Início
Clube
Banca
Colunista
Redes Sociais
DGABC

Sexta-Feira, 19 de Abril de 2024

Cotidiano
>
COLUNA
Correr para ver quem chega primeiro
Por Rodolfo de Souza
Do Diário do Grande ABC
19/12/2019 | 07:00
Compartilhar notícia


No desenrolar desta vida maluca, há de se imaginar sempre um bando de gente afoita por chegar a lugar nenhum. É uma competição inglória para ver quem é o mais forte, quem tem mais poder aquisitivo e, por conseguinte, dispõe de mais recursos para tocar o barco com mais conforto e dignidade, obsecado mesmo por acumular e acumular. Tem sujeito por aí que se vivesse mil anos não conseguiria gastar o dinheiro que arrebanhou durante décadas, ou herdou.

E segue em busca de mais e mais, atropelando pai e mãe se necessário for. Esta é a vida, afinal. 

Claro que ninguém é capaz de sonhar onde é que vai dar essa estrada, sobre a qual caminhamos todos. Mas é preciso seguir em frente e, se possível, na frente do seu oponente, no caso, seu semelhante.

É assim, caro leitor, que vejo a existência: uma verdadeira competição. No reino animal dá-se o mesmo, uma vez que, todos sabem, ali também quem pode mais chora menos.

Entretanto, às vezes, me pego a pensar acerca de tal fenômeno que nos acompanha desde que deixamos o confortável mundo aquático dos nossos primeiros tempos. Penso, inclusive, que talvez já tenha passado da hora de se mudar um pouco esse estado de coisas, haja vista o sofrimento oriundo de tamanha e injusta competição. Basta que se olhe ao redor para ver que perdemos de alguns e ganhamos de outros. No semáforo o sujeito implora a moedinha que você carrega no console justamente para evitar que seu discurso se estenda demais e tente conscientizá-lo daquilo que você já sabe. Não consigo ver com naturalidade. Somente aceito, porque não cabe a mim tomar grandes decisões que venham a botar um fim em situação tão degradante. 

De qualquer forma, no trabalho, nos estudos, logicamente nos esportes, no lar, no trânsito... Ah! No trânsito! Neste último quesito, então, compete-se nas ruas e nas estradas. Pessoas no afã de chegar primeiro a destinos obviamente diferentes, são impacientes personagens no controle de seus veículos, tenham eles quatro ou duas rodas. Se tiverem duas, deixe-os passar. Nem tente negociar. Até porque, o pensamento lhe foge rapidamente quando na presença irritante daquela sinfonia de buzinas chatas.

Na rodovia, tráfego pesado, velocidade compatível com o permitido, direita forrada de caminhões pesados, e o sujeito aproxima-se rapidamente de sua traseira, sinalizando para que saia da frente. Dá luz o tempo todo. Está impaciente. Desejaria, naquele momento de aflição, ter uma sirene e o carro, repleto de luzes piscantes e pintado de branco, para que pudesse empurrar a todos para a faixa da direita e assim, voar com liberdade no chão asfaltado. Há uma fila, mas o trânsito flui direitinho. Mesmo assim ele quer que os carros saiam, um a um, para lhe dar passagem. 

Também não é possível ver seus faróis, somente o capô de seu carro, tamanha é a proximidade. Na verdade, não sabe bem o porquê de tanta pressa. Talvez não queira mesmo desperdiçar seus HPs excedentes andando a míseros cento e dez por hora. Deve ser isso. Ou, quem sabe, faça uso da super força de seu carro para se encher de poder e ultrapassar seu adversário de estrada, preenchendo de gozo seu espírito competidor. Afinal, o que importa é correr para ver quem chega primeiro. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.