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Quinta-Feira, 18 de Abril de 2024

A região e a indústria química
Por Paulo Lage*
22/11/2019 | 07:00
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A indústria química do Grande ABC tem hoje aproximadamente 1.000 indústrias e 35 mil trabalhadores. Nos últimos anos, o Sindicato dos Químicos do ABC realizou alguns importantes seminários visando prospectar o futuro da indústria e atuar sobre ele. Destes seminários tiramos várias propostas. Uma delas foi o Polo de Cosméticos de Diadema. A cidade tinha um problema que consistia na péssima visão que as pessoas tinham da cidade, especialmente em virtude da violência. Usamos inclusive um lema que era o de associar a indústria de cosméticos de Diadema como sinônimo de beleza e, com isso, modificar a própria imagem da cidade. Entre as várias propostas levantadas estava a realização de compras conjuntas. As empresas se juntariam em uma única empresa e comprariam juntas as matérias-primas e os insumos, o que diminuiria os custos de produção.

O polo durou bastante tempo, até que os empresários entraram em conflito entre si e o polo de cosméticos perdeu força. O polo de cosméticos chegou a ser o segundo maior dentro do Brasil, perdendo somente para o da Capital.

Em entrevista que dei ao Observatório da USCS, realcei que não é fácil analisar o futuro da indústria química, que muda muito rapidamente. Tomemos o caso de três grandes empresas internacionais alemãs que havia: Basf, Bayer e Hoechst. Eram três grandes corporações. A Basf e a Bayer ainda existem, mas a Hoechst foi se dividindo e acabou. Se pegarmos as grandes indústrias farmacêuticas internacionais, quase nenhuma mais existe. Grandes fusões e aquisições são a tendência. Se tomarmos o caso das indústrias de tintas hoje, no Brasil, o grupo internacional AkzoNobel, que é um grupo holandês, comprou as Tintas Ypiranga, as Tintas Wanda, as Tintas Coral e o Verniz Sparlack. Tudo agora é pertencente ao grupo. A Sherwin-Williams comprou a Lazzuril, Tintas Globo e Novacor e virou outra empresa. Poucas empresas possuem várias marcas. Mais exemplos: a Colgate comprou a Kolynos, que acabou se concentrando num único setor, o de creme dental. A Solvay comprou a Rhodia. São grandes empresas que vão se fundindo e se internacionalizando. É claro que o fim disso, infelizmente, tem sido o desemprego e o fechamento de unidades.

Na indústria química, o setor plástico é um dos mais importantes. Esse ainda não foi automatizado completamente. Ainda não se escuta falar em fusões no Brasil. Está bastante concentrado em São Paulo, com especial destaque para o Grande ABC, Campinas e Osasco. Entretanto, quando essa empresa nacional começar a automatizar e se juntar – até por necessidade de sobrevivência – haverá uma grande perda de empregos; novos polos surgirão, como é o caso de Anápolis, que está concentrando parte do setor farmacêutico. Há muitas empresas, por exemplo, estudando a transferência para o Paraguai. O setor de plásticos tem sido incentivado a esta decisão até mesmo pelo próprio presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, a Abiplast. Em reportagem, ele disse que lá os custos são bem menores, há terreno de sobra, aqui os impostos são muito altos e outro conjunto de coisas, como a própria econômica brasileira, o que reforça o argumento de que o Paraguai seria uma opção interessante para as empresas. Há governadores de províncias do Paraguai que vêm para cá com vistas a assediar os empresários com esse intuito. Com o just-in-time, pode-se trazer o produto pronto do Paraguai para cá no tempo e na quantidade certos. Não vai ter muita dificuldade. Isso sem contar que o custo do terreno daqui é maior, assim como o custo de energia, de água e uma série de outros itens.

Uma das grandes batalhas que travamos foi exatamente a da necessidade de ampliação do polo, com vistas à sua ‘sobrevivência’. Quando se tem um polo petroquímico, tem-se também uma indústria química do lado. O Pólo Petroquímico de Capuava está localizado em uma região bastante populosa, com muitas residências próximas. No polo da Bahia ainda não é assim e o do Rio Grande do Sul, menos ainda. É bem afastado.

Se o Grande ABC perde o polo petroquímico, ‘fecha para balanço’. Isso será pior do que uma montadora de veículos sair da região. Toda a indústria depende do polo, inclusive o setor automotivo. Temos aqui uma indústria que se chama Oxiteno. Ela fornece todo o princípio ativo que você imaginar – da alimentação aos produtos de higiene, como xampu, tintas, fluído de freio etc. Quando uma empresa desta vai embora de uma determinada região, outras indústrias vão também, porque elas precisam do polo petroquímico para fazer os seus produtos.

É essencial que atores e instituições públicas e privadas do Grande ABC discutam uma política de apoio à indústria química, cujo resultado seja a continuidade e o fortalecimento de sua contribuição para o desenvolvimento regional. 

*O conteúdo desta coluna foi elaborado pelo presidente da Associação Art do Saber e entrevistado convidado do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Paulo Lage.




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