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Busca por crédito cresce 20% em São Bernardo

Na região, procura se elevou em 8%, puxada por
desemprego em alta e renegociação de empréstimos

Flavia Kurotori
Gabriel Russini
20/09/2017 | 07:17
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Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas


A demanda por crédito em São Bernardo cresceu 20% no primeiro quadrimestre, quando comparado aos quatro meses imediatamente anteriores. O aumento supera elevação de 8% observada no Grande ABC. O valor emprestado no município de janeiro a abril girou em torno de R$ 17.443,37, 7,1% mais que a média da região, de R$ 16.204,18.

A quantidade de meses que as pessoas levam para quitar o montante devido também é um pouco maior em São Bernardo, de 27 meses, ante média de 26,5 meses em seis das sete cidades - exceto Rio Grande da Serra. Os dados foram levantados com exclusividade para o Diário pela plataforma digital de crédito Geru, que não revela números absolutos de contratos – veja mais informações na arte ao lado.

Na avaliação do coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio, o aumento mais intenso na busca por crédito pode estar atrelado ao tamanho do município. “É a maior cidade da região, a que tem mais habitantes, além de toda a estrutura industrial que possui, principalmente no setor automobilístico, que embora agora mostre sinais de melhora, foi bastante abalado pela crise. O que torna o resultado compreensível.”

Ainda segundo o economista, apesar da desaceleração no ritmo de demissões nas sete cidades, há muitas pessoas desempregadas e endividadas que, muitas vezes, acabam vendo o empréstimo como a melhor alternativa. Para se ter ideia, conforme dados do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), de janeiro a agosto a indústria eliminou 3.400 postos de trabalho na região – em igual período de 2016 eram 14.850 –, sendo 2.600 deles em São Bernardo.

“A procura por empréstimos para pagar outros empréstimos é algo que tem crescido muito, principalmente em cenário de dificuldades”, afirma o educador da DSOP Educação Financeira no Grande ABC, Edward Cláudio Júnior. De fato, conforme a pesquisa da Geru, 47,1% dos tomadores de crédito o buscam para refinanciar dívidas. “A prática, porém, faz com que as pessoas se afundem (nas dívidas) ainda mais.”

Outro fator observado por ele como cada vez mais frequente é o de pessoas que acumulam mais de um empréstimo, chegando a comprometer até 80% da renda mensal. “O endividamento costuma variar de acordo com o momento da vida da pessoa, se ela é casada e tem filhos, ou se é solteira, porém, o ideal é que não sejam comprometidos mais de 30% da renda mensal.”

O perfil do tomador de crédito da região é composto, principalmente, por casados (49%) com Ensino Superior completo (44,5%), apontam dados da Geru. Na avaliação do economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, “os casais possuem mais compromissos familiares do que uma pessoa solteira. Com o dispêndio maior com a casa e os filhos, a tendência é que eles recorram aos empréstimos”, o que é reforçado caso um deles tenha perdido o emprego.

Quanto aqueles que possuem o Ensino Superior completo, o economista aponta que as pessoas com essas características possuem mais facilidade na hora de solicitar e obter empréstimos. “O nível de instrução, no entanto, não é reflexo de uma vida financeira equilibrada”, avalia.

De acordo com a Geru, o maior valor emprestado está em São Caetano, com R$ 21.530,87 – 24,73% maior do que a média regional. Já em Ribeirão Pires se tem a quantia mais baixa – R$ 10.913,57 – 48,48% menos. Na cidade também foi notada a menor demanda por crédito, com alta de 5% no quadrimestre, frente aos quatro meses anteriores.
 

Empréstimo é saída para trocar taxa de juros

Recorrer a empréstimos em instituições financeiras é saída apenas em casos de trocar a dívida mais cara por outra de taxa menor, orienta o educador financeiro da DSOP no Grande ABC, Edward Cláudio Júnior.

Por exemplo, a do cartão de crédito, em que os juros médios são de 13,34% ao mês, enquanto que a de empréstimo pessoal em bancos gira em torno de 4,27%, segundo dados da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) referentes a julho.

Quem utilizou o recurso com essa finalidade para sair do sufoco foi o são-bernardense Cleber Oliveira, 28 anos. Após 20 dias postergando o pagamento de fatura de cartão de crédito, decidiu procurar o banco. “Peguei R$ 1.400 de empréstimo para abater fatura do cartão de crédito de cerca de R$ 1.000. Se eu tivesse pago o valor mínimo e negociado direto com o banco, teria desembolsado o dobro”, conta.

Conforme exemplifica Cláudio Júnior, considerando juros de 9,5% ao mês, em um ano uma dívida de R$ 1.500 no cartão pode chegar a R$ 3.600.

CORDA NO PESCOÇO - Caso a pessoa tenha acumulado dívidas e não tenha condições de arcar com o pagamento, o orientador financeiro recomenda que ela permaneça negativada por um tempo. “Vale fazer uma faxina nas despesas, mantendo somente os pagamentos de contas básicas, como água, luz e supermercado, por exemplo, e procurar meios de aumentar a renda”, aponta. “Se isso não for possível, tente guardar o máximo possível por alguns meses. Quando tiver valor considerável, vale procurar as instituições financeiras e renegociar os débitos à vista”, explica ele, ao afirma que, com a quantia em mãos, a negociação é mais fácil.
 




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