Ozu filmava a simplicidade, distanciada de argumentos mirabolantes. As histórias de seus filmes eram pobres quanto ao enredo. Por conta dessa falta é que se observa em seu cinema o sentido do vazio. A tragédia existe, mas despojada de excessos de emoção.
Filho Único (1936), que passa amanhã, patenteia muito bem essa questão da vida esvaziada. Uma mãe visita o filho, para quem imaginava um futuro promissor, de estudos intensos rumo a uma bela carreira acadêmica. Encontra-o casado, pai de um filho, paupérrimo. A vida daquela mãe, agora avó, encolhe-se diante da frustração de sua esperança, diante do amadurecimento do herdeiro, não mais uma vida em formação, mas uma vida feita.
Pai e Filha (1949) também tem lá suas vidas ocas. E, igualmente, Bom Dia (1959), um dos mais conhecidos filmes de Ozu, no qual dois garotos chantageiam os pais ao fazer voto de silêncio, tudo por causa de uma televisão que não querem comprar. O supérfluo (a TV) submete o essencial (a palavra).
Ozu, 100 Anos – Mostra comemorativa ao centenário de nascimento de Yasujiro Ozu. A partir desta terça, às 16h (Pai e Filha), às 18h (Filho Único) e às 20h (Bom Dia). No Centro Cultural São Paulo – r. Vergueiro, 1.000, São Paulo. Tel.: 3277-3611. Entrada franca.
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