Minas, Extrema, Medina,

Santa Rita de Jacutinga

e Santa Rita do Sapucaí.

No Rio de Janeiro, Itaboraí.

Em Alagoas, Cajueiro.

No Rio Grande do Sul, Mariano Moro e Palmitinho.

No Ceará, Pacajus e

Pires Ferreira.

No Mato Grosso, Rio Branco.

Em Goiás, Trombas.

Fonte: IBGE




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